ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Nesta quarta-feira (19), às 13h30, no Fórum de Embu das Artes, a Justiça realiza audiência do caso em que o então subsecretário de Comunicação do prefeito Ney Santos (PRB) Renato Oliveira e o segurança dele, o agente penitenciário Lenon Roque, são denunciados pelo Ministério Público por tentativa de homicídio triplamente qualificado contra o repórter e chargista do VERBO Gabriel Binho – que teve grande repercussão na mídia e entre entidades de imprensa.
Na madrugada de 28 de dezembro de 2017, Binho foi derrubado da moto por um carro i30 prata na rodovia Régis Bittencourt sentido São Paulo, na altura do km 279, em Embu. O veículo deu a volta por uma via lateral à estrada e do interior partiram três tiros na direção do repórter. Ele se protegeu para não ser ferido, mas teve o tornozelo quebrado na queda e teve de ser operado – passou a virada do ano internado. Ele teve de fazer fisioterapia e usar muletas.
“Com toda certeza, foi um atentado”, disse Binho logo depois do crime. Poucas horas após a tentativa de assassinato que sofreu, ele recebeu via rede social uma mensagem com ameaça, recheada de gíria de bandido. “Samuel Salve Geral us [os] proximu tiro vai se no meio da cara pra aprende a para de ser faladô recado tá dado”, dizia. Binho realizava para o VERBO cobertura jornalística sobre a impopular taxa de lixo criada pelo prefeito Ney e charges sobre o governo.
Convidados pelo Instituto Vladimir Herzog, jornalistas do VERBO se reuniram com entidades de jornalistas e em defesa da liberdade de imprensa, que se solidarizaram com o portal e Binho, repudiaram o atentado e cobraram prioridade na investigação às autoridades – os repórteres receberam apoio da presidente do instituto, Clarice Herzog, viúva de Vlado, que fez questão de cumprimentar Binho. Depois, TVs e jornais de alcance nacional noticiaram com amplo destaque.
No Palácio dos Bandeirantes, o diretor-geral do VERBO, Rômulo Ferreira, conversou com o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), que garantiu empenho da polícia para identificar o autor do ataque a Binho. Na região, o secretário estadual de Segurança, Mágino Alves, disse que um “atentado contra o livre exercício da imprensa” ganha “mais necessidade de que a apuração seja extremamente rigorosa” e afirmou já ter “bom caminho” para elucidar o caso.
Com o cerco se fechando, o governo Ney, por meio do então secretário de Comunicação, Jones Donizette, em tentativa de confundir a opinião pública e despistar a investigação, buscou politizar o crime e desqualificar o repórter. Chamou o ataque de “suposto atentado” e se referiu a Binho como “petista”, várias vezes, e insinuou armação “mais uma vez em ano eleitoral” – 2017 nem teve eleições. Ainda apelou que Binho “gosta de ficar pelos bares” e “caiu com a moto”.
“Braço-direito” de Ney, Jones lançou a “cortina de fumaça” quando o próprio subordinado era o mentor do atentado. Aliás, Renato postou que pedia “todo dia” para deixarem “resolver” sobre os críticos do governo e que só precisava de “autorização” de superiores. Com o avanço da investigação, ele apagou o comentário. Municiada, a Delegacia Central de Embu, responsável pelo caso, identificou o i30 usado no crime, de propriedade de Lenon, e chegou aos dois autores.
Após fugir da imprensa para não falar sobre o caso, Ney demitiu Renato três dias depois de ser indiciado. Porém, soltou uma nota para cravar um “álibi” e tratar o episódio como mero “desentendimento pessoal”. Renato alegou que estava num evento com outra mulher e que Binho teria dito para a esposa dele. No dia 28, como ocorria uma manifestação, esperou Binho sair e o seguiu até a BR-116, quando baixou o vidro, pediu para conversar, e o repórter se desequilibrou.
Binho disse não conhecer a mulher de Renato “nem a suposta amante”, não foi ao tal evento e não havia protesto. “Isso era às duas da madrugada. Não há nada de verdade nisso”, diz. Imagens de câmeras mostram que a dupla ficou no carro, na praça central de Embu, observando a vítima por duas horas na noite do crime. Uma conversa amistosa não teria disparo. Mágino relatou que Lenon depôs que atirou a mando de Renato, segundo o apresentar José Luiz Datena.
Pela investigação conduzida pelos delegados Andreas Schiffmann e Alexandre Palermo, então titular da delegacia, Renato e Lenon foram indiciados “apenas” por lesão corporal grave. Mas, sem apuração sobre a origem das mensagens e os disparos, o inquérito foi considerado “falho” pela Secretaria de Segurança e alterado para tentativa de homicídio triplamente qualificado. À audiência, além dos réus, Andreas e Palermo e outros policiais também foram intimados.
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