ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
A Feira de Artes e Artesanato de Embu das Artes completa nesta quinta-feira (31) 50 anos de atividade, com obras de talentos reunidos no Centro Histórico que encantam moradores e turistas que visitam a grande “galeria” a céu aberto aos sábados, domingos e feriados (9h às 18h). Os 500 expositores se distribuem por quatro quarteirões, formados pelo Museu de Arte Sacra, charmosas ruas e alamedas e edificações rústicas que garantem o ambiente interiorano aprazível.
Nos fins de semana, a feira recebe entre 30 e 40 mil visitantes, oriundos de várias regiões do Estado de São Paulo, do Brasil e do mundo, para um “desfile” de pinturas, esculturas, porcelanas, artesanato, bijuterias, miniaturas, bordados, rendarias, roupas, objetos de decoração, cestaria, móveis, instrumentos, discos raros, entre outros artigos, ou apenas se presta sem demérito como chamariz para um passeio por caminhos de paralelepípedos e vielas com arcos floridos.
Para celebrar a data de aniversário, a prefeitura realizará uma programação com exposição, homenagens, música e tenda com arte ao vivo. Na abertura, nesta quinta-feira, às 19h, as secretarias de Turismo e de Cultura irão inaugurar a galeria “in memoriam” dos artistas da cidade, uma homenagem aos precursores da feira de Embu das Artes – com apresentação especial do cantor Claudio Roberto, da Jovem Guarda, célebre movimento musical dos anos 1960.
Embu como vocação artística se inaugurou a partir da Igreja Nossa Senhora do Rosário, hoje Museu de Arte Sacra, erguida por padres jesuítas e índios na colônia (1690), que também produziram obras religiosas, mas floresceu, já no século 20, pelas mãos de artistas como o pintor Cássio da Rocha Matos, o Cássio M’Boi (1903-1986), o escultor Tadakiyo Sakai, o Mestre Sakai (1914-1981) e muitos outros que ajudaram a consolidar a produção artística no território.
Embu das artes – não o nome oficial – encorpou-se com a chegada do escultor Claudionor Assis, o Mestre Assis (1931-2006) e do poeta Solano Trindade (1908-1974), que no início dos anos 1960 incorporou na recém-emancipada cidade (1959) o tempero da cultura brasileira, com ritmos e danças afro-brasileiras. A partir do 1º Salão de Artes Plásticas de Embu (1964), com obras de artistas renomados, a arte local passou a ser reconhecia no país e internacionalmente.
Em meio à efervescência política e social, sob a batuta da mudança de padrões comportamentais, o desembarque de artistas contemporâneos, populares e de destemidos hippies ampliou a atividade artística em Embu e resultou no nascimento em 1969 da Feira de Artes e Artesanato, em frente ao Museu de Arte Sacra. O surgimento foi articulado por Mestre Assis, que estimulou a vinda para a cidade dos expositores da então feira da praça da República, em São Paulo.
O artista plástico Paulo Dud, um dos participantes mais antigos da feira, fazia parte do primeiro grupo de pessoas que chegaram a Embu. “O ônibus estava cheio de gente carregando uma mochila. Era um povo bem hippie. Fomos porque ouvimos que o Mestre Assis estava começando essa feira na cidade, que era considerado território ‘livre’ em meio a um momento político difícil e de repressão”, disse Dud, 65, em referência ao período da ditadura militar no país, ao “Agora”.
Ao longo de meio século, a feira teve visitas ilustres como os atores Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), Beatriz Segall (1926-2018), Nathália Timberg e Sérgio Mamberti, que passa pelo local até hoje – como fez no ano passado, após estar com a artista Raquel Trindade (1936-2018) -, os cantores Taiguara (1945-1996), Geraldo Vandré e Moacir Franco, além de roqueiros internacionais como os do The Mamas & The Pappas (1999) e Mick Jagger, dos Rolling Stones (1995).
Com atrações no entorno, a feira foi “cartão de visitas”, porém, para shows de Rita Lee (1973), Novos Baianos (anos 1970), Jorge Mautner e Tom Zé. Em 2009, no parque Francisco Rizzo, Jorge Benjor cantou nos 40 anos da feira. Outra figura que transitou pela feira foi José Agrippino de Paula, autor de “PanAmérica” (1967), obra vital ao desenvolvimento do movimento da Tropicália. O escritor e dramaturgo passou a morar em 1980 em Embu, onde morreu em 2007.
Embu, da feira, foi destino também de personalidades controversas ou nada ilustres. O italiano Cesare Battisti, preso e deportado à Itália, morou na cidade em 2015, frequentador de bares no centro. Em Embu, foi exumado o corpo do médico nazista Josef Mengele, que chegou a morar na cidade. Mas os artistas estrangeiros que se fixaram em Embu, como japoneses, argentinos, uruguaios, chilenos, peruanos, bolivianos, haitianos, marcaram positivamente a cidade.
A feira consolidou Embu como meca da arte – em reconhecimento à identidade imprimida pelos artistas, a cidade passou a se chamar Embu das Artes em 2011, depois de plebiscito. Conforme declarou ao “Agora”, quando para no largo dos Jesuítas, onde fica o Museu de Arte Sacra, um prédio histórico de portas e janelas azuis, o artista plástico e advogado Ubiratã Assis, 55, fica orgulhoso do feito do pai, Mestre Assis. “Ele colocou Embu das Artes no mapa-múndi.”
Tanto que Embu, da feira, inspirou até verso de música. “Em ‘Sampa’, Caetano Veloso fala de Embu, sem citar, quando diz ‘Pan-Américas de Áfricas utópicas’ e ‘novo quilombo de Zumbi’. ‘Pan-América’ é o livro de Agrippino, ‘Utópicas’ é a utopia do sonho hippie, e o ‘novo quilombo de Zumbi’ é um certo gueto de artistas negros próximos a São Paulo, que na época era esse movimento de Assis, Solano, desse pessoal que iniciou a arte de Embu”, disse Dud ao VERBO.
SERVIÇO
50 Anos da Feira de Artes e Artesanato de Embu das Artes
> Nesta quinta-feira (31)
19h – Inauguração da galeria ‘in memoriam’ dos artistas da cidade
Homenagem aos precursores da Feira de Embu das Artes; apresentação do cantor Claudio Roberto (Jovem Guarda)
20h – Abertura da Exposição Comemorativa dos 50 anos da Feira de Artes e Artesanato
A mostra terá obras de artistas e artesãos da feira, além de imagens, reportagens, depoimentos, livros e poesias. Na sala “Túnel do Tempo” serão exibidos fotos, artes e gravuras sobre as memórias de 1969 até 2019.
Curadoria: Paulo Dud. Período em cartaz: de 31.jan até 24.fev, das 9h às 18h, diariamente. Entrada gratuita.
Local dos eventos: Centro Cultural Mestre Assis do Embu (Largo 21 de Abril, 29, Centro). Tel. (11) 4781-4462.
> 3 de fevereiro
10h às 14h – Arte ao vivo (tenda)
15h – Banda Municipal – apresentação em homenagem à Feira.
Local dos eventos: em frente o Museu de Arte Sacra dos Jesuítas (largo do Jesuítas, 67, Centro)
Fonte: Prefeitura de Embu das Artes (programação sujeita a alteração)
> Compartilhe pela fanpage do VERBO ONLINE