ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um menino de 11 anos morreu no sábado (21) após ter diagnóstico errado da UPA de Embu das Artes, onde chegou a ser atendido três vezes e por médicos diferentes. A unidade de pronto-atendimento no Santo Eduardo disse que Luan tinha “gases” e mandou para casa, mas a criança estava com apendicite que estourou sem tratamento adequado. A mãe denuncia negligência, diz que quer “justiça” para o filho e que a UPA é um “lixo”.
A moradora Carla Gaspar levou o filho para a UPA no domingo (15), já que Luan estava com a barriga “grande” e com dores. O menino foi medicado e retornou para casa. Na quarta-feira (18), ele voltou a passar mal e foi levado pela mãe novamente à unidade, de madrugada. Foi atendido por outro profissional e teve prescrito remédio. Pelo meio-dia, ainda em sofrimento, ele voltou à UPA e passou por raio-X. Um terceiro médico disse que era “gases”.
O médico receitou só “Luftal” por três dias. A mãe deu o remédio a Luan e esperou fazer efeito. Na sexta-feira (20), porém, o menino passou muito mal. “Aí eu não queria mais procurar a UPA, toda vez que eu chegava lá, eles deviam ter olhado o prontuário do menino e colocado na cabeça que era gases”, conta Carla. Ela levou o filho para o Pronto-Socorro de Itapecerica da Serra e ficou estarrecida diante do problema não detectado na UPA de Embu.
“O médico examinou meu filho e em três minutos disse o que era, ao simplesmente apertar a barriguinha dele. Ele falou: ‘Luan, se sentir dor, você me fala’. Na hora que ele apertou, o Luan sentiu dor. O médico falou: ‘Mãe, agora o Luan é nossa prioridade, ele está com apendicite, e o apêndice está estourado’. Eu falei: ‘Ele passou na UPA três dias e ninguém falou nada’. Ele disse: ‘Pois é, mas esse é o quadro. Vou encaminhar para cirurgia'”, conta Carla.
Em ambulância acionada e com uma equipe de enfermagem exclusiva, Luan foi encaminhado ao Hospital Geral de Itapecerica da Serra, às pressas. “Eu desabei, comecei a chorar, fiquei super desesperada. E o Luan, muito desidratado. Ele recebeu soro, mas começou a vomitar ‘preto’, na linguagem médica, que era sangue”, relata Carla. No HGIS, o infante paciente era esperado por oito especialistas, “uma equipe maravilhosa”, ressalta a mãe.
Com o diagnóstico de apêndice estourado confirmado, a equipe médica informou a mãe sobre a cirurgia para Luan. “Ele já estava muito debilitadinho”, diz Carla, com a voz embargada. Após duas horas de operação, o menino desceu para a UTI, intubado. “O médico falou: ‘O estado dele é grave, afetou muito os órgãos. A partir de agora, ele vai ficar sedado, não vai sentir tanta dor nem fome, mas vai ter muita febre por conta da infecção'”, relata.
“O meu filho ficou a noite toda lutando pela vida, com uma febre de 40,8º e a pressão oscilando, 5,3, 6,3”, recorda Carla. Como estava há dois dias no hospital, sem comer direito desde quarta-feira e precisava ver os outros filhos, ela trocou com o marido como acompanhante. Em casa, ela recebeu a notícia de que Luan estava agora com 36ºC. “Comemorei. Mas, na troca da sonda, os órgãos pararam, ele entrou em sepsia, em choque, e veio a óbito”, conta.
A família entrou em desespero. Carla quer que os médicos que atenderam Luan na UPA sejam responsabilizados – eles teriam sido afastados. “Eu vou processar, sim. Não quero dinheiro. É pela vida do meu filho, foram três pessoas e nenhum conseguiu diagnosticar o que meu filho tinha. E apenas um, o médico do PS de Itapecerica, em três minutos, conseguiu. Foi negligência, falta de atenção com ele, de checar melhor o que tinha”, disse ao VERBO.
Carla denunciou o descaso na internet, em relato comovente. “Enquanto eu não ver os culpados punidos pelo que fizeram com o meu filho, a justiça ser feita, eu não sossego. Vou continuar postando nas redes sociais. Eu quero que eles percam o CRM, que percam o direito de exercer a função que tanto falam que sabem”, declarou. Ela reprovou a unidade. “A UPA do Santo Eduardo é um lixo. Era uma criança de 11 anos, ele entrou lá três vezes.”
OUTRO LADO
O VERBO questionou o prefeito Ney Santos (Republicanos), que tem o dever de fiscalizar o atendimento da saúde municipal. “O menino Luan, de 11 anos, morreu com apêndice estourado após a UPA dizer que só tinha ‘gases’, em três dias em que foi atendido na unidade, por médicos diferentes. A mãe quer justiça e disse que a UPA sob a sua gestão é um ‘lixo’. O que o senhor tem a dizer para esta família, que está revoltada?”, indagou. Ney não respondeu.
OUÇA DEPOIMENTO DE CARLA AO VERBO SOBRE A MORTE DO FILHO E O ATENDIMENTO NA UPA DE EMBU
QUESTIONADO SOBRE A MORTE DE LUAN APÓS DIGNÓSTICO ERRADO DA UPA SANTO EDUARDO, NEY CALA
