ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Forças policiais retiraram nesta quinta-feira (22) cerca de 1.500 famílias, incluindo crianças e idosos, de um terreno de 136 mil m2 da família Basile no Parque Laguna, em Taboão da Serra, em reintegração de posse pacífica, apesar do clima de desolação entre os sem-teto. Com apoio da Guarda Civil Municipal e Polícia Rodoviária Federal, cerca de 300 soldados da Polícia Militar – que começou a fazer incursão no local na quarta-feira – cumpriram a ordem da Justiça.



Tratores derrubaram os barracos, a maioria de madeira, após os ocupantes retirarem os poucos móveis mantidos na área, mas muitos não tinham para onde levar. Caminhões foram disponibilizados aos sem-teto que dispunham de local para deixar os pertences. O terreno começou a ser ocupado em junho, com cerca de 300 famílias. Em menos de dois meses, o número quintuplicou. Em outubro, moradias de lona deram lugar a muitas habitações de tábuas e alvenaria.
Os sem-teto protestaram contra a reintegração ao apontar que desde a última ocupação, em 2016, o interesse era fazer do local um galpão industrial, mas o zoneamento impedia. “Como um passe de mágica, em 2018 as coisas se encaixaram, o prefeito aprovou [apresentou] projetos, os vereadores votaram e hoje eles podem fazer o galpão. Eles estavam especulando há muito tempo para ter o que queriam”, disse um dos líderes da ocupação, Leandro Cavalca.
“Confesso que estou perdida, sem saber para onde vou, não tenho família em São Paulo. Cheguei nessa ocupação em julho e aqui todos se ajudavam. Não tenho nada, apenas um micro-ondas”, disse a desempregada Ana Cristina Santos, 45. “Infelizmente, não tivemos apoio de ninguém e nem da prefeitura de Taboão da Serra. […] Cheguei aqui na terra em junho com os meus dois filhos e simplesmente não sei para onde vou”, disse a também desempregada Dinalva Reis, 43.
Em setembro, a duas semanas das eleições, os sem-teto da Divina Luz – nome da ocupação – fecharam a rodovia Régis Bittencourt contra a reintegração. “Queremos a atenção do prefeito Fernando Fernandes e da [deputada estadual e então candidata] Analice Fernandes para saber onde vamos colocar essas famílias”, disse uma líder. Fernando, no dia 24, recebeu os sem-teto e prometeu tentar negociar com o dono da área uma solução ou buscar ajuda do Estado.
A prefeitura ressaltou que a reintegração aconteceu “sem registro de conflitos” e que “a área particular pertencia à família Base e recentemente foi vendida a uma empresa”. Questionada sobre auxílio aos sem-teto, a gestão municipal disse que “não dispõe de áreas públicas para oferecer”, mas que “fez um ofício ao governo do Estado, solicitando atendimento em caráter emergencial para pelo menos 30 famílias” e pediu “50 bolsas-famílias” também com urgência.
O responsável pela operação disse que a PM utilizou policiais do choque, grupamento aéreo e do Baep (batalhão de força ostensiva) e avaliou a reintegração como “tranquila”. “O pessoal entendeu a ação da Justiça e os policiais foram orientados a tratar de forma educada e prestar todo apoio”, afirmou o major Terra. As lideranças pediram um pouco mais de tempo para as famílias retirarem os pertences. “A polícia respeitou e atendeu nosso pedido”, disse Cavalca.
Os sem-teto não pretendiam sair da área até o dia anterior ao do cumprimento marcado da ordem judicial – a ocupação, no fim da avenida Castelo Branco, podia ser vista de longe. “Tínhamos a ideia de resistir à polícia e ao pedido de reintegração, porém existem muitas famílias, crianças, e isso não terminaria bem. Resolvemos no diálogo”, disse ainda Cavalca. “Temos a ideia de ir para uma outra área que fica na divisa entre Taboão e Embu das Artes”, completou.
> Com informações de “Gazeta de S. Paulo” e “Taboão em Foco”
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