ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Candidato a prefeito de Taboão da Serra derrotado nas eleições em 2020, Daniel Bogalho, o engenheiro Daniel (PSDB), disse que será secretário do governo do prefeito Ney Santos (Republicanos), em entrevista ao site “Taboão em Foco”. Lançado para disputar a prefeitura pelo ex-prefeito Fernando Fernandes (PSDB), Daniel se aliou, ironicamente, ao inimigo do “padrinho político”. Alegou, porém, que segue com compromissos com os Fernandes.
Daniel vai assumir a Secretaria de Obras de Embu das Artes, na próxima semana. Ele aceitou o cargo em troca de apoiar Ney na candidatura a deputado federal em 2022 – Ney buscou a reeleição, mas abandonará a prefeitura. Daniel, que teve 66.158 votos e perdeu por apenas 1.695 para Aprígio (Podemos), vai ajudar Ney a conquistar adesão em Taboão, onde o novo aliado é rejeitado, identificado pela população como ligado ao crime organizado.
Ney vai abrir mão do cargo para deixar o vice Hugo Prado (MDB) como prefeito, de caso pensado, conforme confessou Hugo oito meses antes da eleição, em projeto ao qual agora se soma Daniel. “Aceitei o convite por entender que é uma oportunidade de desenvolver um bom trabalho em minha área de atuação [engenharia] e por acreditar no projeto que está sendo montado para os próximos quatro anos na cidade de Embu das Artes”, disse.
Daniel disse que tratou com o prefeito de Embu sobre a aliança por intermédio de vereadores, especialmente Carlinhos do Leme (PSDB), atual presidente da Câmara de Taboão, muito próximo a Ney. “Tive a oportunidade de conversar com Ney Santos através de alguns vereadores de Taboão da Serra e Embu das Artes e principalmente pelo presidente atual Carlinhos do Leme. Conversamos e entendemos que será benéfico para ambos”, disse.
Ele disse que, embora tivesse expectativa de assumir algum cargo em governos do PSDB em São Paulo, “não houve convite”, mas que comunicou Fernando da escolha de aderir a Ney e negou rompimento. “Informei o prefeito, sim. Ele entendeu a minha decisão, e entendo que é importante frisar que não é uma ruptura com o [ex] prefeito. Aliás, tenho uma gratidão imensa por toda a família Fernandes pela oportunidade que sempre me deram”, disse.
Fernando cogitava escolher Daniel como candidato a federal, em dobrada com a mulher, Analice Fernandes (PSDB), a estadual. O ex-“afilhado político” sepultou a chance de ser o escolhido, consciente da opção feita. “Estou abrindo mão, acredito no projeto de Ney Santos para federal e entendo que já passou da hora de termos uma aliança regional para que de fato tenhamos um representante federal que possa trazer recursos para a região”, disse.
Daniel disse, porém, que vai apoiar Analice a novo mandato na Assembleia em 2022. Questionado quem vai apoiar se os Fernandes vetarem a dobrada Ney-Analice, ele foi evasivo. “Hoje meu compromisso é com o Ney Santos e Analice, não pensei e nem penso outra possibilidade”, disse. Em 2018, Ney chegou a acusar Analice de integrar “facção criminosa” por ter recebido doações de empresas alvos da Lava-Jato. A Justiça tirou vídeo de Ney do ar.
Conforme o VERBO apurou, membros do PSDB estão “atordoados” com a “ida” de Daniel para Ney, principalmente por terem atacado a aliança de Aprígio com o prefeito de Embu, oculta, para vencer a eleição a prefeito. “Estou chateado pra caramba, o engenheiro Daniel era o meu candidato a deputado federal. Queria entender o motivo. Mesmo assim, eu não vou desistir, vou fazer campanha contra Ney Santos”, disse uma liderança tucana de Taboão.
“Não foi uma surpresa, Fernando deve ter entendido o tamanho da oferta”, disse um interlocutor dos Fernandes, ao indicar proposta financeira. A reportagem tentou mais de uma vez contato com Daniel, mas o iminente secretário de Ney não respondeu. Na última entrevista que deu como prefeito, em 28 de dezembro, Fernando disse que Daniel, pela votação obtida, seria o “candidato natural” a prefeito em 2024, mas alertou para os “diabinhos”.
“O ‘diabinho’ fica aqui [no ouvido]. Já vieram oferecer para ele ser secretário do governo do Ney. ‘Tô’ mentindo?”, disse Fernando ao se dirigir a Daniel, que estava na entrevista. Surpreendido pelo prefeito ter revelado o bastidor, Daniel desconversou. “Só rumores. Não direto do Ney”, disse, desconcertado. Fernando insistiu: “Mas vieram oferecer, teve interlocutor oferecendo”. Daniel minimizou: “Não teve nenhuma conversa concreta, é papo de…”
Fernando, experiente, não ignorou o assédio. “É papo de sondagem. Se chama sondagem. Então experimenta falar que você aceita. Posso falar que aceita?”, disse. “Não”, respondeu Daniel – menos de um mês depois, aderiu a Ney. No meio político, a análise é de que Daniel enterra a curta carreira quase bem sucedida. Como secretário, terá o desafio de fazer o governo Ney executar. Em quatro anos, o prefeito não construiu sequer uma escola ou uma UBS.