RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Pelas mãos de Carlos Koch, já falecido, e Annis Bassith, hoje com 91 anos, entre os demais abnegados emancipadores, Embu das Artes faz 60 anos como município neste dia 18 de fevereiro – quando se tornou autônomo de Itapecerica da Serra, 405 anos após a fundação da Aldeia M’Boy (1554). Apesar da data célebre, a Câmara não fará a sessão solene hoje, pela primeira vez na história. Entre os críticos, um morador diz que os vereadores emendaram para ir a “praia”.
Uma das lideranças mais respeitadas de Embu, quatro vezes vereador, Antônio de Jesus Rocha, o professor Toninho, reprovou deixar de realizar a solenidade no dia 18. “Eu não sabia que não teria sessão solene. É uma tradição, já faz parte da história de Embu a preservação da memória da emancipação política da cidade. É um encontro cívico para celebrar não só a memória dos emancipadores, mas de todos que construíram a cidade, as pessoas ‘invisíveis'”, disse.
Toninho disse que a sessão em outra data “perde a simbologia”. “Além de celebrar a história da emancipação, era um encontro social, político e cultural, com abertura com um verdadeiro concerto da nossa Banda Municipal, exatamente no dia 18 de fevereiro. Fazer em outro dia perde o sentido. Fazer em outro dia e não fazer é a mesma coisa. Como professor de história, acho um absurdo, um descuido, para não dizer relaxo, com a identidade da nossa cidade”, falou.
Vereador por três mandatos seguidos e presidente da Câmara Municipal na legislatura inteira de 2009 a 2012, durante quatro anos (eleito e reeleito), Silvino Bomfim disse que à frente do Legislativo lembra que sempre realizou a sessão solene em 18 de fevereiro e também não aprovou a realização da sessão solene fora da data célebre da emancipação, muito pelo contrário. “Não espero mais nada desta Câmara. Só descaso com a história e com a nossa cidade”, criticou.
Silvino deixou de ser o único a dirigir a Câmara durante quatro anos da mesma legislatura justamente com a reeleição do atual presidente, Hugo Prado (PSB), que na “estreia” do segundo biênio já tomou a decisão “polêmica”. A reportagem quis saber de Hugo a justificativa, e disse que moradores comentam que os vereadores emendaram o feriado ao fim de semana para poder viajar. Ele não fala com o VERBO. Diante de tema espinhoso, mandou o diretor da Casa responder.
“A Câmara Municipal de Embu das Artes preza pela participação popular em todos os eventos que realiza, sempre primando por se adequar ao bom atendimento à população e adotando medidas que são identificadas por suas demandas. A mudança na data de realização da sessão solene pelos 60 anos de Emancipação Político-Administrativa, excepcionalmente, se deve ao fato de a Câmara buscar buscar maior participação popular nesse evento solene, bem como permitir aos familiares e amigos dos emancipadores participar da sessão”, disse o diretor-geral Felipe dos Santos.
Santos alegou que o aniversário de Embu é “feriado municipal, apenas” e haver “extensa lista de ações do governo”. “A data de 18 de fevereiro, por se tratar de dia ‘útil’, comprometeria a participação de familiares de emancipadores e populares que trabalham na capital São Paulo ou em outros municípios da região. Além desse motivo, os vereadores acharam por bem transferir a data para o final [sic] de semana próximo devido a extensa lista de ações do governo para agenda do final de semana anterior à data, o que também comprometeria a execução da sessão solene.”
“Salientamos que todos os vereadores também irão homenagear um munícipe da cidade por sua contribuição ao crescimento e formação do município com a medalha ’18 de Fevereiro'”, conclui o diretor-geral da Câmara, sem informar, curiosamente, que a sessão solene ocorrerá no dia 23. O site do Legislativo traz texto sobre a solenidade, mas sem a relação de “todos” que serão homenageados, apenas cita dois nomes e os respectivos vereadores propositores.
A argumentação pode ser considerada falaciosa. Nos anos anteriores, quando o dia 18 de fevereiro caía durante a semana, a sessão sempre teve plenário cheio de munícipes e convidados, conforme reportam textos no próprio site da Câmara e da imprensa regional. Ainda que a alegação fosse verdadeira, a solenidade poderia ser à noite, como faz, por exemplo, a Câmara de Taboão da Serra, que, aliás, celebrará o aniversário da cidade nesta terça-feira (19), às 19h.
O VERBO foi checar a alegada “extensa lista de ações no governo”, no site e na rede social da prefeitura. Além de o dia 18 não ser no fim de semana, só estavam programadas atividades esportivas ontem. Ironicamente, as “ações” – parcas – ocorrerão exatamente no próximo sábado e domingo. Além do mais, Hugo disse que “preza pela participação popular em todos os eventos que realiza”. Curiosamente, justamente há um ano, ele, em regime de urgência, mudou o horário das sessões ordinárias, na quarta-feira, das 18h para 10h, horário de trabalho, dificultando a presença dos moradores.
Ao canal Embu Tuber, o repórter popular Ratinho, antigo morador de Embu, sintetizou o sentimento sobre a decisão. “É a primeira vez na história de Embu das Artes que a data da sessão solene muda. Isso é falta de respeito com o cidadão. Vocês tinham que trabalhar no dia 18 mesmo, Embu está acima de todos os poderes. É uma farra o Legislativo mudar para dia 23, eu repudio. Na segunda, vereadores estão na praia, pegam feriado direto, e a história fica para trás”, disse.
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