RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Em 2016, em que se elegeu prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos) distribuiu à população o plano de governo (uma revista) com 10 promessas de campanha para mandato de 2017 a 2020. O VERBO foi às ruas para conferir se as intenções saíram do papel. Hoje, checa se Ney, candidato à reeleição, cumpriu a primeira: “melhorar as condições dos ambientes escolares da rede municipal, adquirindo equipamentos e materiais de ponta”.
Ney iniciou a reforma de escolas em 2018, na Elza Marreiro (Jardim dos Moraes). Só um ano depois, em agosto de 2019, reformou a EM Reynaldo Ramos de Saldanha da Gama, no Fátima. A José Ramos (Santa Tereza), José Salvador Julianelli (Novo Campo Limpo), Mauro Ferreira da Silva (Sílvia), Jossei Toda (Pinheirinho) e Astrogilda Abreu Sevilho (Parque Jane), em obras, tiveram reforma concluída apenas em março, apesar da promessa até novembro.
Na entrega da Reynaldo, em agosto, o secretário Pedro Angelo (Educação) disse que “estamos trabalhando para [reformar] mais 18 escolas no ano que vem [2020]”. Já Ney disse “projetar mais 20 para o ano que vem” – “elevou” a promessa. Eureka! Em fevereiro, o secretário Jones Donizette (Governo), “o marqueteiro da ilusão”, como a brincar de somar, disparou via WhastApp: “Histórico – 38 escolas sendo reformadas – Mais Uma Promessa Cumprida”.
No entanto, o governo se mostrou lerdo. Mais de um ano depois e a três meses do fim de 2020, não entregou a reforma de mais nenhuma, mesmo com as escolas sem aula devido à pandemia. Ao ver que não ia cumprir a promessa, Ney pôs Pedro Angelo e o secretário Evandro Sartori (Obras) do lado e fez um vídeo em 4 de setembro, às vésperas das eleições, para dizer que iniciou a reforma de cinco escolas – tinha dito que seriam 20 neste ano.
“Iniciamos a reforma de cinco escolas, escolas importantes para o crescimento da educação da nossa cidade: Valdelice, Amilton Sugga Gallego, Delfina, Azteca e Paulo Freire”, disse Ney. Na postagem, ele citou as unidades, sugerindo que a meta estava no fim: “Totalizando 38 escolas reformadas até o final de 2020!” Nesta semana, o VERBO visitou mais de dez escolas municipais, entre elas quatro mencionadas por Ney, e viu outra realidade.
Prédios bastante degradados, pintura apagada, paredes descascadas, trincadas e com pichações por toda parte, muito mofo, vidros e grades quebrados, telhados que “vazam” água da chuva, banheiros mal conservados e sujos, torneiras de bebedouros arrancadas, quadras semidestruídas, sem equipamentos esportivos, fachada com mato invadindo a calçada, terrenos com muita sujeira foram alguns dos problemas encontrados pela reportagem.
A escola Antônia Augusta Delfina Moraes, no Santo Eduardo, citada por Ney, está em obra, mas a reforma apenas começou, terminar antes do fim do ano é ficção. “E esta reforma?”, disse o repórter. “Pois é? E essa bagunça? Por causa disso, estou aqui para retirar todos os livros das salas”, disse uma professora, após passar na escada por canos arrancados. O servente de pedreiro lamentou pelas crianças estudarem em condições tão precárias.
“Trabalhando lá em cima [andar superior], um dia garoou um pouquinho, mas choveu tanto aqui dentro, tanto, que senti dó das crianças. Imagine os professores que tinham que correr com as crianças”, disse o rapaz. “As salas lá de cima vazam todas”, confirmou a professora. O servente disse que a reforma só deve terminar após o perído da volta às aulas. “Começou no mês passado. Vai levar de seis a nove meses, deve acabar depois de março”, falou.
A reportagem encontrou homens trabalhando na Maria Josefina Azteca, no Jardim Taima, e no Paulo Freire, no Santa Emília, mas também no início de reforma. Na Azteca, onde o mato chega a ultrapassar a grade, ainda lixavam parede. Um servente disse: “Ainda vai demorar”. No Paulo Freire, com entulho na frente, a inspetora disse que a obra deve virar o ano. Já a piscina, deteriorada, não será reformada. “Não faz parte da escola [Educação]”, disse.
Na Valdelice Prass, Parque Pirajuçara, que tem até rachaduras, a empreiteira começou a trabalhar há apenas três semanas. “A previsão é de oito meses para terminar a reforma”, disse um servidor. Já as demais escolas, como a Villa Lobos (Jardim Batista), Jacarandá (Jardim Júlia), Marajoara (Santa Clara), Jequitibá (Pinheirinho), Iodoque Rosa (Engenho Velho), Suely Maria (Santa Tereza), também visitadas por este portal, não passam por qualquer reforma.
O estado de abandono da Suely Maria foi mostrado pelo VERBO em setembro de 2019, após uma mãe denunciar. Há dois meses, a creche foi vandalizada, em mostra do prédio precário, que segue sem reforma. A falta de zelo só não é pior graças à cobrança das famílias, como na Rosa Cirelli Santos, no Santa Bárbara. “Na escola do meu filho, as salas são adequadas, até porque sou bem chata, se tiver algo errado já reclamo”, disse uma mãe à reportagem.
O VERBO checou a outra promessa de Ney na Rosa Cirelli, já que bem cuidada – “poupou” as sem o básico, que dirá “materiais de ponta”. De novo, frustração. As lousas estão “em bom estado”, mas sem nenhum recurso tecnológico. O repórter exibiu a foto usada por Ney para convencer pais de que as crianças teriam meios modernos e indagou se o filho estudava como na imagem ou algo parecido. “Não. As atividades são no caderno e livro”, disse a mãe.
Na escola Valdelice, que já foi considerada modelo, o servidor disse que as as lousas das salas infantis “são de giz” e as do fundamental I e II são também digitais. Mas não novas. “São da época da inauguração”, afirmou. O complexo foi construído em 2008 (governo Geraldo Cruz) e inaugurado em 2009 (gestão Chico Brito). Indagado se os alunos estudavam com algum recurso tecnológico como as crianças em prancheta digital da foto de Ney, ele gargalhou.
Na “prova dos nove”, Ney deve reformar apenas sete escolas até o fim do ano, mais nenhuma nova. É muito aquém das 38 que o próprio prefeito e pretendente a novo mandato alardeia, em clara propaganda enganosa. Tampouco Ney adquiriu os ditos “materiais de ponta”. Ele teria distribuído tablets, mas só agora na pandemia para as aulas virtuais, e só para 1.300 alunos – a rede tem 30 mil estudantes. Ou seja, Ney não cumpriu a primeira promessa.
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