ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Revoltados com a taxa de lixo criada pelo prefeito Ney Santos (PRB), cerca de 500 moradores de Embu das Artes lotaram a Câmara Municipal e protestaram contra a cobrança do tributo na noite desta quarta-feira (2), na volta do Legislativo do recesso parlamentar. Em mobilização que chamaram de “histórica”, eles gritaram “Taxa de lixo, não!” e “Fora, ‘Neytaxa'” e tacharam vereadores de “traidores do povo”. O presidente Hugo Prado (PSB) encerrou a sessão.
Ney criou a taxa de coleta e remoção do lixo por meio de decreto que assinou no dia 7 de julho, sem alarde, sem audiência pública e em pleno recesso da Câmara, onde a população poderia pressionar para anular a cobrança. Com o ato, o contribuinte será obrigado a pagar mais um imposto, e já a partir deste mês. O valor é de R$ 174,35, que pode ser pago em cinco parcelas, a primeira no próximo dia 20 de agosto. Em 2018, a taxa prevista é de pelo menos R$ 418.
Bastantes exaltados, os moradores contrários à taxa do lixo tomaram o plenário da Câmara e “acuaram” no canto do recinto os funcionários da prefeitura nomeados por indicação política, que foram convocados pelo prefeito Ney para confrontar as manifestações contra ao governo, mas com a pressão popular calaram, atônitos. Os manifestantes gritaram e impediram o presidente de falar. Um vereador da mesa teve de se esguelar para secretariar os trabalhos.
Com o tumulto, Doda Pinheiro (PT) propôs que os vereadores ouvissem uma comissão da população antes de seguir o regimento, mas Hugo decidiu continuar a sessão. Com o presidente – aliado de primeira hora de Ney – como principal alvo do protesto, chamado de “traidor” e “vendido”, moradores chegaram a jogar moedas no plenário. Os vereadores se retiraram para uma reunião. Na volta, Hugo anunciou que a sessão estava encerrada por impedimento dos trabalhos.
Atrás de apoio da Casa contra a taxa, os moradores chamaram os vereadores de “covardes” ao saírem e prometeram voltar na próxima sessão com número maior de pessoas enquanto o imposto não for revogado, sem se intimidar com guardas municipais no plenário, um – identificado como comandante da GCM, Marco Viana – com escopeta em punho. Moradores rasgaram carnês da taxa em vários pedaços, que ficaram no chão no espaço de votações dos vereadores.
Após deixarem o plenário, os moradores fecharam a rua em frente à Câmara e continuaram a gritar palavras de ordem contra Ney, que enfrenta um dos maiores protestos da história de Embu com apenas sete meses de governo – desde fevereiro, quando assumiu a prefeitura após ficar foragido, denunciado por elo com o crime organizado. “Hoje, fomos vitoriosos, mas quarta que vem vai ser maior, vamos chamar o vizinho que não veio por medo”, disse um manifestante.
Um morador criticou Ney dizer que a taxa foi criada em gestão anterior. “Quem decretou e mandou o carnê para nós foi o atual prefeito, não adianta fugir da responsabilidade. Os vereadores também são responsáveis, não estão aqui para serem anexo do gabinete do prefeito, mas representar o povo e fiscalizar a prefeitura. Não tem negociação, tem que revogar! É continuar a pressão e tomar medidas judiciais, além de tudo o decreto é inconstitucional”, discursou.
Um morador disse que a reação contra a taxa do lixo não é de partidos. “Não tem partido à frente desta manifestação, porque já vieram falar comigo que o movimento vai enfraquecer por ter partido à frente. Não tem, ninguém está me representando, eu estou aqui atrás dos meus direitos. Se tem uma vereadora que está com o povo, ótimo, mas não se deve fazer propaganda de partido nenhum”, disse, ao se referir a Rosângela Santos (PT), participante da mobilização.
O grupo expressou indignação com falas de secretários de Ney, Jones Donizette e Renato Oliveira, de que os contrários à taxa “não enchem uma kombi” e a estenderam aos vereadores. “Chamaram a vereadora Rosângela lá e falaram que aqui só tinha meia-dúzia de Embu. Quem é de Embu levanta a mão! A meia-dúzia de politiqueiros que falaram está se transformando em toda a população de Embu revoltada com os desmandos do ‘Neytaxa'”, disse o líder Ivo Amorim.
“Enquanto eles não decretarem a revogação imediata da taxa de lixo, a gente não vai sossegar, e tem que se preparar para estar de novo aqui na quarta-feira. Ele [Ney] convoca os comissionados. A gente convida a população”, completou Amorim, que pediu uma salva de palmas “à única vereadora que ficou do lado do povo, a vereadora Rosângela”. “Esse momento é histórico, é a população se organizando, eu nunca vi isso na história de Embu das Artes”, falou Rosângela.
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