ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Na entrega de novas viaturas da Guarda Civil Municipal, quarta-feira retrasada (7), no largo do Taboão, o delegado da Polícia Civil Rodrigo Falcão posou para foto – e postou em perfil pessoal – em que assume abertamente posição de secretário de Segurança de Taboão da Serra, apontam membros do próprio governo Aprígio (Podemos). Segundo ainda integrantes da gestão, Falcão já estaria anunciando que “assumirá nos próximos dias” a pasta.
Falcão foi nomeado secretário de Segurança por Aprígio, informalmente, mas acabou não sendo efetivado por não ter obtido liberação da Secretaria Estadual de Segurança para assumir o cargo. Contudo, segundo funcionários da prefeitura, desde o início da nova gestão, ele nunca deixou de “mandar” na pasta, como secretário de fato. Em 14 de janeiro, ele falou ser o secretário ao abordar de forma hostil uma GCM feminina – é acusado de assédio moral.
Apenas após o caso ser revelado pelo VERBO, Aprígio abriu uma sindicância (portaria 518/2021), em 27 de janeiro, mas para “apuração dos fatos decritos no Registro de Ocorrência – RDO nº 75/2021”, o BO feito pelo policial, com a versão dele. O relato da guarda ao comando da GCM foi ignorado. Uma semana antes, Falcão se envolveu em outra polêmica ao incentivar um GCM a se vacinar contra o coronavírus sem a corporação ser do grupo prioritário.
Em meados de fevereiro, não nomeado, Falcão continuava a atuar como chefe da Segurança da nova gestão. “Não foi nomeado, está agindo de forma ‘clandestina’ como secretário. Ele tem feito reuniões e retirado documentações na prefeitura inerentes ao secretário. Inclusive, segundo relatos, ele fez reunião com donos de bares na área do centro e falou que nenhum seria fechado, o que realmente está acontecendo”, disse um membro da pasta.
Com o escolhido impedido de assumir, Aprígio nomeou em 25 de fevereiro – após quase dois meses de governo – um secretário, Vinicius Gonçalves. Identificado como membro das Forças Armadas, mas com o vínculo nunca confirmado, ele foi logo apontado como indicação de Falcão, para ser secretário de “fachada”. Ou seja, Falcão que continuava a ter voz de comando na pasta. “Ele é testa de ferro do Rodrigo”, disse um integrante da secretaria.
“Foi apresentado na secretaria pelo Rodrigo. Ninguém conhecesse esse Vinicius. Falaram que era do Exército, mas não esclareceram a patente. Achei estranho por não encontrar nada sobre ele, hoje em dia é difícil não encontrar nada sobre uma pessoa na internet”, disse a fonte. Na entrega de armas à GCM, em 26 de fevereiro, Aprígio não divulgou nenhuma foto ao lado de Gonçalves, que só apareceu entre mais de dez pessoas, sem ser identificado.
Mesmo no primeiro dia útil de trabalho, em 1º de março, Gonçalves continuava um “desconhecido”. “E hoje quem trabalhou na secretaria foi o Rodrigo. Passou o dia na central de rádio”, falou o servidor. Em 29 de abril, na entrega da base no Marabá, Gonçalves de novo não apareceu. Já Falcão ficou ao lado do prefeito. “Eu não sei o que ele tem para continuar na nossa secretaria. Se esconde feito rato lá dentro, porém aparece em atos públicos”, completou.
Nas reuniões no gabinete de Aprígio, aliás, o integrante da pasta presente é sempre o secretário-adjunto tenente Dacal – solícito e citado internamente como “justo”. Gonçalves nunca participa. Em agenda “institucional”, Falcão, não nomeado, não aparece. Porém, como no Marabá, na entrega da base-carreta no centro, Falcão se comportou como secretário, apesar de discreto. Procurado pela reportagem, ele disse, ríspido: “Eu não falo com o senhor!”
Na entrega das viaturas, porém, Falcão assumiu posição de secretário ao posar à frente de GCMs, em forma de triângulo, a convergir para si (Dacal olha para o lado) – ele postou a foto no Instagram. “Release” da Comunicação cita Gonçalves, mas não mostra o secretário no evento e traz declaração de Dacal. “Ele [Falcão] já está se expondo. Segundo os próprios guardas, já anuncia que assumirá nos próximos dias”, disse outro membro da secretaria.
No loteamento do Parque Laguna, na quarta-feira (14), Falcão “escoltou” Aprígio. Após ver vídeo deste portal do delegado presente na área, o integrante da pasta questionou. “O prefeito nega, mas o cara é quem manda na Guarda. Isso pode, delegado escoltando prefeito, de fuzil?”, disse. As novas viaturas, em vez do azul-marinho da GCM, são pretas. “Confundem-se facilmente com uma da Polícia Civil [de Falcão]”, criticou um servidor da pasta.
OUTRO LADO
Procurado, em conversa franca com o VERBO, Falcão disse que escoltou Aprígio na ocupação do Parque Laguna “por conta da integridade física do próprio prefeito”. “Vê algum fato ilegal ou imoral estar fazendo a segurança dos munícipes e de estar ao lado do prefeito nos eventos pertinentes à segurança?”, disse. A reportagem falou que em outros municípios um delegado não acompanha o prefeito em cada evento público sem ser membro do governo.
“Como autoridade policial, eu não posso deixar de cuidar da proteção dos munícipes por se dizer que é política? Se o prefeito estiver perto, não posso estar, é política? Não tem nada de ilegal, é até minha obrigação tentar manter a paz pública”, alegou. Ele negou integrar a gestão Aprígio e que assumirá a pasta. “Eu não quero ser secretário. Se quisesse, largava a polícia desde o primeiro dia. Minha função é ser delegado, não faço parte do governo”, afirmou.
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