RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Além de dizer ser dono da arma ilegal – com numeração raspada -, o agente penitenciário Lenon Roque Alves, que era o motorista do carro oficial em que estava o prefeito Ney Santos (PRB), parado pela Polícia Militar Rodoviária (PMR) na rodovia SP-332, em Cosmópolis (140 km de SP), nesta quinta-feira (28), não podia estar ao volante do Corolla placa GBH-1255 (encoberta com a placa “Poder Executivo 001”). Lenon está com a CNH (carteira de habilitação) suspensa.
Na delegacia de Cosmópolis, conforme boletim de ocorrência, o policial que patrulhava a rodovia e fez a abordagem, o 2º sargento PM Klinger, relatou que “Lenon também estava com sua CNH suspensa”. Agente penitenciário que atua como motorista e segurança na prefeitura, Lenon é corréu por tentativa de homicídio triplamente qualificado – junto com o secretário de Comunicação de Ney, Renato Oliveira – contra o repórter e chargista do VERBO Gabriel Binho.
Lenon foi preso em flagrante e não conseguiu a liberdade pelo crime de porte de arma ilegal ser inafiançável. Ao ser abordado, ele contou ser agente de escolta e vigilância penitenciária (AEVP) do Governo do Estado, mas disse estar afastado das funções e que dirigia o carro da prefeitura, com Ney como passageiro, “a título de bico”, em substituição ao motorista “oficial”. Lenon disse que estava armado e que a arma estava no assoalho do assento do motorista.
A arma encontrada pela PMR foi uma pistola semi-automática da marca Taurus, calibre .380, “numeração suprimida”, acabamento misto (oxidado e inox), dotada de mira laser, municiada com 15 munições, das quais 14 no carregador acoplado e uma na câmara do armamento. No bolso esquerdo da calça, Lenon tinha um distintivo da AEVP, outros dois carregadores, cada qual com 13 munições, sendo que outras quatro balas avulsas estavam na mochila que carregava.
A PMR encontrou 45 munições no total, todas de calibre .380 e intactas. Apreendeu também um par de algemas inox, um canivete curvo preto e, no banco traseiro, atrás do motorista, um colete à prova de balas preto. Lenon disse que adquiriu o colete de “maneira particular” e que “nada” do que foi aprendido “é bem público, tombado ou patrimoniado”. Sobre a pistola, ele afirmou ainda que comprou “há mais de cinco anos” e já a adquirira “com a numeração suprimida”.
Ney, que depôs como testemunha, contou que se deslocava de Cosmópolis para São Paulo, “quando veio a se perder no meio do caminho ao seguir o aplicativo ‘Wase'”. Disse que normalmente tinha como motorista o guarda municipal Leandro, “quando desses deslocamentos”, mas que o GCM de Embu, por ter um compromisso pessoal (“casamento”), pediu para Lenon o conduzir até a cidade do interior. Ney disse que não se opôs por Lenon ser indicado por Leandro.
Ney disse que foi a primeira vez que fez uso do serviço do motorista preso, mas tinha conhecimento de que Lenon fazia uso de arma de fogo e a portava. Porém, falou que não sabia que a arma que Lenon carregava tinha a numeração “suprimida”. Ele disse também que não tinha ciência de que o condutor não estava regularmente habilitado a dirigir. “Somente na Delegacia de Polícia soube o depoente [Ney] que LENON também estava com a CNH suspensa”, diz BO.
Apesar de procurar afastar qualquer proximidade maior, Ney tem contato com Lenon com frequência. Amigo e espécie de segurança particular de Renato, Lenon frequenta os lugares restritos na prefeitura em que Ney transita e é visto muito à vontade – despojado em assentos – na secretaria em que Renato atua, além de participar de atos oficiais do prefeito. Como Lenon disse ser o dono da arma e Ney “nada de ilegal trazia consigo”, o prefeito foi liberado à noite.
Lenon alegou usar a pistola “para não ficar desarmado”. Agente da Secretaria de Administração Penitenciária, no presídio feminino de Santana (zona norte de SP), ele disse estar “temporariamente afastado há cerca de dez meses de sua atividade-fim”, e teve a arma que usava apreendida, “por conta do processo criminal que corre pela Comarca de Embu das Artes, sobre o qual também existe um processo administrativo junto ao Governo do Estado” – caso Binho.
A PMR resolveu abordar o carro oficial da prefeitura com placa preta, fixada sobre a original, “ante a ocorrência de fraudes na utilização desse tipo de emplacamento especial”, disse. Lenon não foi “liberado ante a impossibilidade do arbitramento de fiança criminal na fase policial, motivo pelo qual será conduzido à Audiência de Custódia do Plantão da 8ª Circunscrição Judiciária de Campinas/SP em 01/03/2019 [nesta sexta]”. Ele deve ter a prisão preventiva decretada.
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