RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Como católico “praticante”, sabedor das regras da religião que diz seguir, o candidato a deputado estadual derrotado Hugo Prado (PSB) atraiu o apoio de padres para tentar se eleger e contribuiu para burlar uma orientação da Igreja, a de que sacerdotes não podem apoiar candidatos. Hugo chegou a reunir padres em evento ainda de pré-campanha e depois durante a disputa eleitoral, e ainda colocar dois religiosos para gravar um vídeo de apoio a sua candidatura.
Em ato de pré-campanha, em julho, diante de mais de 500 correligionários, Hugo teve entre os apoiadores no palanque os padres Manfredo dos Santos e Antonio Rubens, que ainda discursaram em apoio ao então candidato, a pedido do político. “Esses dois grandes líderes, amigos, companheiros sempre estiveram a meu lado em minha jornada. […] Quero pedir a bênção de cada um dos senhores e agradecer por todo carinho, amor e lealdade a este projeto”, disse Hugo.
Na presença de vários políticos da região, entre eles o prefeito Ney Santos (PRB) e a então candidata a deputada federal Ely Santos (PRB), irmã de Ney, o padre Rubens, da Paróquia Santa Otília no Vista Alegre, em Embu, disse que a cidade e a região se uniam em torno dos dois candidatos, expressou “mais uma vez” a Hugo, Ely e a Ney “nosso carinho e nossa gratidão” e manifestou “certeza” de que o grupo político liderado por Ney era “um bom caminho a serviço do povo”.
“A gente quer se comprometer, estar ao lado de vocês. No que depender de mim, nos organizaremos para essa caminhada do vereador [Hugo] com a Ely rumo à vitória de vocês. Podem ter certeza, se depender da Paróquia Santa Otília, estaremos cada vez mais unidos, conte com nosso apoio”, disse Rubens. Apesar de elogiar a gestão por julgar “a serviço do povo”, Ney tomou medidas rejeitadas pela população, como a criação do taxa do lixo e aumento do IPTU.
Também no ato, em seguida à fala do colega, padre Manfredo declarou apoio a Hugo e a Ely. “Deus já abençoou, está abençoando e vai abençoar sempre mais a ação deste nosso irmão Hugo Prado, que tem o meu voto, nosso apoio para deputado estadual, e também a Ely, para que esta cidade e nosso Estado cresçam e melhorem sempre mais. Queremos que vocês sigam esse caminho. Este projeto está apoiado, está abençoado. Contem com as nossas orações”, discursou.
Hugo festejou o apoio dos padres que deixaram o serviço religioso em uma manhã de domingo para estar no palanque político. “Nossa responsabilidade com o apoio dos senhores só aumenta. Estamos unindo as pessoas verdadeiramente de bem em prol deste projeto de mudança”, disse. Ney falou que nove padres de Embu apoiavam Hugo e Ely. Em ato de Hugo e o candidato a governador Márcio França (PSB), em setembro, Manfredo marcou presença e ocupou o palco.
Também no mês passado, de forma pública, Rubens postou em seu perfil no Facebook pedido de voto em Hugo. “Meu deputado!!! Confio. Recomendo”, escreveu. Foi além. Ele e outro padre, Marcelinho dos Santos, aceitaram gravar um vídeo em apoio a Hugo para ser exibido pelo político. “É claro que, como Igreja, não podemos dizer apoie tal candidato, mas podemos dizer que existem cristãos católicos que se dedicam, como vocação, à política”, argumentou Marcelinho.
“Nós conhecemos o trabalho do Hugo, a idoneidade, a seriedade e a preocupação que ele tem com o social. Contamos com o Hugo e acreditamos nele”, expressou Rubens. Marcelinho, apesar de falar não pedir voto no candidato “como Igreja”, estava de batina. Apesar do depoimento sóbrio no vídeo, ele é um dos entusiastas do apoio. Em dezembro do ano passado, ele participou de reunião de um partido, o de Hugo (PSB), e fez também uma fala de adesão ao político.
Procurada, a Diocese de Campo Limpo (à qual os padres da região, Embu incluído, são subordinados) disse que o padre não pode apoiar candidatos. “A orientação permanece a mesma da última eleição [2016], quando foi emitida orientação para não dar apoio público a nenhum candidato”, diz o padre Rodrigo da Silva, assessor de comunicação. Na instrução, a Igreja diz que “nenhum clérigo […] recebeu orientação para engajar-se na campanha política de qualquer candidato”.
Indagado sobre o vídeo de apoio ao candidato, padre Marcelinho não quis comentar. O VERBO não conseguiu contato com os padres Rubens e Manfredo – que apoiou abertamente Ney a prefeito em 2016, inclusive também participou de atos políticos do candidato. A reportagem perguntou a Hugo – que é atuante na Paróquia Todos os Santos, no Santa Emília – porque, como católico engajado, buscou o apoio de padres a sua candidatura se a Igreja proíbe. Ele silenciou.
> LEIA NORMA DA DIOCESE DE CAMPO LIMPO (IGREJA CATÓLICA) QUE PROÍBE APOIO DE PADRES A CANDIDATOS
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