RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito Ney Santos (Republicanos) abriu um processo administrativo contra um professor da rede municipal, Émerson Francisco de Souza, que trabalha na escola Valdelice Medeiros Prass, no Parque Pirajuçara, sob alegação de que o educador fez campanha eleitoral em um grupo de WhatsApp criado por professores a alunos para organizar aulas remotas durante a pandemia da covid-19. No entanto, o PA tem indícios de perseguição política.
Dentro dos parâmetros curriculares que orientam a discussão sobre o tema, Émerson postou no grupo um convite para a “live” intitulada “Conversa sobre educação, racismo e política”, em 1º de julho, da qual era um dos participantes, ao lado do sindicalista Amauri Silva e da ex-secretária de Educação Rosimary Mendes. A transmissão ocorreu via página de Silva, que posteriormente foi oficializado candidato a vereador pelo PT – dois meses depois.
O governo alega que uma mãe de aluno reclamou do professor. “[…] a senhora Tatiane relatou em duas ocasiões que o professor havia feito postagem de mensagem que ao seu entendimento seria manifestação partidária em favor de uma anunciada pré-candidatura a prefeitura, vereadora Rosângela Santos, e também um pré-candidato a vereador, que eventualmente seria apoiado pelo professor”, relatou o secretário Pedro Angelo (Educação).
“A senhora Tatiane argumentou na ocasião que considerava a ação inapropriada, sentindo-se constrangida, fato esse que considerou em seu relato via telefone que comprometeu o envolvimento dos pais e estudantes com as atividades educacionais propostas”, continuou Pedro Angelo. Ele fez anexar no PA um depoimento que diz ser da mãe, mas o relato não tem relação com o objeto de apuração e não traz nenhuma identificação ou assinatura.
“O convite dizia ‘debate sobre educação, racismo e política’, não tinha nada de partidário, era um evento de educação. Eu mandava o print e falava ‘divulga aí’. Só. Eu queria divulgar evento meu. Eles alegam que uma mãe reclamou, mas não assinou documento, reclamação formal, é só o Pedro que fala que assinou. E que eu estava usando o grupo para campanha. Não pedimos voto na ‘live’. Eles nem tocam no conteúdo da ‘live'”, disse Émerson.
Um professor chamou a atenção de que o grupo não é da secretaria nem da escola. “O grupo de WhatsApp não é institucional, não foi criado pela instituição, foi criado por nós professores. Não existe uma regulamentação para estes grupos. […] O Émerson não infringiu nenhuma atividade institucional, o grupo é pessoal. Tem pais de alunos, mas foi criado pela gente. Deixo aqui a minha revolta por este processo contra o nosso companheiro”, disse.
Solidários, colegas membros do grupo criado dizem que Émerson buscou “tão somente” proporcionar aos alunos um debate sobre o racismo, com o objetivo de avançar na superação do legado de escravidão que ainda mantém negros em situação de desigualdade. Para os educadores, “Ney, no melhor estilo ‘escola sem partido’, busca calar as vozes de trabalhadores da educação que educam para uma sociedade sem exploração nem opressão”.
Antes da apuração, Pedro Angelo já se posicionou contra o professor. Ao solicitar análise jurídica, ele diz que “a postura do referido servidor, [sic] atenta contra a instituição à qual ele exerce a sua função, atenta ainda sobre a harmonia do ambiente proposto para interação entre estudantes, familiares e escola, com intuito de fortalecer os laços, prevenir abandono e evasão escolar, estimular o processo de aprendizagem e valorizar a educação pública”.
Porém, o professor tem desempenho de excelência na rede. Em avaliação de 2017, já sob a atual gestão, Émerson mereceu nota máxima (“A”-10) em todos os dez quesitos analisados (empatia, trabalho em equipe, organização, frequência, planejamento, foco no resultado, gestão de conflitos, domínio de metodologia e documento oficial). O próprio secretário avaliou, de próprio punho: “Funcionário dedicado e compromissado, sempre disposto a ajudar”.
Pedro Angelo teria uma postura suspeita, não técnica, com a guinada na avaliação sobre o professor. Ele passou a ter alinhamento político ao prefeito – ele virou presidente de um partido aliado a Ney, o PSD, de Chico Brito, e foi o operador da “negociata” para a sigla apoiar a reeleição do prefeito em troca da aprovação das contas de Chico. Professores das redes municipal e estadual exigem a anulação do PA, em protesto na prefeitura nesta quinta-feira.