ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Em quadro desolador que indica falha do governo Aprígio (Podemos) no combate à covid-19, Taboão da Serra registrou 104 mortes em maio. O total é 16% menor em relação a abril, mas porque no mês passado a doença explodiu na cidade. Para se ter ideia da tragédia, o registro de mortes em maio é 25% maior que o de março, já sob Aprígio, e 35% mais alto que o mês mais letal na gestão Fernando Fernandes (PSDB), junho de 2020 (77 óbitos).
Taboão chegou ao segundo maior registro de mortes por covid-19 em um mês durante a pandemia inteira ao notificar nesta segunda-feira, último dia de maio, nada menos que oito óbitos, uma escalada de casos fatais que nunca diminui – em pesadelo sem fim. O município passou a somar 714 vítimas no total – em 30 de abril, notificara 610. Até então atrás apenas de abril na letalidade da pandemia na cidade, março agora é o terceiro mais mortal.
Na pandemia inteira em 2020, em 283 dias (nove meses), sob Fernando, Taboão registrou 356 mortes por covid-19, média de 1,31 por dia. De 1º de janeiro até ontem, em 151 dias (cinco meses), notificou 358 óbitos, 2,4 diários, em evidência do contágio sem qualquer controle na gestão Aprígio, que agiu com inépcia ao agravamento da doença. Em dado emblemático, Taboão já registra mais mortes em cinco meses deste ano do que em nove de 2020.
O caos da pandemia em Taboão se deve sobretudo ao colapso na UPA, com lotação de leitos e óbitos praticamente diários. De 5 de março até esta segunda, em 88 dias, menos de três meses, 103 pessoas morreram na UPA sem assistência de UTI (média de 1,2), mais de uma morte por dia. O governo Aprígio conta 60 óbitos, por considerar só as vítimas que incluiu na fila por vaga. Mas os demais pacientes poderiam ter resistido com UTI à disposição.
Taboão é o primeira cidade no Estado de São Paulo a registrar morte de pacientes à espera de UTI, naquele 5 de março, quando quatro internados morreram. Mas o dia mais doloroso ainda viria. No dia 12 abril, seis pacientes agonizaram até a morte, com os familiares implorando por um leito de UTI, em vão. Dois dias depois, Aprígio disse que “zerou a fila”. No fim de semana agora, o fato se repetiu, um internado morreu no sábado e seis no domingo.
Leito de UTI é ofertado pelo Estado, mas as cidades podem criar ou exigir vagas. No dia 10 de março, Aprígio teve a oportunidade de cobrar do governo João Doria (PSDB) UTI para Taboão, mas se recusou a participar de reunião ao ver Fernando na sala. Desde então, ele se limita a esperar vaga. Indagado sobre o episódio, quando poderia ter cobrado um hospital de campanha custeado pelo Estado, Aprígio xingou o repórter do VERBO de “filho da puta”.
Aprígio só se “mexeu” na iminência do colapso na UPA, um dia antes, em 4 de março. Embora tenha criado 14 leitos na unidade, ele desativou a UBS Clementino para implantar um pronto-atendimento de covid-19 com apenas seis leitos, em um contrato “suspeito”, no valor de R$ 3.510.925,62 por três meses, R$ 585.154,27 por leito, valor acima do mercado. O hospital de campanha custou R$ 148.540,93 por leito, quatro vezes menos e por cinco meses.
No último dia 12 de maio, porém, Aprígio já desativou o “PA da Covid”. Um morador fez o “resumo da ópera”. “Arrependimento!!! Imaginava que seria um bom prefeito para nossa cidade, até agora só fez cagada em relação à covid. Fechou um posto de saúde para transformar em posto de triagem da covid, fechou o posto de triagem e não reabriu o posto de saúde. Estamos num barco à deriva!!!”, escreveu, sobre as sete mortes no último fim de semana.
BOLETIM
As oito últimas vítimas registradas entre moradores de Taboão (sexo, idade, comorbidades, local de óbito) são:
– 707ª – mulher, 101 anos, diabetes e doença cardiovascular crônica – UPA Campo Limpo (óbito em 12/4);
– 708ª – mulher, 72 anos, hipertensão – Hospital das Clínicas (óbito em 3/5);
– 709ª – mulher, 71 anos, diabetes e doença cardiovascular crônica – Hospital Municipal de Brasilândia (óbito em 16/5);
– 710ª – homem, 68 anos, diabetes e doença cardiovascular crônica – Hospital Emílio Ribas (óbito em 19/5);
– 711ª – homem, 45 anos, hipertensão e diabetes – Hospital Alvorada-Moema (óbito em 20/5);
– 712ª – mulher, 67 anos, hipertensão – Hospital Estadual Mario Covas (óbito em 24/5);
– 713ª – homem, 39 anos, sem comorbidades – Hospital Geral do Pirajuçara (óbito em 25/5);
– 714ª – homem, 96 anos, doença cardiovascular crônica – Hospital do Servidor Público Estadual (óbito em 22/5).
De 713 vítimas (a 340ª não teve perfil relatado), Taboão conta a morte por covid-19 de 408 homens e 305 mulheres – 60 a 69 anos (212), 70 a 79 (171), 50 a 59 (108), 80 ou mais (100), 40 a 49 (75), 30 a 39 (32), 20 a 29 (sete), 0 a 9 (seis) e 10 a 19 (duas). O município tem taxa de mortalidade pela doença de 243,14 mortes por 100 mil habitantes, a mais alta da região (oito cidades) – a segunda mais alta é de 216,87 (Cotia) -, acima também da do Estado (240,60).
MORADOR CRITICA APRÍGIO NA PANDEMIA; TABOÃO JÁ SOMA NESTE ANO 358 MORTES, CONTRA 356 EM 2020