Diretor de Hugo colaborou em perseguir servidor, mas publicou em seu site durante expediente

Especial para o VERBO ONLINE

Em 2018, então diretor na Câmara, Alexandre da Silva posta vídeo e reportagem em seu site durante o expediente; até Índio curte | Binho/Verbo/Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Outro funcionário de indicação política da base do governo Ney Santos (Republicanos) que se prestou a colaborar para prejudicar um servidor concursado da Câmara – colega de profissão -, no ano passado, o então diretor de Comunicação Alexandre Oliveira da Silva quis tachar o jornalista Adilson Oliveira de insubordinado e sugeriu que escrevia para o VERBO durante o expediente, quando o próprio fazia publicações no site que possui no trabalho.

O PAD (processo administrativo disciplinar) contra Oliveira foi aberto em setembro de 2019 em investida do vereador Doda Pinheiro (Republicanos), que o acusou de usar a estrutura e o expediente da Câmara para “fins de interesse do jornal” e publicar textos no site para “atacar e denegrir a imagem das autoridades” locais. Ao se associar à perseguição ao servidor, porém, Silva se contradisse e mentiu sobre outras questões que vieram à tona.

Alexandre da Silva tachou este portal de ‘sensacionalista’ para prejudicar servidor, mas ‘atacou’ Ney sobre destrato a atendente | Gabriel Binho/Verbo

Silva depôs em 19 de novembro de 2019. Para passar a imagem de que o servidor era desinteressado pelo trabalho e indisciplinado, ele disse que Oliveira não tinha nenhuma atividade funcional nem fazia publicações da Casa. Conforme mostrou este portal no dia 16, porém, em conversa por WhatsApp em 2017, ele pediu para Oliveira escrever um texto, mas que pudesse “editar a gosto dos caras”, o diretor-geral Felipe dos Santos e Hugo.

Ele admitiu que foi Felipe quem decidiu que fizesse as publicações da Câmara, em veto a Oliveira. Foi um deslize. Minutos depois, ele caiu em contradição ao dizer que não formalizou, mas comunicou verbalmente à direção-geral que o servidor não tinha atividade funcional – após dizer que a ordem partiu de Felipe. Ele ainda tentou despistar ao dizer que não se determinou que Oliveira ficasse sem função, apenas que foi o escolhido para executar.

Silva acabou desmentindo o diretor-geral. Felipe, que também se “associou” para prejudicar o servidor – conforme mostrou a reportagem há cinco dias -, alegou que Oliveira tinha acesso a “informações privilegiadas” – como projetos de lei em regime de urgência antes de votados – que foram publicadas neste portal. Silva disse que fazia o atendimento à imprensa, e não o servidor, e que Oliveira “pedia” projetos, mas só depois de passarem em sessão.

Silva passou a atacar o servidor disciplinarmente. Alegou que a relação com Oliveira era “péssima” por não acatar ordens, que o servidor desobedeceu à ordem para ficar no setor, após mandar que não mais permanecesse no plenário – o jornalista nunca fora proibido em nove anos de Casa. Achavam que, se barrassem, Oliveira não teria “informações privilegiadas” para repassar, quando este portal noticiava sobre as sessões ao assistir pela internet.

De forma premeditada, Silva acusou o servidor de desacato. Porém, Oliveira atendeu a ordem, recebida em 9 de outubro, quando a sessão já ocorria, tanto que comunicou a Felipe, que ainda indagou “Você acatou?”, por não o ver no espaço da imprensa. Ele foi à galeria – não ao plenário – algumas vezes ao ser procurado por jornalistas e munícipes. Ao avisar que ia falar com colegas e já voltaria ao setor, recebeu de Felipe a mensagem “Fica tranquilo”.

Para insinuar que o servidor escrevia para o VERBO no expediente, Silva disse que Oliveira fazia uso de notebook particular sem necessidade. Ele reconheceu nunca ter ouvido o jornalista citar “autoridades” da cidade de forma depreciativa, mas resolveu dizer que Oliveira se referia à classe política como “esta corja”. Ainda ao ser voluntarioso com a “denúncia”, Silva chegou a dizer que as reportagens deste portal tinham caráter “sensacionalista”.

Silva estava faceiro em acusar o servidor, mas esmoreceu quando o advogado de Oliveira fez perguntas. Marco Aurélio do Carmo indagou se o diretor de Comunicação usava computador particular na Câmara e se conhecia o “Linhas Populares”. Silva mudou o semblante, segundo a defesa do concursado, e admitiu que usava notebook pessoal no setor e era o dono do site. O veículo trazia vários textos publicados em horário de trabalho de Silva.

Silva alegou que enquanto funcionário da Câmara apenas cinco ou seis reportagens do site particular e que uma ferramenta possibilita que a publicação seja feita em horário diferente da produção do texto, para dizer que não publicou no expediente. No entanto, ele postou em uma rede social do site o vídeo ao vivo da paralisação dos caminhoneiros na rodovia Régis Bittencourt no dia 23 de maio de 2018 às 8h04, no horário de trabalho.

Silva chamou o VERBO de “sensacionalista” para corroborar que o servidor depreciava os vereadores, mas replicou vários textos deste portal no site dele. “Desmascarado”, ele mudou o logo do site e apagou as reportagens antigas. Curiosamente, em troca de mensagens com Oliveira, Silva foi quem “atacou” Ney por constranger uma servidora da maternidade em 2017. “No mínimo cabe processo dessa senhora por exposição humilhante etc etc”, disse.

“É mais um fato que comprova o desvio de finalidade do PAD, o tratamento desigual em situações idênticas entre o servidor, colaborador do VERBO, e o diretor na Câmara Alexandre Oliveira da Silva, proprietário do site ‘Linhas Populares’, que em depoimento confessou fazer publicações de matérias durante o expediente. Fosse adotado o mesmo rigor, o comissionado deveria ser dispensado, mas, por razões óbvias, seguiu empregado”, afirma Carmo.

Silva foi demitido só dez meses depois, em outubro, mas após cometer outra irregularidade, usar o setor para fazer fotos para a campanha eleitoral de um candidato a vereador aliado de Ney, Lúcio Costa (MDB) – acabou não eleito. Ele era cargo político do vereador Índio Silva (Republicanos). No vídeo que postou durante o expediente, a noiva curtiu. Em outra postagem no horário do trabalho, também sobre a greve dos caminhoneiros, Índio deu o “like”.

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