RENATA GOMES
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O diretório do PT de Embu das Artes destituiu na terça-feira (3), oficialmente, o vereador Doda Pinheiro da liderança da bancada do partido na Câmara, menos de uma semana depois de o parlamentar contrariar decisão partidária e votar, na quarta-feira (27), a favor da criação da taxa de lixo proposta pelo prefeito Ney Santos (PRB). A direção também autorizou a abertura de processo para analisar a conduta de Doda. Para o partido, houve “quebra de confiança”.
A decisão da retirada de Doda da liderança do PT na Câmara foi tomada em reunião no domingo (1º) e oficializada no novo encontro dois dias depois, marcado em caráter extraordinário, devido ao grande mal estar no partido, com a presença do vereador. Doda, parlamentar em segundo mandato, que foi presidente da Câmara (2013-2014), foi substituído no posto pela vereadora Rosângela Santos, a mais votada para a Câmara em 2016, para primeiro mandato.
O atrito entre o PT e Doda tinha sido amenizado com as desculpas do vereador ao partido “em partes”, como publicou o VERBO. Em reunião no dia 3 de setembro, Doda disse que não devia ter exposto o partido, em público, ao discursar que os governos Geraldo Cruz e Chico Brito não cobraram a taxa de lixo para o partido se manter no poder – ele não retirou, porém, a acusação. Com o voto de Doda a favor da taxa, a discussão sobre possível expulsão dele voltou.
O presidente do PT de Embu, Gabino Silva, disse que a análise sobre a conduta de Doda será encaminhada à Comissão de Ética. “Para o partido, teve quebra de confiança, e o primeiro ato que o partido – não o presidente – fez foi reunir a executiva, com a bancada, e resolveu tirar o Doda de líder. Como presidente, não determino, eu abro a porta para que a coisa aconteça, convoquei o diretório domingo para que discutisse se teve algum deslize do vereador Doda”, explicou.
“É o que vamos fazer agora, em cima do artigo 67 e 227 do Estatuto Social do PT, abrimos a discussão, o processo. Vamos dar total condição para o Doda se defender, seguir todos os trâmites legais, e a Comissão de Ética determina a posição e retorna ao diretório. Na minha visão, a quebra de confiança do vereador Doda foi grave, mas não é o presidente que diz sim ou não. Quero deixar claro que foi uma decisão de todo o partido, e não do presidente”, disse.
Segundo Gabino, o líder tem que seguir o partido. “Líder de bancada representa a bancada e o partido junto à Câmara. Se representa, é cargo de confiança, vai falar o que o partido pensa. Pode até ter opinião pessoal, mas tem que seguir aquilo que o partido determina”, declarou. Ele disse que o PT orienta a bancada a votar projetos que beneficiam a população. “Mas tudo o que vai onerar e for ruim para a população, o partido vai orientar que vote contra”, afirmou.
Em entrevista exclusiva ao VERBO, Doda disse respeitar a decisão do partido de o destituir da liderança da bancada. “Eu respeito a decisão do partido, tanto a executiva como o diretório têm autonomia de indicar um novo vereador”, respondeu. Ele enfatizou que tomou uma decisão que pode se acertada ou não, mas que não foi incoerente, já que, segundo ele, os vereadores haviam aprovado um requerimento pedindo para ser revista a taxa de lixo e isso foi feito.
“O que eu fiz não é absurdo, tínhamos aprovado um requerimento na Câmara, inclusive com a aprovação dos outros vereadores do PT, pedindo para que o governo revisse a forma de cobrança da taxa de lixo, se tínhamos que cobrar, que fosse uma cobrança com maior equidade. E é o que foi feito, vai ser cobrado a partir do ano que vem pelo metro quadrado da construção, que acho que é mais justo”, argumentou Doda, ao reafirmar a aprovação à criação do tributo.
Doda disse ter a visão de que a taxa de lixo aprovada vai favorecer os mais carentes. “A maioria das casas na cidade tem menos de 150 m², a taxa vai ficar menos de R$ 200 no ano. Uma taxa que seria de R$ 418 vai ficar metade do valor. Então não vejo nenhuma incoerência, incoerência é votar um requerimento pedindo a mudança, aí a mudança é feita e se vota contra. Mas respeito o voto de cada um e que cada um assuma as consequências da sua decisão”, disse.
Doda rechaçou o processo. “O PT não está em condições de expulsar ninguém, temos é que fazer um trabalho para trazer novos filiados, até para fortalecer a base novamente e ter condições de disputar as eleições na cidade e voltar a ser governo. Num ano pré-eleitoral, como vai abrir mão de mandado de um vereador que pode ser até candidato ou ajudar alguém, que não seja o Geraldo. Eu não tenho como apoiar alguém que trabalha pela minha expulsão”, afirmou.
Na sessão nesta quarta-feira (4), bem no início, o vereador Edvânio Mendes anunciou que o PT deliberou que a nova líder da bancada é a vereadora Rosângela. Doda logo pediu a palavra e reagiu à decisão. “A liderança da bancada é escolhida pelos parlamentares eleitos. Mesmo o partido fazendo esse encaminhamento, eu já renunciaria à liderança do PT por não concordar com alguns encaminhamentos que estão sendo feitos em nível do meu partido”, retrucou.
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