Políticos de Embu dão título ‘a torto e a direito’ e ‘pensam no bem deles’, diz Annis

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Único emancipador vivo de Embu das Artes, que faz 60 anos de emancipação político-administrativa, completados no dia 18, o ex-prefeito Annis Bassith reprovou a falta de critério da Câmara em conceder o título de “Cidadão Embuense”, a maior honraria de Embu, conferida a pessoas que chegaram ao município e contribuíram com destaque para o desenvolvimento da cidade. Annis, aos 91 anos, fez a crítica em reportagem publicada neste mês na “Folha de Embu”.

Annis
Annis, pioneiro e 1º prefeito, em entrevista em que disse que a qualidade dos políticos de Embu é ‘muito ruim’

Primeiro prefeito de Embu, Annis falou sobre a disposição dos vereadores em outorgar a homenagem ao comentar ter recebido o título mesmo tendo nascido (em 1927) no município, de acordo com o emancipador – no território que se tornaria Embu. Ele se divertiu ao citar o episódio. “Eles não imaginam o que é ser cidadão embuense, eles dão o título a torto e a direito”, disse, em crítica ao grande número de homenagens entregues pelo Poder Legislativo da cidade.

Annis disse ainda que os políticos de Embu “pensam muito no bem deles”, ao deixar mensagem à população nos 60 anos da cidade. “Que houvesse mais trabalho, menos politicagem, é o que precisa, sem trabalho você não avança, não é?”. Sobre a qualidade da política de Embu hoje, ele disse: “Vou falar do pouco que eu conheço de Embu: muito ruim. Porque eles não fazem administração para o bem da cidade, eles pensam muito no bem deles, essa é a realidade”.

Annis ressaltou a fundação da Associação Cívica de Embu, em 1958, pela união de interesses de vários setores, que resultou na formação de um grupo de trabalho. As reuniões na casa do advogado Carlos Koch gestaram a luta pela separação de Itapecerica da Serra. “Devagarinho, vimos o movimento crescer”, recordou. Até o pleito chegar ao deputado estadual Fernando Scalamandré (1923-2010). “Ele levou à Assembleia o pedido de emancipação”, salientou.

Annis disse que a resistência era mínima. “Duas pessoas eram contra: Domingos Paschoal e Waldemar Ribeiro. Eram muito aliados de Itapecerica, que não queria. Mas a emancipação foi aprovada no plebiscito e Embu tornou-se um novo município paulista em 18 de fevereiro de 1959”, afirmou. Annis se lançou a prefeito, com Koch, também emancipador, vice. Venceu a primeira eleição da história da cidade em 4 de outubro de 1959. Tomou posse em 1º de janeiro de 1960.

Annis recordou a atuação no cargo e disse que o maior arrependimento que teve foi mandar cortar árvores centenárias que se enfileiravam no largo 21 de Abril (centro). “Eu sou culpado de uma coisa importante, de cortar aquelas árvores. Burrice, burrice, falta de experiência, eu queria alinhar o jardim. […] Foi o maior erro da minha administração, um crime que não me conformo de ter cometido. Hoje eu não teria feito de jeito nenhum, a consciência é outra”, afirmou.

Por outro lado, Annis teve como maior satisfação e orgulho ao administrar Embu a criação, por ato administrativo, da Feira de Artes de Embu, em 1969 – completa 50 anos -, oficializando o que já vinha de forma fragmentada sendo organizado por alguns artistas locais, entre os quais Mestre Gama, Josefina Azteca, Cirso Teixeira, Agenor, Claudionor Assis, entre outros. “A criação da Feira de Artes de Embu foi importante, deu projeção para Embu”, afirmou, visionário.

Annis disse também, porém, que “o que eu gostaria de ter feito e não consegui [como prefeito] foi ter dado mais escola para a mocidade nossa”, ter feito mais do que realizou pela educação do município, em demonstração de modéstia. “O [colégio] Maria Auxiliadora é da minha época, e o prédio do Mosc [Escola Madre Odete de Souza Carvalho, hoje estadual] foi eu que inaugurei”, disse. Além do período de 1960-1963, Annis foi prefeito de novo de 1969 a 1972.

A cerca da política, ele sorriu sobre ter sido de um partido conservador (Arena/PDS) sustentáculo da ditadura e depois ter apoiado em 2000 a candidatura de Geraldo Cruz (PT) a prefeito e de Roberto Terassi (PSB) a vice. “Eu não apoiei abertamente, mas porque eles eram os melhores. Eu não tinha mais vínculo nenhum com partido, nem a política me interessava mais, então eu optei pelos melhores, apesar de eu ser um adversário ferrenho do Geraldo”, disse.

Annis – que entre as duas eleições para prefeito foi vereador (de 1964 a 1968) – contou que durante o último mandato na Câmara (1989-1992) “tive que administrar a minha desavença com a [vereadora] Maria das Graças, ela era do PT”, mas que, “com todas as desavenças, eu saí com uma boa amizade com eles”. Ele disse que goza do respeito de todas as correntes políticas, inclusive a esquerda, “porque conduzia a minha vida política pautada em coisas sérias, por Embu”.

Antes vereador de Itapecerica por dois mandatos, para defender os interesses do Distrito de M’Boy (nome de Embu antes da emancipação), nos anos 1950, o filho dos libaneses Salim Neme Bassith e Excândara Bechara Bassith (dona Alexandrina) disse que valeu a pena a vida pública. “Eu consegui alguns objetivos, o duro é quando fica numa luta e não consegue nada. Eu só tenho a agradecer e fazer votos que o Embu continue na caminhada do progresso”, disse Annis.

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