ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Após “cooptar” três vereadores que tinham votado contra a criação da loteria municipal – depois de sofrer derrota mesmo com 16 membros da base aliada -, o prefeito Ney Santos (Republicanos) apresentou de novo nesta quarta-feira (6) o projeto de lei e conseguiu a aprovação com o voto dos parlamentares “submissos” ao Executivo e que negociaram “benesses” para mudar de posição. Outros então quatro governistas mantiveram a decisão de rejeitar.
Ao “desrespeitar” a Câmara e tentar passar “rolo compressor” para aprovar a loteria – sem discutir com a base -, Ney teve sete votos a favor, mas viu oito governistas serem contra, em 16 de março. Hoje, Gerson Olegário (Avante), Adalto Batista (PSDB) e Joãozinho da Farmácia (PL) votaram como o prefeito mandou. Na quinta (30), Ney reunira os três e Ricardo Almeida (Republicanos), e divulgado vídeo com os demais oito aliados para informar o “acordo”.
Votaram de novo contra a loteria os governistas dissidentes Bobilel Castilho (PSC), Índio Silva, Gideon Santos (ambos do Republicanos) e Alexandre Campos (PTB), além de Abidan Henrique (PSB), de oposição. Na ocasião da rejeição, quando oito da base eram contrários, um membro do grupo expressou receio em aprovar uma proposta “suspeita” – “caminho” para lavagem de dinheiro – e comentou que Ney já tinha arquitetado estrutura para “ganhar” com o jogo.
Apesar de votar apenas em empate, o presidente Renato Oliveira (MDB) foi à tribuna para defender o projeto. “Não há interesse da prefeitura em fazer um investimento e gastar dinheiro com operação de loteria. Há de arrecadar através disso. É muito melhor o recurso vir para a nossa educação, como está no projeto, para a saúde, o transporte urbano, para a nossa segurança, do que ir para a União [governo federal] e a gente sequer saber se volta”, discursou.
Abidan se opôs à proposta ao citar que o governo Ney é denunciado por desvios de recursos da saúde e da merenda escolar. “Será que a prefeitura tem condições de administrar um sistema de loteria? Será que uma cidade cristã, com o prefeito se dizendo evangélico, vai tolerar que a prefeitura incentive os jogos de azar? Não tenho outra palavra para descrever senão que este projeto é ‘porco’. Não traz qualquer processo de transparência, de regulação”, apontou.
Índio foi incisivo, ao citar ainda o pedido de cassação de Renato, ao acusar manobra para mudar a Comissão de Ética e enterrar a apuração. “Não vou pautar o assunto [loteria], já declarei meu voto e não irei voltar atrás. O funcionário da acusação [injúria racial contra Renato], Izaac, já foi mandado embora. Agora estão querendo mexer os pauzinhos aqui dentro. Aqui não tem pauzinho. Já falei: lotérica e assunto presidente Renato Oliveira, é ‘pau’ [cassação]”, disse.
A “loteria do Ney” acabou aprovada com 10 votos a favor. Ricardo não estava presente – ele recompôs com o governo após pressão por ser do mesmo partido de Ney, mas teria se ausentado para não votar favorável. Os outros três dissidentes, apesar de contra, evitaram se manifestar. Apenas Abidan justificou. “Quero dar o pesar para a Câmara. Essa loteria é mais um vespeiro. A justificativa de baixo orçamento e levar dinheiro para a saúde é balela”, criticou.
APÓS DERROTA, NEY ‘COOPTA’ 4 DOS 8 VEREADORES QUE VOTARAM CONTRA LOTERIA E CONSEGUE APROVAR