ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Moradores negros e militantes antirracistas realizaram um ato contra o racismo e em repúdio ao presidente da Câmara de Embu das Artes, Renato Oliveira (MDB), nesta quarta-feira (2), em frente ao Legislativo. Os manifestantes não puderam entrar na Casa por conta de que o vereador mandou fechar os portões. Renato ordenou a sessão online sob alegação de evitar casos de covid-19, mas barrou o público após ser alvo do protesto organizado.
O ato foi idealizado para repudiar a ofensa racista proferida por Renato contra um funcionário de condomínio no Rio de Janeiro no qual passava férias, no último dia 23. O vereador disse ao supervisor do residencial Izac Gomes que “não falo com negro, negro pra mim fede”, segundo a denúncia. O vereador Abidan Henrique (PDT), o único membro da oposição, não participou da sessão sem público para estar na manifestação em que pediu a cassação de Renato.
“O movimento negro não vai admitir que a maior autoridade do Legislativo da cidade tenha atos racistas, ofenda a integridade do povo preto, o Izac foi um guerreiro ao denunciar tudo o que aconteceu com ele. O que Renato fez foi inaceitável, ele não representa a nossa cidade, nossa cultura, o povo preto, por isso a gente está pedindo a cassação do presidente da Câmara. Na semana passada, eu já fiz o pedido formal, na Comissão de Ética”, disse Abidan.
O vereador também chamou a atenção de que a reportagem do “Fantástico” (TV Globo) sobre o caso mostrou que Renato foi à capital fluminense com veículo da Câmara. “O presidente foi ao Rio em viagem de férias, de lazer, de curtição com carro oficial, ou seja, com dinheiro público. Ele vai responder também por improbidade administrativa e peculato. Esse pedido de cassação está muito bem embasado, não tem mais para onde ele correr”, afirmou.
Abidan definiu ainda o ato de Renato de suspender as sessões presenciais de “covarde”. “Ele fez uma manobra política para tornar as sessões online. Os vereadores estão em casa, alguns vieram para a Câmara, mas estão em seus computadores. Eu decidi não ir para a sessão como forma de protestar contra o racismo, o uso do dinheiro público para viajar e essa medida autoritária de fazer a sessão online. Ele está fugindo da população”, afirmou.
A ex-veredora Rosângela Santos (PT), ao microfone, chamou Renato de “racista”. “Ele está levando nossa cidade como vergonha para fora de Embu das Artes”, discursou. Em “live”, ela disse ainda que o vereador teve uma postura “totalmente vergonhosa” e “com essas ações criminosas não representa a nossa cidade”, ao indicar que Renato será indiciado, além de injúria racial, por desobediência, resistência e desacato. “Cassação para Renato já!”, falou.
A candidata à prefeita de Taboão da Serra em 2020, Najara Costa (PSOL), também participou do protesto e discursou contra a atitude de Renato. Em uma rede social, ela publicou que “realizamos um ato pela cassação do vereador e presidente da Câmara de Embu das Artes, Renato Oliveira (MDB), por quebra de decoro parlamentar. […] Racismo é crime! Diga não à impunidade!”. Uma criança, negra, mostrou o cartaz “Direitos iguais, diga não para o racismo”.
O ato foi organizado pelos movimentos negros do município, como o Núcleo Cultural Hip-hop de Embu, Círculo Palmarino, UneAfro – Núcleo Raquel Trindade, Coalização Negra por Direitos, e Setorial de Combate ao Racismo do PT de Embu. Os ex-vereadores de Embu professor Toninho (PSOL) e Edvânio Mendes (PT) também participaram do protesto. Os manifestantes repudiaram ainda o assassinato do imigrante congolês Moïse Mugenyi, no Rio.
Durante a manifestação, os vereadores da base do governo Ney Santos (Republicanos) realizaram a sessão online, conduzida por Renato, “afilhado político” do prefeito. Os governistas calaram sobre a grave acusação de injúria racial contra o presidente, como se nada tivesse acontecido, mesmo diante da “viralização” dos vídeos de Renato sendo preso e a forte repercussão em sites e telejornais sobre “o político de Embu que se envolveu em confusão no Rio”.
A Câmara não informou a população com antecedência sobre a sessão virtual e só divulgou na internet quando faltava meia hora para o início, além de fechar o prédio durante o ato. Sem público, os vereadores aprovaram projeto de lei “inútil”, o que cria o “Dia Municipal do Café com Pagode”. “Parabéns à Câmara pelo projeto aprovado nesse momento, irá favorecer os mais de 300 mil habitantes de Embu das Artes”, ironizou o morador Carlos Eduardo Silva.