‘Pessoal do Bodinho’ desviou vacina com ordem do vereador, diz aliada de Aprígio

Especial para o VERBO ONLINE

UBS de onde sumiram vacinas contra covid-19; funcionários indicados por Bodinho desviaram doses com ciência do vereador, diz denunciante | Verbo/Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

EXCLUSIVO. O desaparecimento de doses contra a covid-19 na UBS Santo Onofre, em Taboão da Serra, não ocorreu por erro no preenchimento de formulários e descuido em vacinar pessoas não prioritárias, mas por ato deliberado de servidores indicados por Alex Bodinho em praticar “fura-fila” e desvio de vacina com envolvimento do vereador. É o que afirma Maria de Carvalho, a Maryah, que trabalhava no posto e denunciou o caso, ouvida pelo VERBO.

A sindicância aberta para apurar o sumiço de vacinas, ocultado pelo governo Aprígio (Podemos), concluiu que o fato se deu por falha administrativa apenas da diretora Fernanda da Cruz, indicada por Bodinho, e não fez qualquer menção ao vereador aliado do prefeito, mas Maryah contesta. “Fui eu que fiz a denúncia de desvio de vacina e fura-fila de vacina. O que foi falado na reportagem [no relatório final], faltaram com a verdade”, declara.

“Falam que os funcionários não preenchiam direito as filipetas. É mentira”, diz Maryah, sobre alegação da então diretora para o sumiço de doses – 233, diz o governo. Ela conta que os funcionários eram orientados a deixar as filipetas faltando dados e os impresos atingiram número grande. “Mais de 300. Chegou a um ponto que não podia colocar a profissão, porque no final do expediente a Fernanda que determinava a profissão da pessoa”, diz.

A preenchimento incorreto não seria por acaso. “Quem errava o CPF, o nome da mãe era o funcionário Gustavo. Eu já tinha questionado com a Fernanda que estava tendo erro. Ela só autorizava só colocar o nome da pessoa. Ele estava fazendo de forma incorreta a mando da Fernanda, ele é funcionário do Alex”, diz Maryah, sobre o comissionado que ainda estaria lotado na UBS. A intenção seria clara. “No final, eles desviavam a vacina”, afirma.

“Eu tenho as filipetas que ele [Gustavo] preencheu errado. Passei [outras] à diretora e para a [enfermeira] Marcia, e simplesmente falavam: ‘Deixa desse jeito que a gente conserta’. As filipetas eram o fura-fila da vacina! Ele preenchia errado, depois não tinha como procurar a pessoa, jogar no sistema. Antes, a gente jogava na planilha. Mas eles [funcionários do Bodinho] vinham: ‘Está faltando 10. Está faltando 15’. Eu falava: ‘Vocês pegaram todas aqui'”, diz.

“A gente era obrigado a preencher da forma que eles queriam, na hora de lançar eles jogavam como saúde para a secretaria não desconfiar”, frisa Maryah, sobre Fernanda e a enfermeira responsável – “a Marcia sabia”. “Quando dava 15h30, faziam contagem de doses. Depois, ficava a Marcia, a Jéssica, a Amanda, ficava a Fernanda usando do próprio telefone, ligando para as pessoas tomar vacina lá. Ficavam até 6, 7 da noite com a UBS fechada”, relata.

Em março, a UBS foi autorizada pela Secretaria de Saúde a vacinar profissionais de drogarias, mas teria agido irregularmente. “O motoboy da farmácia ia tomar a vacina. Ela não colocava motoboy, no final [expediente] colocava saúde para lançar no sistema como saúde. Aí não ia constar o fura-fila. Eu tenho nome de pessoas que moram e trabalham em farmácia em Guarulhos, mas usaram endereço de Taboão para se vacinar”, diz Maryah.

Além do “fura-fila”, Maryah não descarta extravio de doses, ao se referir a Fernanda. “Todos os dias, ela saía com uma maleta de vacina, junto com a enfermeira Marcia. Ela [falava] ‘acabou a vacina’. Saía no carro particular dela, o que é proibido – a ordem era ligar para a secretaria, e o carro da prefeitura enviar vacina. Não tinha lógica. E pelo cálculo de tempo não tinha como [ir à secretaria], dez minutos depois estava de volta com a mesma maleta”, diz.

A colocação da tenda para vacinação fora da UBS chamou a atenção, mas não só. “Do nada, um repórter da Record apareceu no Pirajuçara e começou a filmar a diretora fazendo a vacina das pessoas em frente ao comitê do Alex, aquele escritório que fica em frente a UBS. E a conversa era: foi o vereador Alex Bodinho que conseguiu a vacina para a comunidade aqui. Depois teve uma denúncia, e eles foram obrigados a levar [a tenda] para a praça”, conta.

Ela diz não ter dúvida do envolvimento de Bodinho no desvio de vacina. “A funcionária dele [Fernanda] não ia fazer um negócio desse sem ele ter consciência, [a ponto de] colocar a tenda praticamente dentro do escritório dele. Ele tinha plena consciência de tudo que estava acontecendo”, afirma Maryah. “Eu entrei [na UBS] dia 20 de janeiro. Com 13 dias que estava lá, eu já sabia que tinha coisa errada: desvio de vacina, desvio de remédio, fura-fila”, fala.

Maryah fez a denúncia de desvio de vacinas, porém, só em 8 de abril. Ela justifica que tinha de reunir evidências. “Tenho prova de tudo, tenho conversas de WhatsApp, áudios, fotos das filipetas, de pessoas passando na frente, de agente de saúde que preenchia filipeta, colocava no bolso e furava fila. Tenho foto da Fernanda preenchendo filipeta. Essa documentação foi entregue ao prefeito”, diz. Ela foi candidata a vereadora na coligação de Aprígio.

Maryah diz não ter denunciado por vantagem. “Vi senhoras de muleta, de bengalinha passando mal, indo tomar a vacina, e a diretora Fernanda falar ‘não chegou a sua vez’. Aí vem uma pessoa de 20 anos, a mulher de Romu tomar vacina? [Sobre a esposa de GCM, ela falou] ‘Ah, deixa que eu já fiz a filipeta dela’. A mulher não tinha nem 35 anos! E ela recusar vacina para uma pessoa de 60 anos, que não era a idade dela ainda? Não acho correto isso”, afirma.

Maryah nega que “falava que iria prejudicar a direção”, conforme depôs Marcia. “Pelo contrário. Comentei com o Gustavo: ‘Está dando muito na cara o que estão fazendo aqui, se cair no Ministério Público vai dar problema para o seu vereador'”, garante. Ela diz que os próprios assessores do prefeito pediram provas. “Tenho mensagem que a pessoa fala para mim: ‘Você vai entregar as provas, mas vai ter que sumir de Taboão'”, relata. Ela já deixou a cidade.

OUTRO LADO
Procurada, Fernanda rebateu as acusações de que orientava a preencher as filipetas e colocou a tenda em frente ao escritório de Bodinho para “furar fila” e saía com vacinas no próprio carro. “Fico surpresa com essa declaração, na sindicância nada disso foi dito por ela. Pelo contrário, nada foi provado contra a minha pessoa e tudo isso deverá ser provado por ela”, disse. O VERBO não localizou as outras pessoas citadas. Bodinho preferiu o silêncio.

OUÇA ENTREVISTA DE MARYAH DE CARVALHO, QUE DENUNCIOU DESVIO DE VACINAS EM UBS DE TABOÃO

CORREÇÃO – Assessores de Aprígio, e não de Alex Bodinho, que pediram provas do desvio e fura-fila da vacina contra a covid-19 na UBS Santo Onofre a Maryah de Carvalho, segundo ela, informação já retificada na reportagem.

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