ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito Ney Santos (PRB) apresentou nesta quarta-feira (23) a reforma administrativa e falou em “choque de gestão” para “atender as demandas da população”, mas quatro dos cinco novos secretários são condenados pela Justiça ou respondem a processos graves. Ney anunciou Raul Bueno para Saúde, Paulo Silas para Desenvolvimento Social, Renato Oliveira para Comunicação, Lourival Domingues para Indústria e Comércio e Celso Vasconcelos para Serviços Urbanos.
Raul – nomeação revelada com exclusividade pelo VERBO – substituiu José Alberto Tarifa, Silas sucedeu Roberta Santos, Lourival assumiu a pasta de Alcionei Miranda e Celso ocupou posto de Léo Novais. Em reforma anunciada, mas não completa, Alcionei não foi demitido e chefiará secretaria ainda a ser criada. Em outro remanejamento, Jones Donizette, que comandava a Comunicação, passou a secretário de Emprego e Renda, no lugar de Paulo Vicente, outro exonerado.
Em rasa apresentação dos secretários, Ney disse que Raul foi prefeito de Pirapora do Bom Jesus (Grande SP), com “gestão bastante eficiente”. Falou que Silas, “além de grande liderança na região, é uma pessoa bastante competente, com vasta experiência”. Ele ressaltou que Lourival é um “servidor de carreira” que “sempre teve interlocução com empresários da cidade”. E comentou que Celso, “além de grande amigo, é uma pessoa que goza da nossa confiança”.
Ney justificou que as queixas dos moradores motivaram as mudanças. “A gente ouve, anda, faz pesquisa. A população, não só em Embu, está cada vez mais exigente. […] Temos a obrigação de ouvir a população e tomar as medidas que têm que ser tomadas. […] Estamos tentando montar um time que venha a atender as demandas da população […]. Todos [os exonerados] contribuíram, só que na vida chega uma hora em que a gente precisa dar um choque”, disse.
Apesar da “troca de comandos” com a qual disse não ter “dúvida” de que o governo “vai voltar” a ter “gestão eficiente”, Ney escolheu para a crítica pasta da Saúde um gestor cassado pela Justiça com base na lei da “Ficha Limpa” por ter as contas reprovadas ao firmar dois convênios irregulares quando prefeito de Pirapora (2005-08). Eleito de novo em 2016 e empossado, Raul foi tirado da prefeitura ao ter candidatura indeferida, confirmada no Tribunal Superior Eleitoral.
Silas foi condenado em segunda instância da Justiça por participar de cursos para o Legislativo fraudulentos em cidades turísticas pelo Brasil e no exterior nos anos 1990, quando era vereador de Taboão da Serra – rumoroso caso conhecido como “farra dos congressos”. Em 2016, ele renunciou à candidatura a vice-prefeito de Taboão na chapa de José Vicente Buscarini (PV) por medo de ser impugnado na lei da “Ficha Limpa” – ele alegou “problemas particulares” e de agenda.
Celso, conhecido como Celsinho, é réu, denunciado pelo Ministério Público (MP), no maior escândalo de corrupção da história de Taboão, a fraude da máfia do IPTU, em 2011, na gestão Evilásio Farias (PSB). Ele é apontado pela operação Cleptocracia (“Estado governado por ladrões”) da Polícia Civil como um dos principais membros da quadrilha, ao intermediar a baixa criminosa de impostos atrasados mediante propina. Ele ficou preso por meses. O processo segue.
Renato é denunciado pelo MP, junto com o segurança particular Lenon Roque, por tentativa de homicídio triplamente qualificado por perseguir e derrubar com um carro o repórter e chargista Gabriel Binho, do VERBO, que estava de moto, na rodovia Régis Bittencourt em Embu, de madrugada, no dia 28 de dezembro de 2017. Segundo o MP, a mando de Renato, Lenon ainda fez três disparos contra a vítima. Binho teve um tornozelo quebrado. O processo continua.
Questionado sobre a “ficha” do novo titular da Saúde, Ney disse que “a situação do Raul é a dos políticos brasileiros”. “Não vou nem longe, na nossa região, todos os prefeitos que estão no cargo ou saíram candidatos já responderam ou respondem processo. […] Se ele não pudesse assumir, eu não o teria convidado, e ele não aceitaria”, disse. Questionado sobre que “competência” teria Celso para o cargo, Ney disse que ele é “competente no que estou recomendando fazer”.
Interpelado ainda pelo VERBO como a população confiará em melhorias nos serviços com secretários que tiveram ou têm problemas com a Justiça, inclusive sobre o ataque a Binho, Ney se ateve ao caso de Renato para atacar a vítima. “Se ele for culpado – acredito que não seja -, vai ser condenado e pagar pelo erro dele. Fazendo análise de todo o processo […], tudo leva a crer que a pessoa que se vitimiza, o seu jornalista, é mais bandido que qualquer outra pessoa”, disse.
Questionado sobre ter prometido nomear pessoas ligadas à função, mas não cumprir conforme os novos secretários – nenhum deles é da área -, Ney admitiu que abandonou o critério “técnico” pelo “político”. “Eu não tinha nenhum tipo de experiência no Poder Executivo. Tudo o que falamos na campanha, quando assumimos, começamos a entender que não seria tão fácil. […] Eu tenho humildade de dizer que não só técnicos iam fazer. Aqui vivemos da política”, alegou.
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