RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O presidente Hugo Prado (MDB), candidato a vice do prefeito Ney Santos (Republicanos), entregou a estrutura da Câmara de Embu das Artes para uso particular, para um candidato a vereador mais do que aliado – da predileção de Ney – fazer fotos pessoais para a campanha eleitoral dentro de um departamento do Legislativo, em uso da máquina pública. Lúcio Costa, do MDB de Hugo, posou para fazer um “book” e usa as imagens nas redes socais.
Lúcio, conhecido como Lucinho, foi fotografado no Departamento de Comunicação da Câmara, em outubro do ano passado, segundo apurou o VERBO. À época, este portal seguiu os passos do então pré-candidato por ser o escolhido de Ney para ser o candidato do grupo no Vista Alegre, em retaliação ao vereador Daniboy (então DEM), que criticou o governo. Lúcio também é desafeto do vereador Bobilel Castilho (PSC), a quem traiu quando assessor.
Daniboy foi atacado violentamente por Ney em setembro do ano passado, até com ameaças de morte, após falar sobre a saúde caótica, principalmente na UBS Vista Alegre, em relação à falta de medicamentos básicos e demora no agendamento de consultas, enquanto, por outro lado, Lúcio tem livre trânsito na unidade para conseguir “favores” da direção. Em outra “frente”, ele até “comanda” equipes de limpeza e manutenção da prefeitura.
Não por acaso, um mês depois de Ney atacar Daniboy, Lúcio foi à Câmara bem à vontade para a sessão de fotos, autorizado por Hugo. O VERBO solicitou imagens do sistema de monitoramento para verificar o que o candidato foi fazer no Legislativo, mas a direção-geral da Casa se recusou a fornecer, sob alegação de que “as imagens são preservadas por questões de inviolabilidade das pessoas gravadas, não podendo ser divulgadas aleatoriamente”.
À época, indagado pela reportagem sobre o uso indevido da Câmara por Lúcio, Daniboy disse ser “atropelado” por Ney e Hugo. “A máquina pública é uma puta estrutura para ganhar nome na cidade, espaço. Mas sou contra fazer algo em troca de voto, favor. Pelo meu posicionamento de neutralidade, o governo tem alguns pré-candidatos, e estou vendo que eles estão tendo informações privilegiadas, de início de obra, e tendo pedidos atendidos”, disse.
“O governo, como um todo, está falando ‘se não compor a base, vamos lançar os nossos candidatos e dar todo o suporte e estrutura para que atropelem você’. Estou sentindo que alguns pré-candidatos estão, sim, sendo usados para confrontar os vereadores, para falar ‘se você não estiver conosco vamos escolher alguém e potencializar”, completou Daniboy. Ele disse que Lúcio não era servidor da Câmara: “Com certeza, não. Ele foi assessor do Bobilel”.
Também contatado, Bobilel disse que ceder a Câmara para uso eleitoral é “crime”. “Eu não vi falar, não sei. Mas se está usando a Câmara está errado, tem que coisa que não tem nem o que falar. É errado, é crime”, declarou. Ele também disse que Lúcio não era funcionário. “Não tem nada a ver com a Câmara. Se aconteceu, é errado, como usa ferramenta da Câmara se não é funcionário? Não pode acontecer, vou até conversar com o presidente”, disse.
Lúcio foi procurado pela reportagem, que disse que ele “usou a estrutura da Câmara para fins particulares, posou para uma sessão de fotos para sua pré e futura candidatura a vereador, no departamento de Comunicação, no fim do ano passado; o que tem a dizer, acha isso correto?”. Ele respondeu primeiro por mensagens de texto: “Você não está ‘encanado’ com isso, não? Não preciso de estruruta de Câmara para tirar fotos. Eu não tenho [nada] a dizer”.
Em seguida, por telefone, Lúcio ainda negou o uso indevido da Câmara. “Lógico que não, você tem que perguntar – sabe para quem? – lá para o pessoal da Câmara, se tem alguma coisa minha lá. Deixa eu falar, faz uma entrevista comigo sobre o meu trabalho… Quem é VERBO ONLINE para querer saber da minha vida, parceiro?”, disse. Este site disse que era de interesse público. “Não tenho nada a dizer, tá bom?”. Ele apagou as mensagens – já copiadas.
Quem fez o material de Lúcio para campanha foi o diretor de Comunicação, Alexandre Oliveira, assessor direto do presidente Hugo. Ele fez o “serviço” completo. Além de fazer as fotos, com equipamentos da Câmara, Alexandre “tratou” as imagens, também no computador da Casa. Questionado, ele tentou despistar. “Que fotos?”, disse. A reportagem repetiu: “Do candidato a vereador Lúcio Costa, dentro da Câmara”. Ele: “Não fiz foto para candidato”.
Este repórter então disse: “Mas fez quando ele era pré-candidato?” Alexandre voltou a negar: “Não”. Este portal permitiu que o diretor de Comunicação puxasse pela memória: “Tem certeza? Pelo que apurei, você fez fotos para o candidato”. Alexandre debochou: “Apurou? kkkk”. A reportagem disse: “Qual é a graça? A questão é muito séria”. Ele calou. Questionado sobre Hugo ter autorizado o uso indevido, o diretor-geral Felipe dos Santos emudeceu.