Secretário de Ney fala que pais que cobram material são ‘oposição’ e é rechaçado

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em “café com jornalistas” na Secretaria de Comunicação, no dia 3, ao ser indagado sobre o atraso do material escolar, o secretário de Educação de Embu das Artes, Pedro Ângelo, reafirmou que o governo Ney Santos (PRB) entregou os itens “básicos” aos alunos da rede municipal no início das aulas, em fevereiro, e fez uma declaração polêmica que irritou os pais. Ele disse que os que reclamavam da não entrega faziam politicagem, eram um “grupo oposicionista ao governo”.

Secretário Pedro Ângelo (Educação) em 'café com jornalistas' em que fez
Secretário Pedro Ângelo (Educação) em ‘café com jornalistas’ em que fez declaração que irritou mães de alunos
Por telefone, Pedro Ângelo
Com Ney ao falar que entregaria kits em fevereiro, Pedro diz à Globo ter entregue material básico; pais negam

Pedro Ângelo se disse surpreso com a negativa dos pais e afirmou ter controle da distribuição, ao se referir a reunião com um grupo no dia 1º de abril na pasta. “Temos os comprovantes de todas as entregas e, pasmem, de todos os pais trazidos para a secretaria que diziam que não tinham recebido, temos registro de quando o pai foi para a escola, o diretor mostrou: ‘Aqui está o caderno do seu filho, que está usando desde o dia, 8, 9, 10 de fevereiro'”, afirmou.

O secretário disse que “em torno de dez pais” apenas procuraram a secretaria para reclamar e “nem todos foram às escolas [para receber], mas os que foram eles [direção] observavam”. Ele admitiu que alunos podiam não ter recebido. “Pode ter acontecido que a criança faltou no dia da entrega, e o professor não identificou essa criança. Pode acontecer? É difícil, mas pode. Mas não identificamos nenhum caso de que a criança passou despercebida e não recebeu”, disse.

Pedro Ângelo informou que, dos 31 mil alunos da rede municipal, o governo atendeu os 28 mil, o total que já utiliza material escolar. Na sequência, ele fez a fala controversa. “A gente acha realmente que foi um grupo oposicionista ao governo que tentou criar um fato, porém […] [são] 28 mil crianças, e recebemos dez [pais], e [dos] que foram à escola, de nenhum foi constatado que [os estudantes] estavam sem material. Aí realmente não tem argumento”, afirmou.

Duas mães que se reuniram com Pedro Ângelo ficaram indignadas ao saberem da acusação. “Achei a atitude do nosso digníssimo secretário de nos chamar de ‘politiqueiros’ muito profissional. Não me ofende! Se cobrar um direito de um filho e como meu dinheiro é investido – pago imposto e não é barato – é politicagem, então estou fazendo. Politicagem ou não, ele tem de cumprir a obrigação dele, para isso é pago e muito bem pago”, disse a moradora Letícia Ramos, 35.

Letícia lembrou entrevista do secretário à TV Globo em que sustentou que os alunos receberam o kit básico. “Ele foi literalmente infeliz na fala dele, nos deixou mais desgostosos ainda com este governo. Ele fala porcarias em rede nacional, quando vamos debater o que é nosso por direito, aí ele acha ruim? Ele quer guerra? Mais uma novela dos kits, ele poderia ter ficado calado. Calado, já estaria errado, mas seria melhor, mas deu essa declaração patética”, finalizou.

A moradora Josiane Oliveira disse que o movimento foi espontâneo. “A movimentação para questionar sobre os kits escolares partiu de pais indignados com a entrevista do senhor Pedro Ângelo na Globo, a partir daí que começamos a convocar pessoas para ir conversar com ele para mostrar que as crianças não receberam o kit. A vereadora Rosângela [Santos, PT] foi nos dar apoio, mas foi convocado por nós pais, não temos nenhuma ligação com o gabinete dela”, disse.

“A gente é morador da comunidade, sabe o que as crianças estão passando, tem filhos na rede, quer ter o nosso direito respeitado, e a declaração infeliz do secretário nos deixou horrorizados e fez nos mexer para questionar. O governo não aceita crítica de forma alguma, já tacha nós moradores de politiqueiros. Mesmo que qualquer um fosse ligado a partido, temos o direito de cobrar os direitos dos nossos filhos, não estamos cometendo erro algum”, disse Josiane, 28.

Apesar de o secretário dizer que só um pequeno grupo reclamou, inúmeros pais nas redes sociais relataram que os filhos não receberam, inclusive serviram apenas de “modelos” para fotos, e o kit foi recolhido. No dia 11, enfim, o kit completo foi entregue. O uniforme, ainda não. À imprensa, Pedro Ângelo chegou a dizer que o fabricante tem “prazo legal de entrega até 30 de abril. Obviamente que, em conversa com a empresa, solicitamos que adiantasse a produção”.

> Compartilhe pela fanpage do VERBO ONLINE

comentários

>