Em trapalhada, gestão Ney nega, mas recebe oxigênio e ludibria sobre aviso de corte

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
GABRIEL BINHO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em homérica trapalhada administrativa, com afirmações inverídicas e acusações falaciosas, o governo Ney Santos (PRB) recebe oxigênio medicinal apesar de “inabilitar” a fornecedora duas semanas antes e “atrasar quatro meses de pagamento”. A gestão ainda diz que o aviso de suspensão “não é idôneo”, mas foi confirmado pela gerência, e que a empresa não fornece mais à prefeitura, mas o serviço continua e só será encerrado agora após pressão política.

Secretário
Tarifa diz que Atmosfera não fornece oxigênio à prefeitura; mas empresa (Jd. Sadie-Embu) entregará até dia 19
Pregão com Atmosfera 'inabilitada' apesar de continuar a fornecer à prefeita; 'sócio' que assinou carta de aviso
Atmosfera ‘inabilitada’ apesar de continuar a fornecer à prefeita; ‘sócio’ que assinou carta; Tarifa ataca Verbo
'Carta' da Atmosfera, autêntica, desmentindo Tarifa, e novo comunicado após pressão; secretário ataca Verbo
‘Carta de [aviso de] suspensão de fornecimento’ à prefeitura feita pela Atmosfera, autêntica, desmente Tarifa
e novo comunicado após pressão
Novo informe da Atmosfera, que nega ‘carta’ e não fala mais em suspender fornecimento, feita após pressão

A Atmosfera Gases Especiais emitiu no dia 11 de setembro uma “carta de suspensão de fornecimento” de oxigênio domiciliar aos pacientes de Embu das Artes a partir do dia 14 por causa do “atraso de quatro meses de pagamento” da prefeitura. O aviso caiu nas redes sociais e veio a público no dia seguinte (12). O VERBO publicou reportagem no dia 13 sobre o caso. Ouvido, o secretário José Alberto Tarifa (Saúde) disse que a empresa não fornecia mais ao município.

Após a publicação, porém, Tarifa disse, às 17h55 do dia 13, que a reportagem não era verdadeira. “Matéria inverídica. Gostaria de esclarecer que a empresa que fornece oxigênio para a Prefeitura é a White Martins. A notícia é inverídica, não há nenhum paciente que está, nem ficará sem oxigênio. A White Martins comercializa o oxigênio para a prefeitura, com economia de cerca de R$ 600.000,00 ao ano. Portanto, que se divulgue a verdade”, disse em postagem do VERBO.

Questionado por moradores, Tarifa voltou, às 23h09, a criticar o VERBO e disse que a Atmosfera tinha preparado um esclarecimento. “Eu disse que a empresa não fornece oxigênio para a prefeitura, quem tem contrato com a prefeitura é a White Martins, portanto não há desabastecimento. A empresa já fez um comunicado que eu vou publicar amanhã [dia 14]. A reportagem não deixou claro isso. Deu ênfase a desabastecimento de oxigênio, que não existe”, disse.

Na verdade, além de dar a versão do secretário de que a Atmosfera não prestava mais serviço à prefeitura, o VERBO apenas noticiou que a empresa avisava que ia cortar a parte do oxigênio que fornecia por falta de pagamento, não falou que a prefeitura estava sem desabastecida. Ao meio-dia da sexta (14), só quase 24 horas depois de se queixar e 12 horas de citar o informe da Atmosfera, Tarifa publicou na própria página no Facebook o esclarecimento da empresa.

No post, Tarifa volta a atacar o VERBO ao dizer que “está sendo veiculada uma matéria inverídica” e que o “documento apresentado naquela fake news não é idôneo”. E traz “uma declaração oficial da empresa”, diz. Na nota, Eduardo Leite, gerente para órgãos públicos da Atmosfera, afirma que “o documento que ventilou sobre a suspensão de fornecimento […] não foi emitido por parte da diretoria da empresa”, e não cita que suspenderá o serviço por falta de pagamento.

Quando ocorreu o “vazamento” da “carta de suspensão do fornecimento” que enviou à secretaria, a Atmosfera prestava serviço ao governo Ney, ao contrário das afirmações de Tarifa. Ouvido pelo VERBO na manhã do dia 13 – antes de ser chamado à prefeitura -, Leite disse várias vezes fornecer oxigênio à administração de Embu para atendimento aos moradores em casa. “Eu tomo conta de 20 pacientes domiciliares. O fornecimento à prefeitura está normal”, afirmou.

Solícito, Leite quis explicar que moradores atendia e como era o fornecimento. “São pacientes dependentes, que ficam em casa e recebem oxigênio 24 horas por dia”, disse. Indagado se esse era o produto fornecido, enfatizou: “Esse é o produto que a gente fornece, o homecare. É o porta a porta, sabe?”. Ao avisar que cortaria o oxigênio na sexta se não recebesse, Leite foi mais direto. “Se morrer um paciente sábado, aí já não é mais minha responsabilidade”, advertiu.

Curiosamente, conforme pregão obtido pela reportagem, a Atmosfera foi “inabilitada” pelo governo Ney, para atender os pacientes do “lote III”, 15 dias antes, no dia 27 de agosto. Alheio à medida, Leite ainda explicou, na quinta (13), que detinha contrato para atender excedente de pacientes não suprido pela White Martins. “A gente ganhou um aditivo. […] Como ela [prefeitura] compra de uma multinacional que é muito criteriosa, ela [empresa] não cedeu [atender]”, disse.

“Quando tem uma mudancinha no contrato, ela [multinacional] não tem flexibilidade de ajudar a prefeitura. Já uma empresa menor, de médio porte, como a gente, tem a flexibilidade de esperar sair um aditivo, uma nota. Então, eu fiquei de dar esse suporte de atender o que não abrangia no contrato. E preciso receber esse aditivo. É isso”, frisou Leite. Ele contou, porém, que o governo já o tinha procurado para acertar os quatro meses de pagamento atrasado.

A Atmosfera foi contatada, porém, só após vir à tona a “carta”. A cópia “vazada” está cortada no nome do autor da assinatura, mas é possível identificar “Igor Julio”. Na quarta (12), o VERBO localizou Igor na própria empresa e indagou: “Foi assinado por você?”. Ele respondeu: “O aviso do corte, né? Foi”. “O que você é da empresa?”, perguntou este site. “Eu sou funcionário”, disse. Em dado de razão social, Igor Julio Inez aparece como sócio-administrativo da empresa.

Ao falar à reportagem no dia 13, o próprio gerente atestou a autenticidade da “carta” e também já desmentiu Tarifa. “‘Viralizou’ isso na internet. A gente não autorizou”, disse Leite. Indagado por que tinha emitido o aviso, ele respondeu: “Para eles se mexerem. Eu preciso receber”. Ele acrescentou que o ato tinha surtido efeito. “Vazou a informação dessa pendência, todo mundo [prefeitura] está se coçando, se mexeu. Vão resolver nosso problema até sexta [14]”, disse.

Como a Atmosfera só foi chamada para tratar dos pagamentos em atraso após a “carta” vir a público e não acusava o fim do contrato ou ter sido “inabilitada” – pelo contrário, dizia ainda fornecer o oxigênio -, enquanto a prefeitura já tinha contratado a White Martins para fornecimento da demanda total, a suspeita era de calote premeditado contra a empresa. Questionado sobre a dívida, Tarifa desconversou. “Isso ela precisa tratar no financeiro e no jurídico”, disse.

Para desmentir Tarifa de novo, a Atmosfera não deixou de atender, ainda fornece oxigênio à prefeitura. Agora, com os dias contados. Procurado já na sexta-feira, após emitir a declaração, Leite afirmou: “Fornecimento está normalizado. E a partir de quarta-feira 19/9 a White Martins assume os pacientes atendidos por mim”. A reportagem ainda perguntou: “Não vão atender mais o homecare da prefeitura?” Ele respondeu: “Só até finalizar a integração total destes pacientes”.

Leite disse ainda que a prefeitura pagou a dívida. “Sim, não me devem nada”, afirmou. Em maio, quando teria sido o último mês quitado, a Atmosfera recebeu R$ 7.482,20. Na nova nota, ela se contradiz sobre a “carta”, diz que não cortaria o oxigênio por falta de pagamento e ainda está “negociando” para receber. Após o primeiro informe, ela já sofrera pressão. “‘Viralizou’ isso, me prejudicou, o pessoal [governo] me ligou aqui e falou um monte”, comentou Leite.

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