ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Uma apostila distribuída aos alunos da rede municipal de Taboão da Serra pelo governo Aprígio (Podemos), para aulas remotas durante a pandemia da covid-19, contém termos que discriminam indígenas e negros, aponta a mãe de um estudante. A moradora Viviane Pereira, que tem um filho de 9 anos matriculado em escola da prefeitura, procurou o VERBO para reclamar de “erros grotescos” que “só reforçam esteriótipos” contra as duas etnias.
Viviane, que é historiadora, reprovou o conteúdo do livro “Ensino Fundamental 4º ano” (capa rosa). “A apostila entregue para as crianças do 4º ano veio cheia de termos que não são mais utilizados por serem discriminatórios e preconceituosos”, diz. Ela encaminhou à reportagem trechos “problemáticos”, como os que citam “tribos brasileiras” e que diz que os negros “vieram para o Brasil” e “foram trazidos para trabalhar como escravos”.
“Termos como ‘índios’, ‘tribos’, ‘escravos’ não são mais utilizados há muito tempo. São erros grotescos. Os povos originários não são índios, são indígenas. Utilizamos também a expressão povos indígenas. Não se fala mais ‘tribo’, mas aldeamento. A apostila chama negro ainda de ‘escravo’. Não é ‘escravo’, o correto é escravizado, porque eles foram trazidos à força. Eles [governo] ‘glamourizam’ uma história que não existe na apostila”, critica Viviane, 40.
Viviane condenou no livro a menção aos bandeirantes, sem citar que eram violentos, e a citação de que a capoeira “passou a ser vista como uma prática violenta”. “Outro erro absurdo é chamar os bandeirantes de desbravadores. Já a capoeira era uma autodefesa dos escravizados, que eram tratados de maneira extremamente violenta. Colocar a capoeira como violenta para uma criança e não contar a real história é reforçar o próprio racismo”, considera.
Viviane acusa que o teor da apostila fere as leis 10.639 e 11.645, sobre a história e cultura afro-brasileira e indígena, respectivamente. “A apostila não traz a narrativa dos povos negros e indígenas, contando a própria história. Parece uma apostila da década de 1980, da época em que estudei, e não do século 21. É um material que reforça esteriótipos preconceituosos, quando estamos em momento de combate ao racismo, à intolerância religiosa”, diz.
A mãe procurou a prefeitura para manifestar insatisfação com o material enviado aos alunos. “Quando liguei na Secretaria de Educação para reclamar, me disseram que as apostilas são as mesmas utilizadas no ano passado. Eles de novo entregaram essa apostila! Deram a desculpa de que a apostila é do governo anterior, e como não tinham o que dar às crianças, e os pais reclamavam, entregaram essa apostila ridícula. É um absurdo”, afirma.
Viviane fez a reclamação no dia 11 de março, na semana em que a secretaria fez a entrega da apostila – o material foi distribuído em todas as escolas municipais, que têm cerca de 30 mil alunos, a grande maioria justamente nos primeiros anos do ensino fundamental. “O pessoal da Seduc me ligou, disse que mandaria uma errata para as escolas. Questionei que, na verdade, isso nem deveria estar no conteúdo”, conta. O aviso de correção não ocorreu.
OUTRO LADO
O VERBO questionou o governo sobre a reclamação da mãe quanto à apostila com termos discriminatórios contra indígenas e negros, inclusive quis saber o motivo de o conteúdo ter sido enviado aos alunos, que providências serão tomadas para reparar as falhas e se a apostila será recolhida. A gestão Aprígio preferiu o silêncio – no Dia dos Indígenas. “Taboão é uma cidade em que cada um que entra quer impor as próprias regras”, lamentou Viviane.
VEJA TRECHOS DA APOSTILA DE TABOÃO COM TERMOS DISCRIMINATÓRIOS CONTRA INDÍGENAS E NEGROS
