RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
EXCLUSIVO. Uma denúncia feita um dia depois de o agente penitenciário Lenon Roque ter sido preso em flagrante por portar arma com numeração raspada, ao dirigir carro oficial da prefeitura de Embu das Artes em que estava o prefeito Ney Santos (PRB), aponta que “Lenon é o indivíduo encarregado de executar os desafetos da quadrilha liderada por Nei Santos” e que tinha ido ao interior do Estado “executar um indivíduo com quem o bando havia tido desentendimento”.
A denúncia, anônima, foi feita à Deas (Delegacia Especial Antissequestro) da Polícia Civil de Campinas, em 1º de março passado. No dia anterior, 28 de fevereiro, no fim da tarde, Lenon, que dirigia o carro oficial, e Ney foram detidos pela Polícia Militar Rodoviária na rodovia SP-332 no km 143, em Cosmópolis. Lenon disse que era dono da pistola .380 ilegal e foi preso. Ney foi conduzido também à delegacia local, mas disse que não sabia da arma do “motorista” e foi liberado.
Um investigador da Deas Campinas, Adinei Brochi, recebeu o telefonema da denúncia. Em relatório que produziu ao superior, o delegado Rodrigo Aydar Monteiro – a que o VERBO teve acesso -, Brochi relata que Lenon foi preso em flagrante e no momento da prisão “estava acompanhado por Claudinei Alves Santos, vulgo Nei Santos ou Nei Gordo […], atual prefeito da cidade de Embu das Artes e conhecido nos meios policiais por ligações com o crime organizado”.
A denúncia foi feita na mesma manhã em que Lenon era ouvido pelo juiz sobre o flagrante. Brochi suspeita da conduta de Lenon. “Embora tenha registrado em seu nome uma pistola Glock .380, estranhamente a arma que Lenon portava estava com a numeração raspada e acoplada a uma mira laser e três carregadores. Autuado em flagrante, Lenon foi recolhido, e na audiência de custódia realizada na data de hoje em Campinas foi decretada sua prisão preventiva”, diz.
“Na manhã de hoje, este subscritou [investigador] atendeu uma ligação anônima aqui nesta Delegacia, onde uma pessoa voz masculina que não quis se identificar relatou que Lenon é o indivíduo encarregado de executar os desafetos da quadrilha liderada por Nei Santos, sendo que tinha vindo até a cidade de Paulínia para executar um indivíduo com quem o bando havia tido um desentendimento, não indicando no entanto quem seria este alvo”, relata Brochi.
“Mas o anônimo informante comentou algo importante: que esta arma apreendida em poder de Lenon já foi utilizada inúmeras vezes para executar desafetos, e que um confronto balístico da mesa [mesma] com casos não esclarecidos onde foram utilizados o mesmo calibre certamente resultarão em identificação positiva. O informante também comentou que Lenon já responde por homicídio na cidade de Embu das Artes, sendo que a polícia já realizou buscas em sua residência, onde uma arma foi apreendida”, diz. O caso seria a tentativa de homicídio contra Gabriel Binho.
O investigador relata que o anônimo “informou ainda que Lenon já pertencia à quadrilha de Nei Santos, tendo prestado concurso unicamente para poder se valer da função de agente público”. “Tentei obter mais dados com o informante, mas o mesmo não soube declinar, apenas insistindo que um confronto balístico acabaria apontando quem foram as vítimas do bando. Diante da gravidade dos fatos, encaminho a informação à vossa excelência, para as providências que forem necessárias”, conclui, citando registro da ocorrência em Cosmópolis com dados de Lenon, em foto mais jovem.
Após receber o relatório, Monteiro o enviou ao promotor José Cláudio Baglio, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Campinas. “Encaminho, para conhecimento e eventuais providências que julgar pertinentes, relatório produzido pelo investigador Adinei Brochi, do DEAS Campinas, a respeito da prisão de Lenon Roque Alves Rodrigues [Domingos], que no momento da abordagem estava com Claudinei Alves dos Santos, vulgo Ney Gordo ou Ney Santos, prefeito de Embu das Artes, que já cumpriu pena e teria ligação com facção criminosa”, redigiu.
“Cabe observar que a referida prisão ocorreu na cidade de Cosmópolis, área do Deinter 9 – Piracicaba, sendo que neste município de Campinas tão somente recebemos a denúncia anônima ora citada no relatório”, frisa o delegado. Por sua vez, Baglio e outros dois promotores do Gaeco enviaram à promotora Carla Múrcia Santos, de Embu, “documentação contendo informações referentes ao investigado [Lenon] em processo de interesse dessa Promotoria de Justiça”.
OUTRO LADO
Questionado pelo VERBO sobre a denúncia de que Lenon executa “desafetos da quadrilha” que lidera, Ney silenciou. Até hoje Ney não disse o que foi fazer no interior do Estado com carro oficial. Ele mandou dizer que “não comentará mais nada sobre o fato”. Já a defesa de Lenon refutou a denúncia ao observar que “fora registrada somente no dia seguinte, ou seja, 01/03/2019, curiosamente após a noite anterior a veiculação da matéria pelos órgãos midiáticos”.
“Frisa-se Excelência, a riqueza de informações obtidas pelo suposto denunciante referente a apreensão da arma do acusado nos autos em epígrafe, vez que essa informação possui somente quem tem acesso ao processo, NÃO TRAZENDO NENHUM ELEMENTO QUE VINCULASSE O ACUSADO COM O COMETIMENTO DE QUALQUER DELITO MAIS GRAVE, MUITOS MENOS DE SER EXECUTOR ‘PÉ DE PATO'”, diz o advogado de Lenon, Robson Cyrillo, à Justiça.
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