ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Indiciado por injúria racial por falar a funcionário de condomínio que “negro fede”, no Rio de Janeiro, e processado por xingar médica de “puta” e “vagabunda”, em Santa Catarina, o presidente da Câmara de Embu das Artes, Renato Oliveira (MDB), recorreu nesta quarta-feira (18) ao “factoide” de que Abidan Henrique (PSB) “invadiu” o gabinete de um colega e requereu a cassação do vereador, em “clara” perseguição ao autor do pedido para ser investigado.
Furioso ao ser alvo de pedido para deixar a presidência, aprovado na sessão passada, Renato disse que Abidan invadiu o gabinete de Sander Castro (Podemos) durante reunião dos vereadores governistas com a procuradora da Câmara para a qual “não era convidado” e “gritou e pressionou” para “retornarem ao plenário”. Ele chegou a alegar que como Abidan “ficou impedindo o desfecho da reunião” o grupo não pôde participar da votação do requerimento.
Renato ainda responde por peculato, por ter usado carro oficial no Rio. Em sessões anteriores, ele tinha “lançado”, sem provar, que Abidan também tinha feito uso de veículo da Câmara em viagem particular. Mas, curiosamente, não citou o alegado ato ielgal no requerimento – ele tem histórico de forjar situações e criar falsas histórias para escapar das confusões que cria, como no próprio caso no Rio – disse que foi à cidade com o automóvel funcional “a trabalho”.
Abidan rechaçou a “denúncia”, ao se referir ao requerimento que apresentou pela destituição de Renato. A votação teve respaldo da procuradora, após os vereadores da base do prefeito Ney Santos (Republicanos) e aliados de Renato abandonarem a sessão para não ter quorum. Os governistas ficaram irritados com o aval da servidora efetiva. Antes, o diretor-jurídico Francisco de Souza, cargo político de Renato, tentou obstruir, mas os dissidentes não permitiram.
“O senhor deveria ter vergonha. Esse requerimento é uma verdadeira piada com a população. Presidente, o senhor aqui já mandou vereador calar a boca, aprontou tudo que aprontou no Rio e em Santa Catarina, vereadores ficaram se ameaçando a todo momento no plenário. E o senhor está dizendo que eu [cometi quebra de decoro] por ter entrado naquela reunião, em que, na verdade, vocês estavam acuando uma funcionária pública”, disse Abidan.
Ele explicou que, com a interrupção da sessão – provocada pelos aliados de Renato ao se evadirem -, foi ouvir a procuradora sobre prosseguir com a votação. “Ela não é advogada dos senhores [somente dos governistas], fomos lá requerer a presença dela para debater o problema. O que os senhores estão fazendo é perseguição política. Querem cassar um vereador jovem, periférico, preto que está aqui tentando lutar por justiça. Isso é um absurdo!”, protestou.
“Parece que está tudo invertido nesta cidade, quem apronta, faz arruaças se dá bem, e agora querem tirar o único vereador de oposição que está denunciando tudo isso. Aos que votaram em mim e apoiam as denúncias que fiz, estão tentando me destituir do meu mandato. […] Quando vocês pegaram a procuradora para respaldar a obstrução que estavam tentando fazer, eu fui contra. O senhor está mentindo ao dizer que gritei, bati em porta”, reagiu Abidan.
Mesmo após voltarem a sentar com Ney, os dissidentes – Índio Silva, Gideon Santos (Republicanos), Adalto Batista (PSDB), Bobilel Castilho (PSC), Alexandre Campos (PTB) e Joãozinho da Farmácia (PL) – votaram contra o requerimento pela cassação do opositor. Mas os governistas – Cesar Begali, Gilson Oliveira, Dedé (Republicanos), Abel Arantes (PL), Gerson Olegário (Avante), Betinho Souza (PSD), Luiz do Depósito e Aline Santos (MDB) -, maioria na Casa, aprovaram.
Os governistas não justificaram o voto, diante de requerimento considerado “injusto”. A novidade entre os votantes foi Cesar Begali, que em nova manobra de Ney assumiu a vaga de Ricardo Almeida (Republicanos) para ajudar a livrar Renato da cassação – Ricardo era a favor que Renato perdesse o mandato por injúria racial. Cesar é só o segundo suplente, mas herdou a vaga, já que Rosana Almeida evitou assumir. Na sessão, ela alegou “motivos particulares”.
Renato deu o tom do ataque a Abidan já no início ao apresentar uma ata com omissão ou manipulação de fatos da sessão anterior. Elaborada pela “equipe” do diretor-geral da Câmara (cargo político do presidente), Felipe dos Santos – que agora é advogado -, segundo Renato, a ata citou apenas um suplente foi convocado, quando foram dois; o vice Gerson não foi impedido de retomar os trabalhos, mas se evadiu; e a sessão tinha quorum registrado para continuar.