ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Denunciado pelo Ministério Público por tentativa de homicídio triplamente qualificado pelo atentado contra o repórter e chargista Gabriel Binho, do VERBO, junto com o segurança dele, o agente penitenciário Lenon Roque, o então subsecretário de Comunicação do governo Ney Santos (PRB) Renato Oliveira procurou na audiência nesta quarta-feira (19) politizar o ataque e desqualificar o profissional de imprensa, em ação vista com intuito de desviar o foco do caso.
Perante o juiz Rodrigo de Godoy, inicialmente a defesa falou que Renato – que não se pronunciou – foi atrás de Binho entre a noite de 27 e 28 de dezembro de 2017 desde a praça central de Embu das Artes, mas para discutir questão pessoal, que teria estado com uma amante e que Binho teria visto e contado para a mulher dele. Em entrevista após a audiência, Renato alegou que “queria conversar com Binho justamente para entender por que ele tinha feito aquilo”.
A versão de que Renato perseguiu Binho para tratar da relação extraconjugal, porém, não ficou provada. O advogado chegou a indagar Binho se conhecia uma pessoa chamada “Jessica”. Binho disse que não. Jessica é o nome da mulher do réu. Uma testemunha arrolada pela própria defesa disse saber do suposto caso, mas só soube por Renato. Binho rechaça contato com a esposa do réu. “Nunca vi a mulher do Renato, se passar na minha rua não sei quem é”, disse.
Ainda em entrevista, Renato voltou a dizer que não conversou na praça porque Binho “estava envolto de pessoas do [bloco carnavalesco] Desbundasartes que eram do PSOL”. Ele alegou ter certeza que eram do partido. “Eu sei que eram do PSOL. Como figura de oposição à esquerda, se eu fosse conversar, com certeza iria gerar alguma confusão. […] Quando ele estava saindo, conforme mostram as imagens, as pessoas que estavam com ele foram até a moto”, disse.
Contudo, Renato observou a vítima por quatro horas, como admitiu. “Binho estava na praça das 10 da noite às 2 da manhã”, disse. Ele deu a volta na praça e parou próximo a Binho quando se preparava para deixar o local. Ao contrário do que Renato disse, que Binho estava com “diversas” pessoas, apenas algumas estavam perto do repórter, como mostram câmeras. Mesmo assim, Renato não saiu do carro para conversar. Quando Binho partiu, ele arrancou atrás.
Renato disse que perseguiu Binho “dando buzina e farol, todo o percurso, para que parasse”. “Só consegui falar com ele quando reduziu para poder entrar [na rua da Câmara]. Naquele momento, ele se desequilibrou e caiu”, disse, sem mencionar que derrubou o repórter. Antes, no início da entrevista, admitiu que bateu na moto, mas minimizou o ato ao citar que na audiência o delegado Andreas Schiffmann, que conduziu o caso, disse “que foi um ‘totozinho’ na moto”.
Renato disse também que não parou para socorrer ao ver, pelo retrovisor, Binho já “em cima da moto”. Ele alegou que o depoimento que Binho deu à Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o que prestou na Delegacia Central, em 4 de janeiro, “não têm concordância entre si, entram em total contradição”. “Primeiro, ele afirma que viu uma pessoa descer do carro e atirar contra ele. Depois, ele afirma para a Polícia Civil que o tiro foi dado com o carro em movimento”, disse.
Renato falou que “não foram encontradas cápsulas pela Polícia Rodoviária Federal porque não existiu tiro” e que foram apreendidos oito celulares e quebrados sigilos de cinco linhas telefônicas e “nada foi encontrado”. “Todos os laudos não são capazes de provar a acusação dele contra mim”, disse ao frisar “que não houve nada com a moto”. Porém, Binho recebeu mensagem de ameaça após o ataque. Ele acusou também Binho de “ingerir bebida alcoólica” naquela noite.
“Não existiu tentativa de homicídio, e hoje termina esta farsa”, disse Renato. Citou que Binho “criou toda esta história” influenciado por opositores. “É o grupo político que governou Embu durante 16 anos, que não aceita ter perdido o poder nesta cidade”, disse. Ele citou o PT e disse que a prova é que Binho dirigiu carro oficial da Câmara, da vereadora Rosângela Santos (PT). Alegou que Binho era repórter do VERBO e que este site devia devolver dinheiro público.
Binho disse à reportagem que a Polícia Militar que atendeu a ocorrência e que não deu a versão que consta no boletim da PRF. “A PRF só me abordou no Pronto-Socorro. Só perguntou se eu se assopraria o etilômetro. Eu falei ‘assopraria, sem nenhum problema’. Mas o policial falou que não ia fazer o teste, que eu não aparentava sinais de embriaguez”, afirmou Binho, desmentindo Renato. “No BO da Polícia Civil, eu relato que o carro disparou em movimento”, frisou.
Binho reafirma ter sido alvo de disparos e acredita que as cápsulas não teriam sido achadas por terem sido de arma que não as deflagram. Ele rejeita alegação de Renato de que não o socorreu por vê-lo “sentado” na moto. “Mentira, a moto estava no barranco”, disse. Ele teve fratura no tornozelo e foi operado. Renato não citou esse laudo. Binho disse ainda que a funcionária da vereadora “não estava se sentindo bem” e “fui apenas manobrar o carro”, no sábado (15).
Renato disse que “durante todos estes meses” evitou falar do caso, “não apresentei em nenhum momento tudo isso”, mas a “prova” da ligação de Binho com o PT, sobre o uso do carro oficial, é de agora. “Renato falava todo tempo que era questão pessoal, agora está envolvendo política. Eu sou vítima, e estão querendo fazer com que eu seja o culpado”, declarou Binho. A audiência não teve um desfecho, ouvirá testemunhas de defesa e réus nos dia 6 e 22 de novembro.
NOTA DA REDAÇÃO – Sobre a declaração do então subsecretário de Comunicação do prefeito Ney Santos (PRB) Renato Oliveira de que Gabriel Binho dirigiu carro da Câmara de Embu como repórter e que este portal deveria devolver dinheiro público, o VERBO rechaça veementemente a acusação e afirma que se Binho de fato utilizou carro oficial não estava a serviço do VERBO. “Em hipótese alguma, isso é assunto pessoal dele”, disse o diretor-geral Rômulo Ferreira.
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