ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Há um ano, Taboão da Serra viveu uma tragédia sem precedentes em 63 anos de história: 11 pacientes com covid-19 morreram na UPA Akira Tada sem suporte de UTI (unidade de terapia intensiva) em apenas um fim de semana. As mortes começaram na sexta-feira dia 5 de março. Mas somente 72 horas depois, em 8 de março, como hoje, a população foi informada do caos na saúde, sob o governo Aprígio (Podemos), que chegou a esconder o quadro.
Com a UPA com ocupação de leitos esgotada, o atendimento a moradores internados com coronavírus entrou em colapso sem vaga de UTI. Taboão se tornou a primeira cidade no Estado de São Paulo a registrar mortes de pacientes à espera de leito intensivo desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020. No dia 8, o governo ainda relatava nove óbitos. As primeiras vítimas, no dia 5, foram duas mulheres, de 76 e 73 anos, e dois homens, de 75 e 58 anos.
No sábado (6), morreram mais duas mulheres, de 95 e 74 anos, e um homem de 46. No domingo, veio a óbito um homem de 52. Na segunda (8), outro homem, de 72. O VERBO noticiou que dois pacientes à espera de UTI haviam morrido no sábado, após apurar, já que o governo Aprígio não divulgava boletim no fim de semana, apesar do agravamento da doença e colapso na saúde municipal, em deliberada falta de transparência – até hoje não informa.
Apenas após ser questionado, o secretário Mario de Freitas (Governo) confirmou as baixas. “Tivemos dois óbitos nesta manhã [de sábado]”, disse. Ele alegou não saber o perfil. “Agora não tenho essas informações. Amanhã passo para você”, disse. O repórter disse que ia publicar ainda no sábado. “Aproveita para dizer que o governo do Estado não libera vagas pelo sistema Cross há uma semana, estamos com 12 pacientes aguardando”, disse, contrariado.
Questionado sobre o perfil dos óbitos e também novos casos de covid, Freitas alegou não saber e prometeu que ia informar este portal no domingo. “Agora não tenho essas informações. Amanhã passo para você”, disse. O repórter disse que ia publicar sobre as mortes ainda no sábado. Contrariado, ele disse: “Então aproveita para dizer que o governo do estado não libera vagas pelo sistema Cross há uma semana, estamos com 12 pacientes aguardando”.
Este portal questionou o motivo de a gestão não informar sobre a alegada demora do Cross. Aí ele disse: “Não posso afirmar uma semana, mas há dias”. A reportagem falou: “Bom, aí tem que passar a informação correta”. Freitas prometeu de novo: “Se quiser nota oficial, na segunda-feira envio para toda a imprensa. Com detalhes…”. Ele não informou o perfil nem enviou nota nos dias prometidos. Aliás, quatro mortes tinham ocorrido já na sexta, mas omitiu.
O governo Aprígio voltou a divulgar boletim na segunda-feira, mas sem citar ou esclarecer nenhuma das nove mortes confirmadas. Contudo, mais dois pacientes que estavam internados com covid-19 na UPA – uma mulher de 75 anos e um homem de 71 – morreram sem suporte de UTI e passaram a ser 11 no total. A gestão informou na terça-feira (9), mas disse que os novos óbitos ocorreram no fim da tarde da segunda, porém no dia 8 informava que eram nove.
À imprensa, a secretária-adjunta Thamires May (Saúde) alegou que o Estado passou a negar vagas de UTI para Taboão em 3 de março, mas o VERBO revelou mensagens em que a adjunta dizia que os pacientes já estavam sem leito intensivo três dias antes – a subsecretária, que integrou a gestão caótica do governo Ney Santos (Republicanos), de Embu das Artes, tem como “experiência” sonegar informações (o titular José Alberto Tarifa se recuperava da covid).
Em 6 de março (sábado), Thamires escreveu, em um grupo de WhatsApp de membros da saúde: “Temos 39 pacientes internados neste momento, tivemos 1 alta. [Então] 9 estão na sala de emergência e 29 nos leitos de enfermaria. 7 pacientes entubados. 11 pacientes aguardando liberação do cross”. Depois, ela fez a afirmação contraditória: “Temos paciente esperando transferência desde 28.02 e Cross negando todas as vagas por superlotação de leitos”.
Portanto, em 6 de março, três dias depois de quando, conforme declarou na entrevista, os pacientes passaram a não ser transferidos, Thamires disse que os internados na UPA estavam sem atendimento de UTI desde 28 de fevereiro – e não desde 3 de março. Ou seja, ao dizer publicamente que passou a ter a solicitação de vagas não atendida no dia 3, ela teria demorado três dias para pedir as remoções, agravando mais o quadro dos doentes em estado crítico.
O governo municipal “culpa” o sistema Cross pelos 11 pacientes terem morrido na fila. Contudo, dois dias depois do balanço trágico, Aprígio se recusou a participar de reunião no Estado para pedir UTI para Taboão por “picuinha” política, ao ver o ex-prefeito Fernando Fernandes (PSDB) na sala – capítulo à parte da gestão errática do prefeito na pandemia. Com as vítimas em série, Taboão somou 422 óbitos. Hoje, um ano depois, tem mais que o dobro – 949.