ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um dos membros das forças de segurança presos acusados de crime ambiental e corrupção na venda de terrenos clandestinos em área de preservação de mata atlântica, em Cotia, foi encontrado morto nesta quarta-feira (29). O investigador Elias Barbosa dos Santos, de 50 anos, de Embu das Artes, detido no presídio da Polícia Civil, teria se suicidado. A operação contra o esquema criminoso que envolve agentes e servidores públicos ocorreu na sexta (24).
O Gaeco (grupo de combate ao crime organizado), do Ministério Público de São Paulo, junto com equipes da polícia e das corregedorias das polícias Militar e Civil, cumpriu 10 mandados de prisão preventiva e 19 de busca e apreensão. O esquema criminoso era encabeçado pela facção que atua dentro e fora dos presídios paulistas. Advogado do bando, Gilberto Alves de Oliveira, era o coordenador. A fraude só deu certo graças à corrupção de agentes públicos.
A venda dos terrenos ilegais rendeu mais de R$ 124 milhões para a quadrilha em quatro anos, desde 2018. Os promotores fizeram buscas na casa dos secretários municipais de Cotia Vitor Marques (Assuntos Jurídicos) e Gustavo Fernando Gemente Nascimento (Meio Ambiente), e do então secretário Sérgio Henrique Clementino Folha (Habitação), hoje vereador da cidade. Na casa de Marques e Clemente, o Gaeco apreendeu R$ 122 mil em dinheiro.
As investigações apontam que Marques era um dos interlocutores com o grupo criminoso. Os suspeitos se reuniam com o secretário, a quem chamavam de “procurador”, para buscar informações privilegiadas para o loteamento. “Há fortes indícios de que Vitor Marques […] integra a organização criminosa, tendo se reunido com o advogado do grupo criminoso para tratar da regularização da área ilegalmente invadida do Parque das Nascentes”, diz relatório do MP.
“A organização criminosa tem um núcleo jurídico, um político e um de comercialização dos lotes, como se fosse a base da pirâmide, que teria imobiliárias envolvidas. Os secretários estariam envolvidos no pagamento de propina, em contrapartida ao favorecimento de informações e afrouxamento de atuações do poder público na fiscalização”, disse a promotora Roberta Amá Ferrante Alves, sobre a operação. Os terrenos eram vendidos por cerca de R$ 20 mil.
Um dos envolvidos no esquema citou o prefeito de Cotia, Rogério Franco (PSD). Em áudio para o advogado da facção, disse que foram pagos R$ 220 mil de propina por um intermediário de nome “Kaká”, “sendo o prefeito o beneficiário”. “Em contrapartida ao pagamento indevido, seria afiançada pelo chefe do poder executivo municipal a garantia e segurança de que nenhuma ação de fiscalização seria desencadeada na região”, diz o MP. Franco nega as acusações.
Das 17 nascentes existentes na área, sobraram três. O advogado da facção e o secretário jurídico são procurados. O prefeito não foi alvo da operação. Seis pessoas foram presas, entre elas um policial militar ambiental. Segundo o MP, o cabo Rodrigo Guerreiro orientava os invasores a desmatar a área de madrugada. Santos, o policial civil, cobrava propina para não investigar o crime ambiental. O investigador também tinha exigido dois lotes – para ele mesmo.