Após ‘negociata’ com Ney, Câmara vota conta rejeitada de Chico de 2016 nesta 4ª

Especial para o VERBO ONLINE

Chico e Ney em 2015; parecer do TCE pela reprovação das contas de Chico por não aplicar mínimo na educação e volumosas "inconsistências contábeis" | Divulgação

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Nesta quarta (4), às 10h, a Câmara de Embu das Artes vai votar as contas do ex-prefeito Chico Brito de 2016. A sessão é cercada de expectativa após a revelação, pelo VERBO, de que o prefeito Ney Santos (Republicanos) negociava com Chico, com voto dos vereadores que controla, a aprovação da gestão do aliado, inclusive no último ano de mandato – reprovada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em troca, Chico ia “entregar” o PSD para apoiar Ney à reeleição.

Ney ia sacramentar a “negociata” com Chico em almoço em sua casa, com participação de vereadores da base, no início do mês passado, até “vazar” – o “banquete escuso” ficou indigesto e não teria ocorrido. A tratativa estava adiantada. Na volta dos vereadores do recesso, no dia 5 de fevereiro, os governistas mudaram o relator das contas na Casa, escolheram Índio Silva (Republicanos). Índio, amigo de Chico, atuou no governo dele, como cargo político.

Na apreciação das duas contas anteriores de Chico, de 2013 e 2014, que também foram rejeitadas pelo TCE, Índio se absteve na votação da primeira e foi contra a reprovação da segunda. Doda Pinheiro (sem partido, expulso do PT), relator das duas primeiras contas de Chico, seria mantido, mas com o novo “contexto” foi trocado – ele é desafeto do ex-prefeito. Ney e Chico retomam com vigor a “parceria” iniciada em 2014 e que valeu a eleição do atual mandatário.

O próprio Chico que confirmou o “negócio”, com aliados de Ney, o secretário Pedro Angelo e o ex-secretário Gustavo do Racho, agora no PSD “entregue”. “Tá’ feito, prefeito, palavra empenhada, palavra cumprida, meu irmão, tá certo? ‘Tamo’ junto. Um abraço. Amanhã eu ligo pra você para conversarmos pessoalmente, tá bom? ‘Tá’ aqui o seu presidente Pedro Angelo e o próximo vereador mais votado de Embu das Artes, Gustavo”, diz Chico em áudio.

Chico busca que a Câmara com vereadores “obedientes” a Ney rejeite o parecer do TCE, um órgão técnico, para voltar à cena política de Embu, em vista de futuras eleições, com sinal verde. “Com a troca do relator, o compromisso do Ney é aprovar as contas. Eles traçaram a estratégia de aprovar para que Chico tenha algum elemento para contestar as outras duas que foram reprovadas”, disse a liderança, sob anonimato. Com a rejeição, Chico hoje está inelegível.

Contudo, parte dos governistas repudia Chico e não se mostrou disposta a cumprir o acordo. “Tem vereador que disse que só vota a favor das contas do Chico se tiver ‘algum’, se ‘molhar a mão’, senão não vota. Agora, já tem quem fala que vai votar porque o Ney está mandando”, revelou a liderança, próxima a Ney. Porém, com o “vazamento”, eles ficaram preocupados e falaram em não se expor mais – votar contra o parecer do TCE pela reprovação das contas.

Os governistas temem prejuízo eleitoral em ano de pleito municipal ao “salvar” Chico. Com a “negociata” tornada pública, temem ser acusados – ao votarem pró-Chico – de “demagogos” ou, pior, de terem sido “recompensados”, sobretudo os que passaram os três últimos anos no ataque ao ex-prefeito. Os mais ácidos à gestão Chico são Bobilel Castilho (PSC), Gilson Oliveira (MDB), Ricardo Almeida (Republicanos) e Carlinhos do Embu (PSC), além de Doda.

Para que o parecer do TCE prevaleça e as contas de Chico sejam reprovadas, bastam seis votos. Quatro estariam já certos – Rosângela Santos e Edvânio Mendes, do PT, e André Maestri (PTB), da oposição, e um da base de Ney. Entre as várias irregularidades, Chico gastou 24,58% do orçamento em educação (mínimo é 25%), teve “grave descaso com a gestão dos recursos previdenciários [Embuprev]” e incorreu em “inaceitável volume de inconsistências contábeis”.

Na votação das contas de Chico de 2014, há dois anos, oito acompanharam o parecer do TCE pela reprovação: Doda, Bobilel, Joãozinho da Farmácia (PL), Jefferson do Caminhão (PSDB), Carlinhos, Ricardo, Gilson e Maestri; seis foram contrários e a favor do ex-prefeito: Dra. Bete (PTB), Luiz do Depósito (MDB), Gerson Olegário (PTC), Índio, Gideon Santos (Republicanos) – suplente, hoje não mais na Casa – e Daniboy (DEM); dois se abstiveram: Edvânio e Rosângela.

As contas do ex-prefeito de 2013 também foram reprovadas, há três anos, igualmente por oito vereadores que seguiram relatório do TCE, também pela não aprovação: Doda, Bobilel, Ricardo, Gilson, Maestri, Rosângela e Luiz do Depósito; quatro foram contrários e pró-Chico: Carlinhos, Joãozinho, Zezinho Barros (PSDB), suplente, e Daniboy. Índio se absteve – Júlio Campanha (Republicanos), Dra. Bete e Gerson Olegário faltaram à sessão, com justificativa.

“Muitos desses vereadores culpam a gestão passada de deixar um rombo milionário na prefeitura. Se votarem a favor, a teoria de que a gestão passada foi péssima cai por terra!”, apontou a munícipe Hilka Caldi na rede social. Aliás, em caso pitoresco, após culpar a gestão petista pelo abandono de Embu, Carlinhos e Zezinho se expuseram ao “ridículo” ao não levar em conta que apenas uma semana antes tinham sido a favor das contas de Chico de 2013.

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