ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Taboão da Serra ultrapassou nesta quinta-feira (8) a triste marca de 500 moradores mortos por covid-19 – 502, precisamente – desde o início da pandemia, em março do ano passado. O número de vítimas, porém, é muito maior. Muitas das mortes registradas só recentemente aconteceram há várias semanas, inclusive há mais de dois meses, e óbitos ocorridos nos últimos dias ainda não foram contabilizados por questão de protocolo clínico.
Como exemplo, o morador Jair Antônio de Souza morreu de covid-19 na quarta-feira (7) e ainda não constou no boletim da prefeitura. Internado na UPA Akira Tada no dia 26 de março, ele ficou cinco dias intubado na UPA e só foi transferido na noite de 1º de abril, mas já em estado gravíssimo e não resistiu. Outro caso, nesta quinta-feira (8), Maria Celeste, de 53 anos, também morreu na UPA, após esperar UTI por sete dias, e ainda vai entrar no boletim.
Maria Celeste é a 54ª vítima a morrer de covid-19 na UPA de Taboão sem ter atendimento de UTI em apenas pouco mais de um mês (35 dias) – três mortes a cada dois dias. No dia 5 de março, Taboão começou a registrar mortes em série e diárias por falta de assistência de terapia intensiva. Em outra marca desoladora e passível de investigação, o município é o primeiro no Estado de São Paulo a ter óbitos de doentes de coronavírus à espera de leito de UTI.
O governo Aprígio (Podemos) conta oficialmente que, em 35 dias, até esta quinta-feira (8), 38 pacientes morreram na UPA à espera de UTI, por ter inserido as vítimas no sistema de pedido de leito de terapia intensiva ao Estado. Porém, mais 16 internados morreram na UPA sem terem sido incluídos na fila por vaga porque chegaram “em estado grave e faleceram em horas”, segundo a gestão, mas poderiam ter sobrevivido se tivessem UTI à disposição.
No dia 5, a UPA estava com 57 internados, 12 intubados (com necessidade de UTI), após três transferências e três altas e nenhuma morte. No dia 6, tinha 54, oito intubados, após duas mortes e quatro transferências. No dia 7, seguiu com 54 doentes e dez intubados, após três altas, quatro transferências e nenhuma morte na unidade. Nesta quinta-feira (8), tinha 45 internados e oito intubados, após oito altas e duas transferências, mas dois morreram.
Taboão chegou a 502 mortes, “por baixo”, ao registrar mais quatro em 24 horas e sete em três dias. No dia 5, notificava 495. Na terça (6), contou mais duas. Na quarta (7), mais uma. Nesta quinta (8), as outras quatro. De 501 vítimas (a 340ª não teve perfil divulgado), soma a morte de 284 homens e 217 mulheres – 60 a 69 anos (151 óbitos), 70 a 79 (128), 80 ou mais (77), 50 a 59 (70), 40 a 49 (41), 30 a 39 (19), 20 a 29 (sete), 0 a 9 (seis) e 10 a 19 (duas).
As sete novas vítimas da covid-19 de Taboão são (sexo, idade, comorbidade, local de óbito) são:
– 496ª – mulher, 48 anos, diabetes e cardiopatia – Hospital Municipal Maternidade Professor Mario Degni (Rio Pequeno) (óbito em 28/3);
– 497ª – homem, 86 anos, diabetes e hipertensão sistêmica – UPA Akira Tada (óbito em 30/3);
– 498ª – mulher, 36 anos, obesidade – Hospital Family (óbito em 28/3);
– 499ª – homem, 40 anos, sem comorbidades – UPA Akira Tada (óbito em 2/4);
– 500ª – homem, 76 anos, hipertensão sistêmica e doença cardiovascular crônica – Hospital das Clínicas (óbito em 15/3);
– 501ª – mulher, 66 anos, hipertensão sistêmica e obesidade – Hospital das Clínicas (óbito em 29/3);
– 502ª – mulher, 61 anos, sem comorbidades – Hospital das Clínicas (óbito em 20/3).
A UPA de Taboão passou a ter 45 pacientes assistidos, mas na segunda-feira chegou a bater recorde com 64 internados, ou seja, 24 ocupavam macas. Taboão passou a ter 40 leitos na unidade no ano passado, mas nenhum de UTI. No dia 10 de março, Aprígio teve oportunidade de cobrar do Estado leitos de UTI para Taboão, mas se recusou a participar de reunião ao se deparar com o ex-prefeito Fernando Fernandes (PSDB) por “picuinha” política.