ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
ENTREVISTA DA SEMANA | A decisão de Aprígio (Podemos) de paralisar a obra do Complexo da Mulher – para abrigar a Coordenadoria dos Direitos da Mulher, a Delegacia da Mulher e o Conselho Tutelar – é um “pecado” e evidencia a “falta de vontade política” do prefeito, diz a deputada estadual Analice Fernandes (PSDB), “mais indignada” por Aprígio ser construtor. “Não houve falta de recursos. Material aumenta. E ele não pensa nisso, só sabe criticar”, declara.
Sobre outras obras iniciadas por Fernando Fernandes (PSDB), Analice diz que Aprígio “paralisou tudo” ao alegar que íamos “colher frutos”. “Não está preparado para a vida pública.” Fala que a gestão não quer ajuda, inclusive “ameaça”, em alusão a ataques até de secretários. Ela reprova ainda que Aprígio abandonou o Centro de Referência da Mulher. “Será que as mulheres não merecem atenção especial por parte dele? Fica a pergunta para que possa responder.”
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VERBO – Vai para novo mandato, nova campanha [a deputada estadual]?
Analice Fernandes – Sem dúvida, vou sim. Aliás, a minha trajetória me empurra sempre para essa condição. Eu trabalho muito e gosto de fazer a política do bem, a política que ajuda as pessoas a ter esperança no coração, apesar de estarmos vivendo dias muitos difíceis, em todo os sentidos, em termos inclusive do governo federal, muito ausente do Estado de São Paulo. Mas temos aqui, em São Paulo, um governo muito atuante, muito presente, que tem demonstrado capacidade de gestão e habilidade no trato com todos os partidos políticos, tanto que o nosso governador fez um arco de alianças poderosíssimo e capaz de vencer. Eu acredito tanto na competência do Rodrigo Garcia que acredito até numa vitória no primeiro turno em São Paulo.
VERBO – O Podemos, partido do prefeito de Taboão, está no arco de alianças do pré-candidato [a governador] Rodrigo Garcia. A senhora vai estar no mesmo palanque, possivelmente, de Aprígio?
Analice – Eu estarei no palanque sempre com o meu governador, que é Rodrigo Garcia. Aliás, por onde ele passar. Eu pensaria muito pequeno e curto, politicamente falando, se não subisse no palanque onde o governador Rodrigo Garcia estivesse por conta de outras pessoas. Eu já estive com vários políticos, desde que aquilo que estejamos falando seja o que defendo na minha vida pública.
VERBO – Eu vi que ontem, quarta-feira [20 de abril], a senhora fez uma nova postagem sobre o Complexo da Mulher, dizendo que destinou cerca de R$ 2 milhões e que a obra foi paralisada pelo governo Aprígo. O que acha dessa situação?
Analice – Eu acho lamentável. O Complexo da Mulher é um sonho que todas nós acalentamos no coração. Aliás, existe hoje – não [apenas] em Taboão, em São Paulo, é no Brasil e no mundo – uma movimentação muito forte nessa direção, de fortalecimento, de apoio, de busca por igualdade, por combate à violência contra a mulher. E o Complexo da Mulher vem também com essa conotação. Além de dar toda uma estrutura, você ampara a mulher vitimizada. Então, é um pecado, aqui em Taboão trabalhamos tão seriamente para que isso pudesse acontecer. Foi feito um projeto até audacioso na época, com várias autoridades participando – conselheiras tutelares, Delegacia da Mulher (a delegada à época participou conosco), a Coordenadoria da Mulher, secretária de Saúde, secretário de Negócios [Assuntos] Jurídicos – para que pudéssemos atender a mulher vítima, uma delegacia com todo suporte técnico, juntamente com o Conselho Tutelar, todo o atendimento a essa mulher em um único local. Hoje, Taboão da Serra tem um problema muito sério: mesmo sem ter [praticamente] espaços apropriados para dar toda essa acolhida a essas mulheres, pensamos em trazer tudo para um único local, inclusive a atenção jurídica para aquelas que também precisassem de orientação no caso de alguma questão familiar. Infelizmente, ele [Aprígio] também paralisou [entre outras]. Ele alega falta de recursos. Não houve falta de recursos. E o que mais me deixa indignada é que ele lida com obras públicas, ele é um construtor, e sendo um construtor sabe perfeitamente que, no dia a dia, material de construção custa, aumenta, o preço do ferro, das commodities ganha no mercado um valor cada dia mais alto. E ele não pensa nisso, só sabe criticar. Infelizmente, ele cobra insistentemente que eu não venho ajudando a cidade. Aliás, isso não é verdade – quero deixar muito claro. Eu sempre me prontifico e quero ajudar Taboão, e ele manda recado claramente para nós que, vindo do meu mandato, não quer nada. Ele sinalizou para vereadores – não vou citar nomes aqui. As pessoas se sentem constrangidas, coagidas, ameaçadas por esta administração e, claro, não têm interesse em trazer os recursos para cá por medo da administração, porque é perseguidora. Estamos vivendo um momento absurdo na nossa cidade, [pela postura] de uma pessoa autoritária, ditadora, que, infelizmente, carrega esse tipo de atitude ainda na gestão pública. É lamentável.
O VERBO – A senhora diria que a paralisação das obras é política?
Analice – Sem dúvida! Tem a questão política falando muito alto, infelizmente…
O VERBO – Ou seja, porque são obras com recursos [de emendas] da senhora e começadas pelo Fernando [ex-prefeito Fernando Fernandes]?
Analice – Isso: recursos da deputada Analice, começadas na gestão do Fernando. Ele paralisou tudo isso porque alega que vamos colher frutos se esses equipamentos públicos forem inaugurados a tempo do processo eleitoral. Quando pensa dessa maneira, infelizmente, a pessoa não está preparada para a vida pública.
O VERBO – A reforma do Centro de Referência [da Saúde] da Mulher também foi paralisada, aliás, foi abandonada, o prefeito vai abrir [o serviço] num outro equipamento, onde era o Pronto-Socorro [Infantil]. O que acha dessa mudança?
Analice – Imagine, tem um espaço já construído, preparado, organizado para funcionar ali, e muda para outro local em que tem que gastar mais dinheiro público, readequar, readaptar esse outro espaço. É lamentável. Ele fala tanto em falta de recursos e gasta dinheiro público criando outra coisa, sendo que poderia colocar em funcionamento rapidamente, se tivesse vontade política. Só faltou isso, vontade política na vida dele.
O VERBO – A reforma [do Centro de Referência da Mulher] também é recurso [de emenda] da senhora.
Analice – Sem dúvida. Desde a sua implantação! Foi um modelo em que nos baseamos no [Hospital] Pérola Byington [no centro de São Paulo], para dar todo o acolhimento e assistência às mulheres. Isso há 20 anos. Foi o primeiro que construímos, na região metropolitana, e agora realmente precisava de uma reforma. Infelizmente, não tivemos sucesso também nesse equipamento tão importante. Eu pergunto: será que as mulheres não são consideradas por esta administração, será que as mulheres não merecem uma atenção especial por parte dele [Aprígio]? Fica essa pergunta para que ele possa responder.
OUÇA ENTREVISTA DE ANALICE FERNANDES, SOBRE OBRAS PARA AS MULHERES PARALISADAS POR APRÍGIO
