RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O agente penitenciário Lenon Roque Alves, que disse ser dono de uma arma ilegal – com numeração raspada – que estava em carro oficial da prefeitura de Embu das Artes e foi preso quando conduzia o prefeito Ney Santos (PRB) no veículo, em Cosmópolis (140 km de SP), na quinta-feira (28), teve o flagrante convertido em prisão preventiva (detenção por tempo indeterminado até o julgamento) em audiência de custódia, na sexta-feira (1º), segundo o site “Ponte”.
Lenon alegou ter a pistola .380 ilegal “para não ficar desarmado”. Agente da Secretaria de Administração Penitenciária – na Penitenciária Feminina de Santana (zona norte de SP) – ele depôs que teve apreendida a arma que usava por estar “temporariamente afastado há cerca de dez meses de sua atividade-fim por conta do processo criminal que corre pela Comarca de Embu das Artes, sobre o qual também existe um processo administrativo junto ao Governo do Estado”.
Lenon se referiu ao caso Binho. Ele é denunciado pelo Ministério Público (MP) por tentativa de homicídio triplamente qualificado, réu com o hoje secretário de Comunicação de Ney, Renato Oliveira, pelo atentado contra o repórter e chargista do VERBO Gabriel Binho, em 28 de dezembro de 2017. Em carro, Renato e Lenon perseguiram e na rodovia Régis Bittencourt, de madrugada, derrubaram Binho da moto. Binho escapou da morte, mas teve tornozelo quebrado.
Lenon e Renato foram descobertos e indiciados em fevereiro de 2018. Após pressão de jornalistas e imprensa da região, Ney exonerou Renato, que à época era subsecretário de Comunicação. Porém, ele nunca deixou a prefeitura e passou a ser assessor do prefeito. Mas, como uma “promoção” ao “pupilo”, no dia 23 de janeiro Ney nomeou Renato titular da pasta, apesar de ainda o processo seguir. O MP chegou a pedir a prisão dos dois, mas a Justiça não acatou.
A Justiça mandou que Renato e Lenon fiquem distantes de Binho. Em outubro do ano passado, os reús pleitearam a revogação da medida restritiva, mas tiveram negativa. “[…] Indefiro o pedido. Ressalto ainda que a única cautelar imposta é a proibição de contato com o ofendido, seja pessoalmente ou através de qualquer meio de comunicação, devendo guardar a distância mínima de 300 (trezentos) metros”, decidiu o juiz Rodrigo de Godoy, em 18 de outubro.
Na audiência, o juiz Bruno de Paiva Garcia, da Comarca de Campinas (SP), entendeu, sobre Lenon, que há “hipótese de reiteração criminosa e há evidente necessidade de aprofundamento das investigações, inclusive para que seja constatada eventual participação do averiguado com o crime organizado” de Embu, diante da acusação de atentado ao repórter. Ney responde a processo por associação a facção criminosa, além de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
Coube a Renato emitir uma nota de “esclarecimento” sobre o episódio de Ney e o amigo e segurança particular Lenon – ele enviou à imprensa da região, mas não para o VERBO. Mas não esclarece o que o prefeito foi fazer em Cosmópolis em viagem em carro oficial, o que mais se pergunta hoje em Embu. “A prefeitura municipal de Embu das [sic] assim como o prefeito Ney Santos não comentará [sic] mais nada sobre o fato”, escreveu Renato, às pressas, com erros.
Apesar de procurar afastar qualquer proximidade, como dizer que foi a primeira vez que teve o agente como motorista, Ney tem contato frequente com ele. Lenon frequenta os lugares restritos na prefeitura em que Ney transita e é visto muito à vontade – despojado em assentos – na secretaria de Renato, além de participar de atos oficiais do prefeito, como a inauguração de creche em Itatuba, em dezembro. Como Lenon disse ser o dono da arma, Ney não ficou detido.
Conforme a “Ponte”, a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária divulgou nota em que afirma que Lenon “está atualmente afastado de suas funções na Penitenciária Feminina de Sant’Ana para tratamento de saúde” – motivo diferente do alegado pelo indiciado. A secretaria diz ainda que “a conduta do agente será objeto de análise, por meio de processo administrativo que poderá resultar em demissão a bem do serviço público”. O desligamento seria questão de tempo. Fonte ligada ao governo disse à reportagem, porém, que “o Estado já está providenciando a exoneração dele”.
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