Ney se trai e fala que ‘criou’ taxa de lixo, e após derrota nas urnas cancela cobrança

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Após derrota ruidosa nas urnas dos candidatos que lançou, a irmã Ely Santos (PRB), candidata a deputada federal, e Hugo Prado (PSB), postulante a deputado estadual, o prefeito Ney Santos (PRB) anunciou nesta segunda-feira (29) o cancelamento da taxa de lixo em 2019. Ele diz que já pode revogar por estar saldando a dívida com a empresa coletora. Contudo, ele tomou a decisão por causa da forte rejeição ao “Neytaxa” que pode comprometer a própria reeleição.

Ney, que anunciou
Ney, que anunciou cancelamento da taxa de lixo em 2019; lixo não recolhido ontem (30) na Maria Auxiliadora

Em entrevista a um site da região, em que omitiu artimanhas para taxar a população, Ney voltou a alegar que a cobrança era “necessária”, mas que já tem condições de revogar o tributo, criado ano passado. “Implantamos naquele momento por conta da dificuldade financeira”, disse Ney ao evocar, de novo, o rombo deixado nos cofres municipais pelo governo Chico Brito (2009-2016, sem partido). Ney era vereador nos últimos quatro anos e não acusou a dívida.

“Nós recebemos uma dívida de R$ 257 milhões. Desses, quase R$ 50 milhões era dívida com a Enob, que é a empresa que coleta lixo na nossa cidade. Até por estar assumindo a cidade naquela ocasião, não tínhamos o conhecimento da situação em 100% como temos hoje. Estando na prefeitura há um ano e pouquinho, já deu para ter conhecimento de muitas coisas. A dívida [da prefeitura] com a Enob era bem maior que hoje, até porque pagamos alguma coisa”, disse.

Ney disse que foi feita uma negociação com a empresa, mas alegou não poder precisar a quantia paga ao credor a cada mês. “Fizemos parcelamento com a Enob. Hoje a gente paga a medição atual e um pedaço da dívida […] Não fixamos uma parcela, até porque a situação financeira continua difícil. […] Para a Enob, que tem uma concessão [para coleta do lixo] aqui de 30 anos, foi pago mais de R$ 7 milhões, o que conseguimos arrecadar com a taxa do lixo”, afirmou.

Ele disse que a taxa do lixo, que começou a ser cobrada em janeiro, não rendeu nem R$ 1 milhão por mês. “Em média, R$ 700 mil. Até agora arrecadou R$ 7 milhões, em dez meses. Creio que deve chegar a R$ 9 milhões e alguma coisinha no final do ano, nos 12 meses. É um valor razoável para a prefeitura, que está com dificuldade financeira”, afirmou. Apesar de sempre sob suspeição sobre a veracidade do montante da dívida, ele não mostrou nenhum documento.

O prefeito alegou ainda que a cobrança não seria permanente e que “já estávamos estudando no ano passado acabar” com o tributo. “Fizemos um compromisso com a população lá atrás, que íamos implantar a taxa do lixo para ‘apagar o incêndio’ naquele momento e na medida do possível voltávamos a conversar. E hoje a nossa conversa com a população é esta, extinguir a taxa do lixo em 2019. A população de Embu das Artes não vai receber a cobrança”, afirmou Ney.

No entanto, Ney aceitou rever a taxa como negociação para retorno à base governista do vereador Luiz do Depósito (MDB), que embora eleito no grupo político do prefeito votou contra a taxa do lixo e “batia” no governo pela criação em momento econômico do país “desfavorável”. Como parte também do acordo, além de passar a integrar a “tropa de choque” de Ney contra a oposição na Câmara, Luiz desistiu de concorrer a deputado federal para apoiar Ely.

Ney negou que o cancelamento da taxa de lixo seja para se reeleger, mas revogou ao pagar nem 20% da dívida e não disse de onde vai tirar o dinheiro para quitar o débito sem o tributo em 2019 – ontem, alguns bairros estavam sem coleta. Ele disse que só “começamos a receber em 2018”, mas “escondeu” a manobra de tentar fazer a população pagar ainda em 2017, por decreto em julho, “na calada da noite”. Foi derrotado – a oposição buscou a Justiça, que barrou.

Na entrevista, Ney se esforçou em dizer que “implantou”, e não “criou” a taxa de lixo – inclusive orientou Ely e Hugo a usar o discurso, em vão, já que a população “não caiu” na conversa. Mas o próprio Ney se traiu e deixou escapar várias vezes que “criou” o tributo. No início, nem se corrigiu. “Até porque quando nós criamos, criamos porque não tinha outra solução”, disse, constrangido. Na sessão nesta quarta-feira (31), a lei de cancelamento da taxa de lixo será aprovada.

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