ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O vice-prefeito Hugo Prado (MDB) protocolou nesta segunda-feira (13) um pedido no Conselho Regional de Medicina (CRM) para que os médicos que atenderam Luan tenham o registro “cassado” – o menino de 11 anos morreu após diagnóstico errado da UPA Santo Eduardo. Porém, os pais e o advogado da família veem o ato como “enganação”, pelo governo Ney Santos (Republicanos) ter mantido a empresa sem capacidade técnica na saúde.
Em vídeo em rede social, ao lado da secretária Thais Miana (Saúde), Hugo falou em “punição exemplar”, mas chamou a morte da criança de “fatalidade”, em vez de negligência – Luan tinha apendicite, mas os medicos falaram que era gases. “Desde que recebemos a notícia do falecimento do menino Luan nos comprometemos ao lado do prefeito Ney Santos em apurar e punir exemplarmente os responsáveis por essa triste fatalidade”, disse o vice.
“Hoje entregamos o processo de investigação realizado pela empresa gestora da saúde na cidade e protocolamos no Conselho Regional de Medicina um pedido de cassação do registro dos médicos envolvidos no atendimento”, afirmou Hugo. Ele falou que Ney esteve na casa da família de Luan, como se o prefeito tivesse tomado a frente do caso e confortado os pais. “Três minutos de palavras é assistência?”, rechaçou a mãe da criança, Carla Gaspar.
Carla ficou indignada com o vídeo do vice, ao indicar “encenação”. “Eles acham que o choro dos meus filhos, do meu esposo, o nosso sofrimento todo vai passar assim? Jamais. Não me convenceu em nada, eles estão fazendo isso porque acharam que isso ia ser mais um caso esquecido. Mas não vai ser, não. A morte do meu filho não vai ficar impune, enquanto eu existir jamais. Você pode publicar todas as minhas palavras”, disse ela ao VERBO.
O vice ter “aparecido”, em vez de Ney ter “mostrado a cara”, chamou a atenção. Carla avaliou que o prefeito não está preocupado em melhorar a saúde. “Nunca. Não aconteceu com os familiares deles, né? Se possível, logo vou entrar ao vivo com repórter e ‘live’ para mostrar o caos que está a saúde de Embu”, disse. Durante manifestação em frente à UPA no último dia 28, ela teve informação de que “faleceu outra menina lá” com indícios de negligência.
Hugo disse que a “investigação” sobre a consulta ao Luan foi feita pela própria empresa que gerencia a UPA, além dos outros dois pronto-atendimentos da cidade. Em abril, a AMG (Associação Metropolitana de Gestão) virou alvo de operação da Polícia Federal por fraude na contratação e desvio de recursos públicos em Embu, pela organização não ter capacidade técnica para atuar na saúde – a OS tem como dono Fabio Omito, um veterinário de 28 anos.
Na ocasião, o chefe da operação da PF chamou a atenção para as consequências do ato de corrupção em Embu. “Observamos a atuação para desvio de recursos na área da saúde, e ainda em momento crítico do enfrentamento da pandemia. Enquanto pessoas morrem por falta de estrutura e dificuldade de atendimento, empresas faturam milhões de reais, em prejuízo do atendimento da população mais carente”, disse o delegado Marcelo Carvalho.
Na operação, a PF cumpriu 38 mandados de apreensão e chegou a prender cinco pessoas, entre elas o dono da OS e o ex-secretário de Saúde de Embu Raul Bueno. “O vídeo é um atestado de culpa. Eles [gestão Ney] escolheram a empresa, o secretário e o presidente da AMG foram presos, mesmo assim não rescindiram o contrato, movidos por interesses escusos que estamos pagando com vidas”, disse o advogado dos pais de Luan, Marco Aurélio do Carmo.