ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Expositores da Feira de Artes e Artesanatos de Embu das Artes fizeram um protesto neste domingo (23) em que cobraram do prefeito Ney Santos (Republicanos) a volta das atividades. Ney, que é candidato à reeleição, tem ignorado os apelos para que os artistas voltem a expor os trabalhos que atraem turistas de várias partes do Estado e até do exterior. Ele suspendeu a feira, no Centro Histórico, no dia 15 de março, devido ao novo coronavírus.
Apesar da pandemia, bares e restaurantes voltaram a funcionar no Centro Histórico de Embu, há quase dois meses, desde 29 de junho, menos a feira. Mais de 200 artistas e artesãos se concentraram no coreto e caminharam pelas ruas ao redor da praça central com cartazes e palavras de reivindicação ao governo municipal. “Retorna a feira já!”, “Sr. prefeito Ney Santos, queremos trabalhar!”, protestaram, ao citar uma tradição de mais de 50 anos.
“A Feira de Embu não pode morrer. Comércios abertos com aglomerações enormes, por que nós, ao ar livre, não podemos trabalhar? Respeitando o distanciamento social de dois metros para cada banca, não teria aglomeração nenhuma. Não é justo! Queremos trabalhar, é o nosso direito. Nos escutem”, reclamou uma expositora no ato. O protesto foi realizado pelo movimento dos artistas e artesãos, com apoio da Aefea (associação dos expositores).
Os expositores têm uma parceria com empresa de engenharia de segurança de eventos que elaborou um projeto para retorno com cuidados necessários. Entre as medidas, a feira teria público máximo de 40% da capacidade anterior, ou seja, 8 mil pessoas por dia, uso de máscaras e luvas, disponibilização de álcool em gel em todas as “tendas de exposição”, e distância entre as barracas de 1,5 metro, “com população máxima de uma pessoa/tenda”.
A feira de Embu tem cerca de 460 expositores, mas nem todos retomariam a atividade de uma vez, o que reduziria a concentração de público. “Os expositores cobram o retorno da feira, dos que precisam trabalhar, cada um tem que ser livre para voltar no seu momento seguro. Mas a feira tem que voltar. Ela recebeu cerca de 200 pedidos de licença, então voltariam entre 220 e 260 expositores”, disse a porta-voz da Aefea, Ana Rodrigues, ao VERBO.
A burocracia estaria emperrando a volta da feira de Embu. Conforme apurou a reportagem, a Secretaria de Turismo do governo Ney enviou três vezes um formulário com cinco folhas para cerca de 460 expositores para que confirmassem o retorno às atividades ou informassem pedido de licença, que poderia ser de 60 a 90 dias. Acontece que depois foram informados que seria facultativa a presença, logo os formulários se tornaram desnecessários.
Ainda assim, a supervisora de Turismo e coordenadora da feira, Maria Augusta de Queiroz, impôs que todos os expositores preenchessem, sugerindo que a feira não voltaria enquanto não respondessem. “Muitos expositores que pediram a licença de 60 dias, [o prazo] já encerrou e até agora nada. Só queriam ganhar tempo e provocar mal-estar entre os expositores. Ainda informou o e-mail errado para quem quisesse responder”, criticou Ana.
O governo Ney alega que a volta da feira depende de autorização do governo do Estado conforme o plano de flexibilização da quarentena. A gestão recebeu um grupo de expositores na semana passada e escolheu uma comissão com cinco membros que iriam com representantes da Secretaria de Turismo em uma reunião com o governador João Doria (PSDB). A pasta disse aguardar que a agenda seja marcada pelo Palácio dos Bandeirantes.
“Pura balela para segurar os expositores. Na realidade, só depende mesmo do prefeito, mas o jurídico barra tudo que se refere à feira. Não conhece nada da feira. Aliás, até agora nenhum representante da gestão que recebeu os expositores tem conhecimento real da feira e a importância dela para a estância turística [Embu]”, lamentou Ana. A secretaria de Turismo tem um secretário recente, Marcello Saporito, mas que não teria voz ativa sobre a feira.
Com o impasse, os espaços dos expositores estão sendo ocupados pelas mesas de bares e restaurantes, sem fiscalização da prefeitura – eles pagam taxa de uso e ocupação do solo. Apesar dos obstáculos, a manifestação foi considerada positiva. “Foi intensa e realmente chamou a atenção, pelo menos 200 expositores já fazem um movimento importante”, disse Ana, que postou que “o descaso do prefeito não vencerá 51 anos de arte e cultura”.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o secretário disse que a prefeitura não pode retomar a feira. “O governo de São Paulo não liberou, diferente de bares e restaurantes. Estamos esperando o governador autorizar para poder abrir. A vontade deles [expositores] é a nossa”, disse Saporito. Ele confirmou aguardar o Estado marcar reunião com Embu e afirmou dialogar “semanalmente” com os expositores. Também contatada, Augusta não quis se manifestar.