ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Admirado pela luta contra a ditadura militar pós-1964 e em favor da redemocratização do país como militante do PC do B na clandestinidade e pela atuação política em Embu das Artes nos anos 1970 e 1980, o ex-metalúrgico e ex-secretário municipal José Adauto Pedroso morreu neste domingo (10), em Embu, aos 66 anos, de parada cardíaca ao ser atendido na UPA Santo Eduardo com fortes dores. Ele procurou a unidade mais de uma vez e não resistiu após ser medicado.
“Ele estava indo [à UPA] e vindo desde ontem. Eles mandavam para casa, falavam que não precisava internar. Na terceira vez, internaram, […] deram morfina, mas acabou dando parada [cardíaca] hoje de manhã”, disse a filha Flávia Pedroso da Silva ao VERBO. Depois de trabalhar e ter forte participação política em São Paulo e em Embu, Adauto tinha se mudado para Minas Gerais, mas, conforme amigos, retornou para cuidar da saúde, por causa do diabetes alto.
Companheiros de militância e amigos expressaram grande consternação e pesar desde as primeiras informações sobre a morte de Adauto, lembrado em especial pela atuação nos movimentos populares por creche e saúde. “Adauto foi um militante do PC do B nas décadas de 1970 e 1980, secretário do governo [do prefeito Nivaldo] Orlandi, teve um papel muito importante na política de Embu”, disse o ex-vereador Antônio de Jesus Rocha, o professor Toninho (PSOL).
“Ele fez parte da equipe que criou uma série de políticas na cidade. Depois, mudou para Minas, foi secretário de cidade lá. Voltou para São Paulo para cuidar da saúde”, ressaltou Toninho. Ele lembra que Adauto, apesar da saúde já frágil, participou de atos contra o impeachment da presidente Dilma Roussef (PT) e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Era um democrata, contra o golpe, em defesa da democracia. É lamentável perder esse companheiro.”
O ex-deputado estadual Jamil Murad, militante histórico do PC do B, exaltou o “líder metalúrgico” Adauto. “Era um quadro político promissor e deu o nome ao filho de Diógenes Arruda Araguaia. Isto há mais de 30 anos. Eu admirava sua capacidade e compromisso. Foi contemporâneo do saudoso [dirigente operário] Joel Batista. Adauto presente”, disse, ao evocar o fundador do PC do B, Diógenes Arruda, e a ação de resistência à ditadura, a guerrilha do Araguaia.
Nivaldo, prefeito de Embu de 1983 a 1988 e que teve Adauto na pasta de Turismo, lembrou o “professor” e amigo. “Ele foi secretário numa época em que ninguém aguentava comunista, houve uma grande campanha contra, ele ficou menos de um ano. Foi ser assessor do deputado Aurélio Peres. Depois, foi embora para o Vale do Jequitinhonha. Como secretário de Cultura de Padre Paraíso [MG], fez um intercâmbio com a Tônia do Embu e recebeu artistas daqui”, disse.
Adauto voltou a Embu em 2015 para se tratar. “Foi ficando. Eu disse: ‘Fica aí, ajuda a militar, apesar da saúde. Você não sabe como foi importante para a redemocratização, no trabalho popular’. E especialmente para mim, eu era ‘moleque’, quando vereador em 1979, ele me introduziu na militância, me levava para tudo que era reunião de gente da esquerda. E seguiu ativo, foi no ato em Brasília contra o golpe [impeachment], e já fazia hemodiálise. Nem devia ir, mas foi”, falou.
Adauto “morreu lutando”, frisou Nivaldo. “Segunda-feira passada foi a última reunião do nosso comitê de luta contra o golpe. Ele estava lá. Ele estava organizando para abril um congresso de Sociedades Amigos de Bairro de Embu para mostrar o que foi o projeto ‘Mutirão’ no meu governo. Foi um marco. A conquista maior foi o Hospital [Pirajuçara], mas não só. As creches do Parque Luiza e do Ísis Cristina foram mobilização do Adauto e da mulher dele, a Cidinha”, disse.
Adauto não era mais marido de Maria Aparecida Gonçalves, a Cida, que foi vereadora de 1993 a 1996 e mora no Parque Luiza. Ele deixa quatro filhos, Fabiana, Renata, além de Diógenes e Flávia, que acompanhou as últimas horas do pai, com quadro de “muita dor”. “Foi o potássio que aumentou muito e acabou dando parada cardíaca”, explicou Flávia. Adauto será velado partir das 6h30 e sepultado às 11h nesta segunda-feira no Cemitério do Rosário, centro de Embu.
* Com correção sobre a ex-vereadora Maria Aparecida Gonçalves
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