ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Itapecerica da Serra
O vice-prefeito de Itapecerica da Serra, Paulo Pereira, o Paulinho (PSB), concedeu entrevista no último sábado (9) em que protestou contra o prefeito Jorge Costa (PTB) por demitir a secretária de Inclusão Social, Helena Rol, sua mulher, e outros 16 membros do partido e anunciou com veemência o rompimento político com Jorge. Sem ser sequer avisado, Paulinho fez uma declaração forte sobre as exonerações feitas pelo prefeito. “Eu levei uma facada pelas costas”, disse.
Em fala três dias após as exonerações, Paulinho deixou claro não ter tido “nenhuma briga com Jorge” e concluiu ter sofrido uma traição. “Não discutimos nenhuma vírgula. O que aconteceu foi que levei uma facada pelas costas”, falou. Questionado sobre qual teria sido a “apunhalada”, ele falou sobre as demissões. “[A facada foi] Quando exonerou 16 pessoas do nosso grupo sem me chamar para conversar, sem ter motivo administrativo para tomar essa atitude”, disse.
Paulinho disse que, pelo contrário, os filiados ao PSB exonerados “produziam”. “O rompimento se deu aqui: de R$ 700 mil em 2016, pulamos para R$ 1,9 milhão de recursos federais em 2018, pelo nosso trabalho. Eles perdiam recurso atrás do outro”, disse. Ele citou uma série de ações como a criação da Diretoria da Defesa da Mulher, capacitação para o emprego que saltou de 500 para 1.200 pessoas e cadastro para programas sociais de 2 mil para 8 mil pessoas”, disse.
“Como ele [Jorge] manda embora 16 pessoas de um partido que só o ajudou sem ter momento de falar ‘o pessoal errou aqui, precisa melhorar’? Como sou partidário, sou grato às pessoas que fizeram que 10 mil votos caíssem na conta dele para ser eleito. Essa equipe levou mais de cem pessoas para reforma do Fundo Social, a prefeitura não gastou nenhum tostão. Depois, ver as pessoas sendo postas para fora sem nenhuma consideração, eu tomei as dores, sim”, declarou.
Questionado pelo VERBO sobre Jorge pedir em novembro que os comissionados entregassem carta de exoneração, Paulinho disse que aceitou pelo prefeito dizer que era para cortar “quem assina a folha e não vem trabalhar”. “Ficamos tranquilos, a nossa equipe foi a que mais trabalhou”, disse. Indagado se Jorge podia justificar os cortes com a carta, ele pediu para uma demitida falar. “Fui coagida, se não assinasse estaria automaticamente exonerada”, contou a mulher.
Paulinho enfatizou que o PSB não faz mais parte do arco de aliança do governo. “Já houve o rompimento à medida que o prefeito não nos respeitou. Nós temos valor. Quem tem valor não tem preço. Ele [Jorge] está acostumado a pôr as pessoas para fora e depois chamar para dar um carguinho, um pouquinho mais para o cara calar a boca”, disse o vice, em subida de tom. Ele passou a uma “lavação de roupa suja” ao dizer que Jorge exonerou, “mas interferência houve”.
“O PSB sempre foi contra a administração anterior [Chuvisco, do PMDB (2013-2016)], na época batemos firme contra a corrupção. Mas o prefeito foi um grande ator para nos ter como vice. Ele saiu do PMDB, se filiou ao PTB e disse para nós que aquela turma envolvida na corrupção, enquanto estivesse sendo investigada, não entraria na prefeitura. Mas está tudo com ele, a administração atual é a mesma de antes, e já nos sentimos oprimidos no meio deles”, disse.
Paulinho disse que, com a gestão anterior “todinha colocada a ele [Jorge]”, a prefeitura não cuida nem da “manutenção dos equipamentos públicos, hoje deteriorados”. Ele disse não ter participação nas decisões. “O que sobrou para mim foi levar porrada do povo na rua”, reclamou. Ele falou que queria ter um fim de semana sem cobranças, mas foi eleito para ajudar Itapecerica e que vive e consome na cidade, diferente de Jorge. “Ele conhece bem a BR-116 e o caminho do Sul.”
O vice acusou que Jorge tem “parentes nas secretarias”. “Ivo [Martello] nas Finanças, Carlão [Hueb], Obras, Trânsito [com Oswaldo] Cardenuto. Deve ter uma meia-dúzia se brincar”, disse. Questionado quantos parentes tem no governo, ele disse “nenhum”, apesar de antes a mulher ser secretária. Ele disse que nos dois primeiros anos Jorge “segurou todo o dinheiro”. “Fez caixa para agora dizer que é candidato à reeleição e resolver as coisas, estilo da velha política”, disse.
O VERBO questionou, porém, que só depois de dois anos Paulinho estava expondo problemas publicamente. Ele disse que cobrava em reuniões, não em público. “Enquanto ele estava deixando pelo menos o nosso povo fazer a diferença, era uma situação, agora é outra”, alegou. Ele negou que o PSB teria ficado até o fim no governo se as exonerações não tivessem ocorrido. “O PSB já cobrava por que o pessoal da gestão anterior e parentes dele estavam no governo”, disse.
Paulinho disse que os exonerados do PSB foram apenas da pasta da mulher, mas rechaçou mágoa pessoal – Helena foi substituída por Tatiana Lopes, ex-Educação. A reportagem questionou como o PSB rompia com Jorge se ainda tinha o comando da pasta da Habitação, do secretário Aguinaldo Ferreira. “Se ele [Jorge] conseguiu segurar ou o cara quis ficar, na próxima reunião [do partido] provavelmente o cara vai estar desfiliado”, disparou ele, presidente municipal do PSB.
Questionado ainda sobre os dois vereadores do PSB – Zecas e Professor Marcelo – não estarem presentes em apoio à decisão do partido, primeiro Paulinho disse que o ato do prefeito “não afetou nenhum cabo eleitoral dos vereadores”. Pressionado a explicar como o PSB podia ser oposição e os vereadores da sigla, não, ele indicou esperar coerência. “Se forem dignos, eles serão oposição junto com o partido”, disse. Mas disse estar “muito cedo” para cobrar os vereadores.
Indagado se as exonerações não ocorreram por vir a ser candidato a prefeito em 2020, Paulinho disse que “em nenhum momento expus a pretensão”, mas que a situação é outra. “Agora a pretensão ficou forte. O partido tem vida própria e agora vai fluir”, disse. Ele avaliou que a exoneração da equipe será prejudicial aos itapecericanos. “A população daqui alguns dias começa a ser maltratada [na secretaria], como é lá no gabinete do prefeito, ele não atende ninguém”, falou.
OUTRO LADO
O secretário de Governo de Jorge, José Carlos Calado, negou que as demissões significam rompimento do prefeito com o vice. “São ajustes de governo, a mudança é extremamente natural. Não tem rompimento, até porque o PSB continua com outra secretaria, a de Habitação. Nada contra a Helena, mas dentro do que foi proposto na campanha não estava correspondendo mais. A gente percebe uma antecipação do processo político [eleitoral]”, disse ele, sobre as críticas.
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