ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O governo Aprígio (Podemos) repete com insistência que vacinou mais contra a covid-19 do que os outros sete municípios da região, mas se presta a uma comparação esdrúxula, baseada na ignorância sobre a diferença de perfil das cidades, ou mesmo capciosa, com a intenção de ludibriar a população. Além de não ser a que mais imunizou em relação aos habitantes, a gestão é a segunda mais lenta em aplicar as doses contra o coronavírus.
“Taboão da Serra segue na liderança entre os municípios do Consórcio Intermunicipal da Região Sudoeste da Grande São Paulo que mais vacinou contra a covid-19”, disse o governo Aprígio, nesta quarta-feira (19), ao comunicar a vacinação de novos públicos – nesta sexta (21), pessoas com deficiência permanente (beneficiários do BPC) e com comorbidades com idade entre 45 e 49 anos, e no dia 28 os dois grupos com idades entre 40 e 44 anos.
O governo Aprígio usaria como critério para dizer que vacinou mais o número absoluto de vacinas que aplicou. Com a vacinação – iniciada há exatos quatro meses – não mais no início, porém, a comparação é no mínimo primária – para não dizer infantil. Os outros sete munícipios têm população e consequentemente número de habitantes por faixas etárias e grupos específicos bem menores, critérios para recebimento das doses.
Taboão tem 293.652 habitantes (IBGE). O único município com população aproximada é Embu das Artes, 276.535 moradores, mesmo assim quase 20 mil a menos (17.117). Cotia tem 253.608, cerca de 40 mil a menos. Itapecerica da Serra possui 177.662, mais de 115 mil a menos. As outras cidades da região são pequenas em população – Embu-Guaçu, 69.901; Vargem Grande Paulista, 53.468; Juquitiba, 31.646; e São Lourenço da Serra, 15.978.
Até agora, Taboão aplicou 75.731 vacinas contra a covid-19 – 48.896 em primeira dose e 26.835 como segunda dose. Obviamente, vacinou mais que Embu-Guaçu, Vargem Grande, Juquitiba e São Lourenço por ter o número de doses aplicadas no total acima da população das quatro cidades – não tem como esses locais terem mais doses que o número de habitantes. Mesmo em relação às outras três, imunizou mais por ter população bem maior.
“O critério para uma cidade receber mais doses que outra é o total da população na faixa etária, baseado no Censo. O Estado manda conforme o número de moradores na faixa contemplada ou grupos cadastrados. Por exemplo, os professores fizeram o cadastro através do QR Code, e a vacina veio específica para o número que efetivou o cadastro. Agora virá para os motoristas de ônibus, que se cadastrarão”, explicou um secretário de Saúde da região.
Uma prefeitura falar que vacinou mais pelo número absoluto de vacinas aplicadas é indevido, com cidades locais com perfis diferentes. “Se eu tenho na faixa de 90 anos 400 munícipes, e São Paulo tem 10 mil, é claro que ela vacinou mais, porque recebeu mais doses. Cidades maiores vacinam mais mesmo”, explicitou. A capital aplicou 2.845.576 doses, por ter recebido mais vacina devido à população – mas é apenas a 264ª cidade que mais vacinou.
A comparação correta, no caso, é a da vacinação em relação à população. Aí o discurso do governo Aprígio se revela uma falácia. Segundo o ranking do governo do Estado, Taboão é apenas o 561º que mais vacinou, entre 645 municípios paulistas. Em relação à região, está à frente de Cotia (601º), Vargem Grande (603º), Itapecerica (605º), Embu das Artes (616º) e Embu-Guaçu (617º), mas vacinou menos que Juquitiba (518º) e São Lourenço (354º).
Uma análise mais aprofundada é ainda mais reveladora. Além de não ter vacinado mais na região, o governo Aprígio é o segundo mais lento a imunizar as faixas etárias e os grupos específicos. Taboão vacinou 75.731 pessoas, mas recebeu 93.935 vacinas, ou seja, não aplicou 18.204 doses – só Cotia demora mais a vacinar, com 19.485 não utilizadas (recebeu 76.889 e aplicou 57.404). Em relação às outras seis cidades, a gestão aprigista é a mais “lerda”.
OUTRO LADO
Questionado sobre adotar como critério para dizer que vacinou mais contra a covid na região o número absoluto de doses aplicadas, em vez de comparar a imunização perante a população, o governo preferiu não responder. Após o VERBO publicar reportagens como sobre o prefeito não ter pedido UTIs para Taboão por “picuinha política” com Fernando Fernandes e o desvio de vacinas em UBS no Pirajuçara, a gestão Aprígio não responde a este portal.
APRÍGIO DIZ QUE É O QUE MAIS VACINOU CONTRA COVID NA REGIÃO, MAS ESTÁ ATRÁS DE DUAS CIDADES
GOVERNO APRÍGIO É O 2º MAIS LENTO A VACINAR CONTRA COVID, COM 18.204 DOSES ‘PARADAS’