ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Em nova fase – a segunda – da “Operação Contágio”, a Polícia Federal apreendeu nesta terça-feira (23) uma lancha de luxo e cumpriu quatro mandados de prisão, em aprofundamento da investigação que apura desvios de recursos públicos na área da saúde de Embu das Artes, além de Itapecerica da Serra e Hortolândia (SP). Entre os alvos da ação, a PF prendeu dois médicos que dirigem organizações sociais privadas acusadas do esquema criminoso.
Além das ordens de prisão, a PF cumpriu 20 mandados de busca e apreensão, em que chegaram até a embarcação de lazer, mas não só. Na casa de um dos médicos, os agentes federais encontraram R$ 200 mil em espécie. A Justiça determinou também o bloqueio de R$ 40 milhões que eram movimentados pela quadrilha e a suspensão da atividade econômica de parte das empresas subcontratadas que seriam utilizadas para a prática de crimes.
A investigação começou após a Controladoria Geral da União (CGU) identificar que uma organização social (OS) sem capacidade técnica foi contratada com indícios de fraude e direcionamento para prestação de serviços de saúde, a Associação Metropolitana de Gestão (AMG), que assumiu unidades de urgência e emergência principalmente em Embu. Alguns contratos foram firmados emergencialmente para gestão e atendimento de pessoas com covid-19.
A Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros identificou que a AMG subcontratava diversas empresas para execução dos serviços, algumas constituídas poucos meses antes da assinatura dos contratos e também sem experiência na área de saúde. O esquema consistia no superfaturamento do fornecimento de bens e serviços, como plantões médicos e medicamentos, além da realização de serviços simulados, como de assessoria.
Mesmo sem qualificação técnica, em menos de três anos, a AMG recebeu mais de R$ 300 milhões em recursos públicos. O dono da OS é um veterinário de 28 anos, recém-formado, morador de Presidente Bernardes (SP), conforme denunciara o morador de Embu João da Paixão quando a OS assumiu, além dos pronto-atendimentos, o hospital de campanha de Embu – alardeado pelo prefeito Ney Santos (Republicanos) como pioneiro contra covid.
Na deflagração da primeira fase, em 22 de abril deste ano, a PF cumpriu 38 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão. A investigação descobriu que algumas das empresas subcontratadas, após os repasses de recursos pela OS, fizeram centenas de saques em espécie que somam mais de R$ 18 milhões. Um guarda civil de Cotia, sócio de uma das empresas, foi identificado de realizar a retirada do dinheiro da propina em caixas eletrônicos.
Um dos locais de busca foi a casa do ex-secretário da Saúde de Embu, em Pirapora do Bom Jesus. Na chegada dos policiais, segundo a PF, Raul Bueno tentou se desfazer de um notebook jogando no telhado. Hoje, ele é secretário de Planejamento – e convidado de passeios turísticos de Ney. Outros investigados apagaram as mensagens dos celulares antes da presença dos agentes, na tentativa de dificultar o acesso pelos peritos criminais federais.
Na nova fase, a PF foca a lavagem do dinheiro desviado pelas OSs e a reparação aos cofres públicos. “Observamos a atuação para desviar recursos na saúde, e ainda em momento crítico do enfrentamento da pandemia. Enquanto pessoas morrem por falta de estrutura e dificuldade de atendimento, empresas faturam milhões de reais, em prejuízo do atendimento da população mais carente”, declarou em abril o delegado da PF Marcelo de Carvalho.
OUÇA DEL. MARCELO DE CARVALHO, DA PF, NA 1ª FASE DA ‘OPERAÇÃO CONTÁGIO’ NA PREFEITURA DE EMBU