ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito Ney Santos (Republicanos) disse no sábado (1º) que enviou duas carretas de alimentos a desabrigados pelas chuvas em Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador). Com 153 municípios em situação de emergência na Bahia devido às cheias, ele não teria escolhido a cidade por acaso. A polícia baiana realizou no ano passado operação contra o tráfico de drogas e armas em fazenda em que Ney estava na região e o acusa dos crimes.
Na última terça-feira (28), Ney anunciou que não ia “ficar de braços cruzados vendo o sofrimento de milhares de irmãos da nossa querida Bahia, que teve mais de 100 cidades atingidas violentamente pelas enchentes”, sem dizer para qual região ou cidade enviaria os mantimentos. Na quarta (29), disse que a montagem das cestas estava “a todo vapor”, sem ainda mencionar o destino. No dia 1º, ele postou vídeo das doações já na cidade escolhida.
“As duas carretas com 50 toneladas de alimentos chegaram ao destino, meu muito obrigado a todos que contribuíram. Quero demonstrar minha admiração à prefeita de Vitória da Conquista, Sheila Lemos, pois neste momento tão difícil tem demonstrado a força da mulher e realizado um ótimo trabalho”, postou Ney, que disse que a ação “não contou com recursos públicos”, só doações. No vídeo, a prefeita agradece pelo envio de 25 toneladas.
Interlocutores do governo Ney dizem, no entanto, que a escolha da cidade não foi aleatória. “Olha para onde foram as carretas de alimentos: Vitória da Conquista. Coincidência né?”, disse uma liderança de Embu. Segundo relatos, além de estar interferindo na política local em favor de aliados, Ney estaria, com a “caridade voluntariosa”, buscando “blindagem” de autoridades da região para não ser atrapalhado nos “negócios” no território baiano.
Em 17 de junho do ano passado, a Polícia Civil da Bahia apreendeu um avião, uma pistola calibre 380, uma carabina calibre 22, cerca de 250 munições e ainda R$ 674 mil em espécie em uma fazenda no município de Encruzilhada, que faz divisa ao sul com Vitória da Conquista. Durante a operação policial, Ney, que estava no local, alegou que a propriedade era do irmão, Aguimário Alves dos Santos, de 52 anos, e que não sabia ao certo a origem do dinheiro.
Contudo, segundo a polícia, o imóvel pertence a Ney e “avião transportando drogas e armas de fogo pousa, em dias incertos da semana, porém cerca de duas vezes ao mês, na pista clandestina da fazenda de Ney Santos”. Conforme a investigação, as drogas e armas “são armazenadas na fazenda de Ney e em seguida distribuídas para criminosos que atuam na região, onde vêm ocorrendo vários homicídios relacionados à disputa do tráfico de drogas”.
Quatro horas e meia depois que Ney pousou na fazenda, os policiais chegaram ao local. Conduzido à delegacia, Ney depôs que o irmão estava em São Paulo, mas não o acompanhou “porque tinha compromissos e também está vindo com outras pessoas e o avião não caberia”. Para justificar que a fazenda é do irmão, ele alegou que possui muitos porta-retratos na propriedade por conta de que o familiar “tem muitos contatos com os filhos” dele.
OUTRO LADO
Questionado pelo VERBO se escolheu Vitória da Conquista para enviar os alimentos por interesse político e para buscar “blindagem” para, segundo a polícia, atividades ilícitas na região, Ney foi agressivo. “Você deveria tomar vergonha na cara e fazer o mesmo, seu vagabundo. Não faz nada por ninguém e quer atrapalhar quem faz”, disse. A fazenda fica a pouco mais de uma hora do centro da cidade contemplada por Ney para receber as doações.