Ney fala para empresário pagar propina por vantagem em licitação a assessor, diz PF

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Transcrições de interceptações feitas com autorização da Justiça na operação de combate ao desvio de verbas da merenda, material e uniforme escolar, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com a Controladoria Geral da União nesta quarta-feira (9), mostram uma conversa entre o prefeito Ney Santos (PRB) e um homem acusado de participar do esquema. A PF esteve na prefeitura de Embu das Artes para cumprir um dos mandados de busca e apreensão.

Ney em creche para entrega de kit escolar;
Ney em entrega de kit escolar, e fala para membro de esquema entregar dinheiro para assessor, segundo a PF
Agentes federais adentram recepção de acesso ao gabinete
Agentes federais chegam à recepção de acesso a gabinete de Ney em execução de ordem de busca e apreensão

No total, a PF cumpriu 154 mandados de recolhimento de documentos em municípios de três Estados, São Paulo, Bahia, Paraná, e no Distrito Federal e desmantelou cinco grupos criminosos que fraudavam licitações na educação. São 30 prefeituras paulistas investigadas. Estão sob suspeita 85 pessoas, entre elas 14 prefeitos, quatro ex-prefeitos, um vereador, 27 servidores públicos e 39 funcionários de empresas que tinham contrato com os governos municipais.

As investigações mostraram que o esquema funcionava da seguinte forma: um empresário procurava um lobista, que entrava em contato com a prefeitura. Prefeito e agentes públicos fraudavam licitações para favorecer as empresas, os contratos eram superfaturados. Em troca, os empresários pagavam propina para o prefeito e os agentes públicos, em desvios que somam R$ 1,6 bilhão. Mesmo entre agentes da PF e controladores, a conduta criminosa gerou indignação.

Em uma das cidades, o contrato previa o fornecimento de leite com cereais aos alunos. Mas os estudantes tinham como merenda biscoito com leite diluído com água. Delegados federais revelaram que escutas telefônicas gravaram conversas entre funcionários públicos e empresários em que as partes tramam a substituição no cardápio, mandam tirar carne e servir ovo às crianças todos os dias, um ardiloso “prato feito”, nome com que foi batizada a operação.

As investigações começaram há três anos e agora chegaram a Embu. A polícia fez buscas em uma das casas de Ney, no Alphaville, em Barueri (Grande SP) – chamado de prefeito que não morava na cidade, ele reside hoje no Condomínio Vale do Sol, em Embu. Ney já é denunciado por ligação com crime organizado, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Segue no cargo graças a liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal. Recorre ainda contra sentença de cassação.

Em Embu das Artes, em uma das conversas interceptadas pela PF, Ney trata com o dono de uma das empresas com contrato com a prefeitura, identificado como Carlinhos, a entrega de “material”, segundo a polícia, dinheiro. Carlinhos diz: “Rapaz, é… eu não queria ta atrapalhando não, […] é que eu to levando material lá pro nosso amigo… ta tudo em ordem aí? Ney responde, se referindo a um assessor de longa data: “Tá… fala com o Rodrigo. Me ajuda aí, tá bom?”.

OUTRO LADO
Ney gravou um vídeo ontem para se defender. Classificou a denúncia como “polêmica” e chamou de nova “perseguição” política. “Mais uma vez estamos sendo perseguidos. Mas mais uma vez com a consciência tranquila. Quem não deve não teme e, como todos vocês sabem, sempre a gente sai maior do que entrou em alguma polêmica como essa”, disse. Apesar de a PF não ter mandado de prisão, ele não falava da prefeitura ou outro ponto em Embu, mas de São Paulo.

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