Por apoio a Ney, Doda afirma que no PT não sabia o que defendia, era ‘marionete’

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em um malabarismo retórico cada vez mais impressionante para justificar apoio ao governo Ney Santos (PRB), após ter feito pesadas críticas ao prefeito em passado recente, o vereador Doda Pinheiro (sem partido, expulso do PT) fez nova declaração inusitada e disse que quando militava na sigla de Lula participava de manifestações convocadas por aliados petistas sem saber o que estava defendendo, era “marionete”. Ele disse, porém, que não será mais conduzido.

Aliado – e líder – de Ney na Câmara, em troca de cargos, Doda voltou a manifestar incoerência em relação à trajetória política ao atacar Rosângela Santos (PT), incomodado pela vereadora ter defendido, em reunião no Sindicato dos Servidores de Embu na sexta (16), as ADIs (auxiliares de desenvolvimento infantil) que não foram reconhecidas como professoras por Ney – Doda já teve o apoio do professorado, mas hoje é criticado e até rechaçado pela categoria.

“Eu entendo o desespero da oposição. Se tem uma coisa que aprendi a fazer na minha vida é tratar a política de maneira profissional e com razão. As paixões, as emoções não me convencem mais, porque eu já defendi o PT de unha e dente. Eu, inclusive, fui um dos militantes que fui [sic] no aeroporto de Congonhas quando a Polícia Federal queria fazer a condução coercitiva do Lula para ser preso [para se manifestar contra]”, recordou Doda, então filiado.

Doda disse não se arrepender, mas ao estilo de “cuspir no prato que comeu” tentou escamotear que era manipulado e que não seria petista por convicção. “Não me arrependo de ter ido, só que eu deixei de ser marionete. Fui a vários atos na Paulista articulados pela CUT, Sindcoop [cooperativa habitacional do Sindicato dos Químicos], Apeoesp para defender interesses que nem sabia que estavam sendo defendidos lá”, declarou ele, de forma surpreendente.

“Deixei de ser marionete. Se vocês quiserem continuar aplaudindo, batendo palma para falácias, fiquem à vontade, é direito de vocês. Mas marionete, eu não serei mais. Não serei mais. De partido nenhum. Só muda a sigla partidária, os interesses são sempre os mesmos. Então, quando a gente aprende que a política tem que ser tratada com razão e sem paixões as coisas começam a caminhar”, disse Doda. Confuso, ele chamou UBS de “educação básica de saúde”.

O ex-prefeito Geraldo Cruz, que já chamou Doda de “vendido”, ironizou a fala do vereador. “Eu tenho 39 anos no PT, estou desde a fundação, desde o início da discussão da necessidade de um partido com a postura que o PT sempre teve, de defesa da causa dos trabalhadores e luta pela inclusão social. Nunca o PT me chamou para qualquer coisa que não deixasse claro as intenções e projetos. Às vezes tem pessoas que não conseguem ter discernimento”, disse.

O presidente do PT de Embu, Gabino Silva, lembrou que Doda foi expulso do partido, por infidelidade partidária, e é ingrato. Ele apontou que a vereança para Doda acabou. “Simples desespero político. Está tentando via Justiça voltar para o PT. Sem êxito. Foi expulso do PT. Politicamente, vai ter dificuldade de, em 2020, continuar vereador. Se elegeu vereador em 2016 porque o PT o elegeu”, disparou. Gabino era aliado de Doda, foi eleito presidente com apoio dele.