RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Funcionários dispensados da antiga gestora da saúde de Embu das Artes completaram dois meses sem receber direitos como rescisão e multa de 40% sobre Fundo de Garantia por conta de o prefeito Ney Santos (PRB) não ter feito repasses à empresa Edusa. Não bastasse o que chamam de descaso e humilhação, os profissionais denunciam que estão sendo coagidos a assinar declaração de que abrem mão da multa por atraso de salário para conseguir ver a “cor do dinheiro”.
O VERBO acompanha desde o início o sofrimento imposto pelo governo aos funcionários que atendiam nos pronto-socorros de Embu pela Edusa – 265 -, demitidos em 1º de abril após a organização de saúde (OS) deixar a gestão. Desde o início de abril, quando a prefeitura prometeu acertar os valores devidos, dezenas de profissionais procuram este site para denunciar o não pagamento, que deveria ter sido feito até dez dias após a dispensa – já são 64 dias de atraso.
Em nova face do caos na saúde sob Ney, os profissionais falavam, no fim de abril, não saber “mais a quem recorrer”. “Sou ex-funcionária da empresa que recentemente foi trocada pelo prefeito, e até o momento não recebemos nossa rescisão. Quando questionamos a empresa, a mesma diz que está dependendo do repasse da prefeitura. Entramos em contato com a prefeitura, mas sem sucesso. Estamos em situação difícil, a prefeitura só enrola, falando datas”, disse.
Um mês depois, nada mudou, ou melhor, a agonia só aumentou. “Gostaria novamente de dar meu depoimento, pois até agora nada foi resolvido referente ao pagamento das rescisões. Eu, inclusive, logo ganho a minha filha e estou sem um real. É desesperador. Um direito que eu teria, ninguém está se importando com isso, é desumano. A prefeitura faz algumas propostas, mas nada de concreto até hoje. Só enrolação”, disse uma ex-funcionária, que foi desligada grávida.
“Mais uma vez, venho pedir a ajuda de vocês sobre o mesmo assunto, Edusa x prefeitura e nós funcionários. Até hoje nossos direitos não foram pagos, foi apenas liberado o FGTS ainda faltando alguns meses que não foram pagos. Todas as semanas, todos os dias eles falam que vão dar um parecer e nada. […] Gostaríamos muito que vocês ajudassem a gente nessa causa, sempre que vocês intermedeiam eles resolvem alguma coisa”, disse outra profissional de saúde.
Outra ex-contratada que trabalhou em um dos PSs de Embu relatou o “descaso” da gestão Ney. “Mais uma vez estou aqui para denunciar o descaso com os ex-funcionários da Edusa, antiga empresa contratada pela prefeitura de Embu. Até o momento não pagaram a rescisão e a multa dos 40% do FGTS. […] Eles alegam não ter dinheiro para efetuar os pagamentos rescisórios. Como é que tem para promover festa junina com grandes nomes da música?”, protestou.
O sindicato SindBeneficente Cotia intermedeia para que os funcionários recebam os direitos, mas a gestão Ney cria dificuldades. “Não tem nenhuma proposta oficial da prefeitura. Na outra vez [desligamento da Resgate e Vida], foi mesma enrolação, só que ainda resolvemos de maneira mais consensual. Só que agora a interferência de pessoas da Secretaria da Saúde atrapalha tudo. A prefeitura deve tudo aos trabalhadores”, disse o presidente Homero Fraccari.
Sem honrar o que deve, a gestão Ney apela para “expediente” escuso, denunciam ex-contratados da Edusa que foram absorvidos pela OS que assumiu os serviços, a AMG (Associação Metropolitana de Gestão), e continuam nos PSs. “Agora estão designando funcionários da prefeitura e um olheiro infiltrado no PS para coagir os funcionários que atuam na atual empresa a abrir mão das multas de rescisão, senão serão demitidos. É um absurdo”, revelou uma profissional.
A denúncia não parte apenas de um profissional, mas de todos os que estão sem receber, e a investida é explícita. “Minha prima trabalha no PS Central, e eles não pagaram os direitos trabalhistas dos empregados, que foram mandados embora no dia 1 de abril. E agora estão sendo coagidos a assinar um papel para não aceitar multa de atraso. Quem não concordar vai ser mandado embora”, disse um familiar. Os próprios funcionários têm medo de se expor.
Eles acusam a secretária-adjunta de Saúde. “Ontem [21 de maio], a senhora Maria Serrano disse que os funcionários teriam que fazer uma carta de próprio punho, abrindo mão da multa por atraso de salário, ou seria mandado embora. Trabalhamos muito, no PS Central, Maternidade, Hospital Leito, UPA, demos nosso sangue e por muitos meses recebendo salário atrasado, e não querem pagar o que é direito nosso? É uma falta de respeito e assédio moral”, disse.
OUTRO LADO
No mês passado, o VERBO questionou o prefeito sobre não pagar aos ex-contratados da Edusa. Ney só respondeu após insistência. “A empresa tem uma prestação de contas. Ela está sendo analisada para a prefeitura poder repassar o dinheiro para a empresa poder fazer o pagamento da rescisão de todos os funcionários”, disse. Interpelado, ele falou que o repasse só ia sair “quando a comissão que está analisando as contas der ok”. Indagado sobre prazo, ele calou.
Nesta terça-feira a reportagem voltou a questionar o prefeito sobre ainda não ter pago aos ex-funcionários da Edusa: “O seu governo ainda não pagou a multa por atraso de salário, rescisão, multa de 40% do FGTS […], em atraso que completou 63 dias [ontem]. A dívida é solidária [entre organização social e prefeitura]. Quanto tempo mais vai demorar para pagar quem deve? Durante os dois meses o senhor não recebeu salário? E os trabalhadores?”. Ney silenciou.
Maria Serrano alegou que profissionais não se viram representados pelo SindBeneficente. “Vínhamos acertando com o sindicato, mas um grupo de funcionários nos procurou para renegociar. Pedimos que montassem uma comissão. Vivo 24 horas nas unidades e luto por eles. Todos sabem que nunca pressionei ninguém”, disse. Funcionários negam e dizem que pequeno grupo foi à prefeitura por Serrano barganhar pagar os 40% do FGTS à vista em troca das multas.
> Compartilhe pela fanpage do VERBO ONLINE