ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Uma moradora de Embu das Artes de 49 anos deu entrada na UPA Santo Eduardo no dia 29 de setembro com convulsão, mas o médico passou apenas um medicamento e mandou a paciente para casa ao dizer que ia dormir por 72 horas por conta do remédio. A merendeira Maria de Fátima Mourato tinha tido um AVC (acidente vascular cerebral) e, sem atendimento devido, morreu três dias depois, em terceiro caso de negligência da UPA em um mês.
Maria de Fátima estava no trabalho, na escola João Martins, quando passou mal. Socorrida à UPA, ela ouviu do médico que teve convulsão e foi medicada com “Fenitoina”. Ela ficou em observação e no dia seguinte, quinta-feira (30), foi liberada. “Alegaram que ela ia dormir por três dias”, conta o irmão Edmilson Mourato, ouvido pelo VERBO. Ela dormiu direto. A família estranhou e na sexta (1º) a levou ao Pronto-Socorro Antena, em Taboão da Serra.
Como o AVC exige intervenção rápida e adequada para sobrevida do paciente, o atendimento recebido na UPA de Embu foi fatal. Maria de Fátima morreu no sábado (2). Edmilson não tem dúvida de que a irmã foi vítima de descaso. “Negligenciaram a vida dela. Conversando com pessoas que entendem do assunto, eles deveriam ter entrado com anticoagulante, não com anticonvulsivo. O exame de sangue que fizeram demonstrava isso”, aponta.
Ao apontar outros casos de negilência, Edmilson gravou um depoimento diante da UPA para denunciar. “De forma errônea mais uma vez, mandaram minha irmã para casa, dizendo se tratar apenas de uma convulsão, não fizeram os exames devidos. No Antena, já chegou tendo de ser intubada, se tratava de um AVC hemorrágico. Com toda a luta dos médicos, ela ficou internada sexta o dia inteiro, noite e madrugada e veio a óbito de manhã”, relatou.
“Eles mandaram minha irmã para morrer em casa, porque mentiram para nós, falando que ia dormir três dias. Isso não existe”, conclui Edmilson. O desrepeito continuou. “O mais estranho é que fui requerer a cópia da ficha médica, e me negaram. Disseram que só depois de dez dias úteis”, acusa. A mãe do menino Luan, que também morreu após ser atendido na UPA de Embu, teria recebido a ficha logo depois. “Já comigo, não quiseram me dar”, conta.
A família vai mover um processo por justiça pela irmã. Para o irmão, o responsável pelo óbito de Maria de Fátima não é um indivíduo. “Sem sombra de dúvidas, não é uma pessoa só, não foi apenas um erro médico, porque não é um caso isolado. A irresponsabilidade é do governo municipal, da direção da UPA que, ao que parece, é uma empresa ‘quarteirizada’, e do próprio médico. Esses são os responsáveis pela morte da minha irmã”, afirma ele.
Edmilson é categórico em dizer que o prefeito Ney Santos (Republicanos) também é responsável. “Quando falo governo municipal, o prefeito é o primeiro incluso. Depois do caso do Luan, não era para acontecer mais negligência se tivéssemos um prefeito sério. Em reunião de um candidato amigo meu na época [da campanha], ele prometeu que a saúde ia ser a melhor, que não aceitava ter perdido o pai por negligência médica”, recorda.
“Hoje a saúde é a mesma porcaria. Parece que ele quer vingar a morte do pai dele nos munícipes”, afirma Edmilson. Maria de Fátima era muito querida no Jardim Independência, onde morava, e em muitos outros bairros, onde também atuava. “Com o dom herdado pelo falecido pai, no dia 12 de outubro ela se vestia de palhaça e no Natal, de Papai Noel, para levar alegria e presentes às crianças”, lembra o irmão. Casada, ela deixa dois filhos e uma neta.
OUTRO LADO
O VERBO questionou o prefeito – “a moradora Maria de Fátima deu entrada com quadro de AVC, mas teve receitado apenas um anticonvulsivo e foi mandada para casa com a alegação de que ia dormir por 72 horas por causa do medicamento; mas a paciente morreu três dias depois, com AVC hemorrágico. Mais um caso de negligência da UPA, prefeito? O que tem a dizer à família da Maria de Fátima?”. Omisso, Ney, de novo, silenciou.
VEJA IRMÃO FALAR SOBRE A MORTE DE MARIA DE FÁTIMA POR AVC APÓS SER ATENDIDA NA UPA DE EMBU
> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE