Gestão Ney compra saco de lixo 3 vezes mais caro apenas pelo ‘logo de Celsinho’

Especial para o VERBO ONLINE

Autorizações de fornecimento de saco de lixo sem logo do Serviços Urbanos, a R$ 36, e com logo, a R$ 88,60; Celso, que fez a compra superfaturada | Verbo Online

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em prática reveladora do cúmulo do desperdício do dinheiro público e do superfaturamento de preço, o governo Ney Santos (Republicanos) comprou saco de lixo por preço quase três vezes mais caro do que outro praticamente igual adquirido, apenas por mandar gravar logomarca da Secretaria de Serviços Urbanos. A rigor, não é exatamente igual. O saco com sobrepreço é flagrantemente de qualidade muito inferior. A pasta é do secretário Celso Vasconcelos.

O VERBO obteve as autorizações de fornecimento dos dois tipos de saco de lixo, comprados apenas com dois meses de diferença. Na AF 759/2019, de 14 de maio de 2019, o “saco de lixo 100 litros (reforçado)”, com especificação “preto, medindo 90 cm altura x 80 cm largura, micra 10, polietileno de alta qualidade. P 10, embalagem c/ 100 unidades cada. 1ª qualidade”, conforme a descrição do pedido, aparece com preço de R$ 36 como valor unitário, total de R$ 3.600,00.

Vereador Edvânio Mendes, do PT, denuncia em julho compra suspeita de saco de lixo com logo da Secretaria de Serviços Urbanos da gestão Ney | Reprodução

Já na AF 361/2019, de 14 de março, exatos dois meses antes, o “saco de lixo 100 litros (reforçado)”, com especificação “preto, medindo 90 cm altura x 85 cm largura, micra 10, polietileno de alta densidade, P10, Impresso um logo […] na frente e no verso dos sacos, medindo 55 cm x 55 cm na cor branca, Embalagens c/ 100 unidades cada, 1ª qualidade”, tem preço de R$ 88,60, 2,46 vezes a mais que o saco sem logo. Com quantidade de 120, a compra ficou R$ 10.632,00.

A ação do secretário Celso – marketing que pode ser chamado de inútil – chamou a atenção. “É o mesmo saco de lixo, pela qualidade que ele descreveu. Que saísse R$ 4.000, R$ 4.500 [um pouco mais que R$ 3.600]. E não R$ 10.632, um absurdo. Com certeza é uma compra superfaturada, pagou R$ 7 mil a mais só para escrever o nome. Entendidos falam que seria incluso no valor. R$ 88 o pacote é muito caro”, diz o morador João da Paixão, que denuncia a compra.

“E era entregue o saco de lixo inferior, pagava pelo reforçado, e o rapaz entregava um de qualidade inferior ao que está na licitação. Dá para perceber só de tocar no material. E já existia contrato para se adquirir saco de lixo, comprou fora da licitação e superfaturado. Ele [Celso] tentou promover a prefeitura, mas foi infeliz, não se faz propaganda em saco de lixo. É uma compra ilegal, imoral, sem necessidade nenhuma. Vou cobrar na Justiça por isso”, afirma Paixão.

Há quase dois meses, no dia 18 de julho, o vereador Edvânio Mendes (PT), da oposição, tinha denunciado o saco de lixo “personalizado”, em um vídeo na internet. “População, eu já vi de tudo [neste governo]. Mas prefeito gastar recurso público na impressão de um saco de lixo é brincadeira! É jogar literalmente dinheiro público no lixo!”, disse, ao fazer o gesto. Ele disse que ia fazer um ofício para cobrar informação de quanto foi gasto a mais com a impressão.

“Os R$ 16 milhões que você [Ney] tirou da saúde é para isso? Os R$ 13 milhões para a comunicação é para isso? Aqueles R$ 5 milhões do ‘Cartão [Cidadão’] que ninguém sabe, ninguém viu – não serviu para nada, só para tirar dinheiro da população -, é para isso? […] Eu quero resposta, a população quer. Estou fazendo minha obrigação [fiscalizar]. A do prefeito não é fazer esse tipo de absurdo, jogar dinheiro público no lixo, não!”, protestou Edvânio.

Procurado pelo VERBO, Edvânio disse que Ney negou informação sobre o gasto com o saco de lixo e condenou a compra superfaturada. “É imoral, para não dizer outra palavra. Com a situação crítica da cidade, falta de remédios, médicos, e o governo até atrasando salários dos servidores, autorizar isso é um disparate. Mostra a incompetência deste governo, uma demonstração grotesca de gestão. Cabe uma CEI [CPI] para investigação mais a fundo”, afirmou.

OUTRO LADO
Questionado sobre a compra de saco de lixo com logomarca da secretaria que chefia por preço quase três vezes mais caro que o produto sem emblema gravado, o secretário Celso, conhecido com Celsinho, negou sobrepreço, tentando intimidar. “O senhor [repórter] está mal informado. Não existe R$ 88,60 a unidade. Quem disse esta mentira? Irá receber processo de crime. De calúnia e difamação. E faço questão de acompanhar a entrega da intimação”, falou.

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