Questionada sobre vacinas e OS, gestão Aprígio persegue presidente de conselho

Especial para o VERBO ONLINE

Lopes, que denuncia sofrer perseguição do governo Aprígio para ser destituído da presidência do conselho e acusa Tarifa de ser o mentor | PMTS/Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Questionado pelo presidente do Conselho Municipal de Saúde sobre o desvio de vacinas, o contrato “suspeito” com a empresa admitida para atender no “PA da Covid” e o mau atendimento nas UBSs apontado pela população, o governo Aprígio (Podemos) está perseguindo o ocupante do posto, Ledivan Lopes. Na sexta-feira (27), a gestão comunicou que Lopes foi afastado, mas, conforme o VERBO apurou, fez uma manobra após ouvir cobranças.

Em informe à imprensa, o governo Aprígio diz que uma integrante do conselho, Edna Trindade, protocolou denúncia para apurar “responsabilidades técnicas e éticas do presidente”. Segundo o Executivo, Edna acusa Lopes de “conduta incompatível com a imagem e reputação, com ameaças de destituição de membros, sem amparo legal e do regimento interno em vigor”, e ainda “uso de informações privilegiadas em benefício próprio e de parentes”.

A gestão Aprígio diz que o documento foi recebido antes do início da 42ª reunião ordinária do conselho, na quarta-feira (25), lido para o colegiado e posto em votação, e com dez votos favoráveis a denúncia foi recebida “em desfavor” do presidente. Porém, este portal apurou que a denúncia foi apresentada depois que a reunião já tinha começado. Procurada pela reportagem, Edna respondeu, mas, indagada sobre as acusações contra Lopes, calou.

À imprensa, a Secretaria de Comunicação de Aprígio reportou a história “pela metade”, ao omitir, por exemplo, que Edna apresentou a denúncia após ser destituída do conselho conforme o regimento do órgão, no artigo 37, em entendimento pacificado. Como servidora que se aposentou, ela não pode mais representar no órgão o segmento dos trabalhadores. Acontece que Edna é aliada da vereadora Luzia Aprígio (Podemos), mulher do prefeito.

“Adecisão foi do conselho, não foi minha. Ela disse que eu estava agindo pela minha própria vontade, destituindo as pessoas sem consultar. É mentira. Está na lei, não posso fazer nada contra a lei. Ela representava o segmento, mas foi aposentada. Em troca de voltar, ela se voltou contra mim”, diz Lopes. Segundo ele, o secretário José Alberto Tarifa (Saúde) disse que a “lei é interpretativa”. “Ele fale isso para o juiz. A lei é para ser cumprida”, rebate.

O governo aponta que a votação a favor da denúncia foi legal, segundo a Comissão de Ética, composta por três conselheiros, entre eles o 2º secretário Edson Jerônimo de Souza, membro do Executivo. Mas o processo não teria sido regular. “Vieram com tudo, armados. O secretário foi o primeiro a votar a favor do meu afastamento. Quando um conselheiro votou para eu permanecer, o senhor Edson Jerônimo entrou em crise, questionou”, diz Lopes.

“Ele se alterou, ficou em pé, ficou toda hora passando atrás de mim. Eu me senti ameaçado. O que eu fiz? É uma prerrogativa do presidente: suspendi a reunião. Por falta de segurança. Aí ninguém aceitou, ninguém da parte deles [do governo]. Mas acabou o assunto”, relata Lopes, que nega estar afastado. “Estou na ativa. E vou juntar tudo o que eu tiver de prova e mandar para o Ministério Público. Mas é o Federal! Quero deixar bem claro”, afirma.

Lopes diz estar sendo perseguido pelo governo Aprígio e aponta Tarifa como o mentor. “Eu sou uma pedra no sapato deles, eu não posso falar da vacina que sumiu, dos R$ 3 milhões e meio do contrato da Prius, do colapso da saúde em março e abril que teve 12 óbitos [em apenas um fim de semana] por incompetência dessa gestão – falam ‘Foi culpa da Cross [regulação estadual de vagas de UTI]’, mas o município tem sua parcela de culpa”, afirma.

Os gestores da secretaria “ficaram quietinhos” sobre o contrato com a Prius, diz. “O Lopes não ficou quieto. Não posso prevaricar, minha obrigação é fiscalizar e vou fazer isso até o término do meu mandato, em 31 de dezembro. Qual o interesse do secretário em pedir a cabeça do presidente do coselho?”, diz. Segundo um comissionado de Aprígio, o governo pagou o valor integral apesar do fechamento do “PA da Covid” um mês antes do previsto.

OUTRO LADO
O VERBO questionou o secretário da Saúde: “O presidente Ledivan Lopes afirma sofrer perseguição política articulada pelo senhor para ser destituído do cargo. Ele afirma que o senhor pediu a cabeça dele por não aceitar cobranças de esclarecimento sobre o desvio de vacinas e o contrato ‘suspeito’ com a OS que atendeu no PA da Covid, na UBS Clementino desativada. O que tem a dizer a respeito?”. Tarifa preferiu permanecer em silêncio.

Jerônimo negou as acusações. “A única vez em que passei por detrás dele foi para ler a denúncia. E na votação não pode ter mais discussão. Quando falei que só votasse, os ânimos se exaltaram. Ele [Lopes] tem o costume de falar alto, fala que é por ser meio surdo, e falava com voz um tanto agressiva. Eu o reprimi”, disse. Indagado sobre o número de votos pró-denúncia, ele alegou entrar numa reunião, mas falou mais de 20 palavras e não respondeu.

OUÇA O PRESIDENTE DO CONSELHO DE SAÚDE DENUNCIAR PERSEGUIÇÃO PELO GOVERNO APRÍGIO

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