ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
EXCLUSIVO. Ney Santos (PRB) teve a campanha a prefeito em 2016 financiada, “em boa parte”, por um membro de facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas, o PCC (Primeiro Comando da Capital), em valor que chega a pelo menos R$ 12 milhões. É o próprio Ney que faz a revelação em conversa com então assessor Elias Mello, que a gravou e disponibilizou. O áudio na íntegra ainda não é público, mas o VERBO teve acesso em primeira mão.
Ney chama o principal “investidor” do “projeto” de chegar ao comando da prefeitura de Embu das Artes de “amigo” e “sócio”. Em trecho do diálogo, em julho de 2016, o então candidato, à época presidente da Câmara dos Vereadores, demonstra apreensão em caso de derrota na disputa à prefeitura. Ney diz que, se o resultado das urnas significar que perdeu a eleição, os “caras” que repassaram dinheiro “também ‘perdeu'” – não teriam “retorno” da cifra ilícita “aplicada”.
Aos 30 minutos de gravação, Ney diz: “O […] é meu sócio, o […] é meu amigo. De todo esse recurso da campanha, o […] que está colocando uma boa parte. Eu já vi ele deixar irmão do PCC a pé”. O “sócio” de Ney é ligado a um homem que era um dos cabeças da organização – neste ano, o “líder” foi encontrado morto no interior do país. Ney cita as duas pessoas, mas o VERBO decidiu não revelar os nomes – a pedido da fonte com quem este portal teve acesso ao áudio.
Com 1 hora e 2 minutos de gravação, Ney volta a enfatizar a importância do “investidor” e cita o montante despejado na campanha, ao falar de si mesmo. “Você pega um projeto como esse [eleição de prefeito], tem dinheiro de todo mundo. O Ney perdeu a eleição, não foi só o Ney que perdeu, mas os caras, as pessoas que estão pondo dinheiro também ‘perdeu’. E não é pouco, eleição como esta a gente gasta R$ 12 milhões. Estamos falando de R$ 12 milhões!”
No mesmo trecho, Ney diz o que era feito do dinheiro, ao se referir ao então assessor. “No começo, quem pagava era ele”, conta sobre os recursos distribuídos por apoio. “Eu sei o que tem que ser feito. Lógico, o tamanho de um projeto desse tem muita gente, presidentes de partido como parceiros… Numa campanha como esta você não tem condição de fazer sozinho”, diz. O repasse chegou a vazar à época e foi chamado de “mensalinho do Ney”. Ele negou a existência.
No início do áudio, por volta dos 15 minutos, Ney se queixa ao então assessor – considerado “braço direito” – de perder os “negócios”, mas sugere ter compromisso a cumprir. “Você sabe que eu deixei tudo na minha vida por esse projeto. Você sabe que eu não pensava estar nesta porra. Estou perdendo dinheiro, perdendo meus negócios para dar na mão dos outros por causa dessa merda. É um desafio para mim, tenho que levar até o final”, diz o hoje prefeito de Embu.
O áudio tem 1 hora e 12 minutos no total. Ney não fala só sobre as próprias “patifarias”, como define as decisões tomadas, mas também cita que um aliado, hoje chefe-de-gabinete de vereador de Embu, foi funcionário fantasma em uma prefeitura na região, aborda que um ex-assessor foi descuidado e teve informações pessoais acessadas por uma ex-funcionária que “começou a fuçar e pegou tudo” e acusa de crime donos de um site regional, entre outros assuntos.
Ainda durante a campanha, na reta final, um pequeno trecho do áudio foi lançado na internet por um ex-assessor que rompeu com Ney – em mais um capítulo da equipe “fratricida” de Ney, ele tinha recebido a gravação e a usou sem consentimento do autor. A parte vazada é justamente aquela em que Ney fala que não precisa de 200 candidatos, apenas “30 caras doidos que nem eu” para ganhar a eleição e cita os R$ 12 milhões”, mas não revela o “investidor”.
No áudio, Ney conversa com Elias na presença do presidente do PR de Embu, Léo Novais, que virou secretário de Serviços Urbanos. Léo ocupa o cargo até hoje, de forma “camuflada”, depois de ser anunciado que se afastaria para se dedicar à candidatura a deputado federal. Ele ficou e usava a estrutura da pasta para se lançar. Ele caiu, porém, em “desgraça” e desistiu de concorrer no último dia 23. Mas, “ouvinte” da delicada revelação, segue em alta conta com Ney.
Em maio do ano passado, a juíza Tatyana Teixeira autorizou a quebra de sigilo fiscal de Ney, do vice Dr. Peter (PMDB) e outras três pessoas na ação de investigação eleitoral sobre abuso do poder econômico e político de Ney e Dr. Peter nas eleições. A magistrada justificou que “o que se discute nestes autos é justamente a utilização de dinheiro de origem ilícita na campanha eleitoral de ambos, sendo indispensável, pois, a verificação da evolução patrimonial dos mesmos”.
A ação eleitoral, de dezembro de 2016, corre à parte e não se refere ao processo a que Ney responde, denunciado pelo MP por tráfico de drogas, associação a facção criminosa e lavagem de dinheiro. Contudo, a investigação do pleito se origina na denúncia criminal, já que o MP já apontava que parte da campanha de Ney-Dr. Peter foi financiada com dinheiro do crime. A diplomação chegou a ser suspensa, mas o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concedeu uma liminar.
A juíza tomou a medida de quebra de sigilo fiscal ao se manifestar sobre o pedido da defesa para que desconsiderasse como prova contra Ney e Dr. Peter o áudio. Ela não acatou e pediu “prova pericial da conversa entre Leo Novais e Elias Ferreira de Melo Pereira” e marcou para ouvir as testemunhas arroladas pelas partes em junho. Mas a audiência não se aprofundou. “Falei o que me perguntaram. Nada demais. Sem muita coisa comprometedora”, disse Elias ao VERBO.
A gravação entregue pelo MP, também, seria o trecho reduzido. Como revelou o VERBO à época, Ney diria no diálogo gravado a origem ilegal dos recursos e o principal financiador, um membro de uma facção que depois iria cobrar o “investimento” feito ao longo do governo. Ney negava, mas confirma na parte do áudio inédita. Após revelar ter R$ 1,6 milhão em espécie, ele declarou ter gasto na campanha R$1.244.870,00 – bem aquém dos R$ 12 milhões confessados.
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