ALCEU LIMA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Centenas de moradores de Embu das Artes protestaram no domingo (30) em frente à prefeitura (centro) contra a taxa de lixo, criada pelo prefeito Ney Santos (PRB), em manifestação em que exibiram cartazes, nariz de palhaço, sacos de lixo (vazios) e também carnês já enviados às residências e outros imóveis pelo governo municipal. O tributo começa a ser cobrado agora em agosto, no valor de R$ 174,35 em 2017. No ano que vem, a taxa deve ser de pelo menos R$ 418.
Manifestantes gritaram “Taxa de lixo não!” e criticaram o governo Ney, com resposta a fala de secretários de que o protesto era da oposição. “Estamos aqui por um só objetivo, a revogação já, brecar a taxa do lixo. Não adianta virem nas redes sociais e falarem que este manifesto é de partido. É o povo que está reivindicando o direito de não pagar essa taxa absurda que o prefeito criou na calada da noite junto com seus marqueteiros”, disse o morador Ivo Amorim.
Moradores chamaram Ney de prefeito que “não tem dó do povo mais pobre” e apontaram que o total a ser arrecadado é exorbitante – em 2018 chegaria a mais de R$ 28 milhões. “Tem gente que não tem condições nem de comprar um alimento, quanto mais pagar essa taxa absurda de lixo. Vocês já fizeram a conta de quantas casas têm em Embu das Artes? Multiplique pela taxa de lixo e veja quantos milhões vão entrar nessa conta”, disse moradora do Jardim Magali.
Um morador do Santa Emília lembrou o processo a que Ney responde. “Ele sujou a imagem da gente de Embu, passou no ‘Fantástico’, somos conhecidos no mundo inteiro como a cidade do prefeito bandido, do crime. Agora, ele quer fazer eu tirar da boca do meu filho um alimento para pagar essa taxa, com o dinheiro eu poderia levar meu filho para lazer. E aqui na cidade o lixo toma conta da calçada, que a gente tem que andar no meio da rua. É uma vergonha”, protestou.
Uma moradora questionou fala de Ney da necessidade da taxa por causa da dívida do município. “A prefeitura está endividada? E por que tem os cargos altos aí? A família do Ney Santos está todinha aí, ganhando R$ 9 mil, e quer tirar das nossas costas? Da minha não vai tirar, não aceito. Tenho vontade de chorar”, disse, quase aos prantos. Ela chegou a dizer que o ex-prefeito Chico Brito pode ter deixado dívida, “mas recebia os munícipes, tinha respeito com as pessoas”.
Já uma moradora do Vazame disse que o prefeito não vai mais aos bairros após medidas como a taxa do lixo. “Ele apareceu nas ruas quando queria enganar o povo, apareceu com cara de santo para pedir voto. Por que hoje ele se acovardou, está escondido? Mostra a cara!”, desafiou. No dia anterior, sábado (29), em um hotel, Ney reuniu secretários e funcionários nomeados por indicação política para determinar e instruir que convençam a população a pagar a taxa.
Única parlamentar presente ao protesto, a vereadora Rosângela Santos (PT) também não economizou nas críticas a Ney, criador da taxa, mas que tenta negar a “paternidade” do tributo e culpar governos petistas. “[A taxa] Foi feita em 1997, atualizada em 2007, mas a gestão do PT não utilizou a taxa. Consta no código tributário, mas quem fez o decreto e está implantando é o governo atual, e de forma arbitrária para a população”, disse, ao apontar esperteza do governo.
“O decreto foi feito dia 7 de julho, a informação no site da prefeitura foi dia 19 de julho. A primeira parcela já é dia 20 de agosto. Gente que não acessa sites e redes sociais só ficou sabendo quando chegou o carnê em casa. A revolta é total. O governo não dialoga, simplesmente decide e joga para a população pagar”, afirmou Rosângela, aplaudida no ato. “Ela pertence a um partido, mas está aqui em defesa do povo como os outros 16 vereadores deveriam estar”, exaltou Ivo.
Depois, os moradores caminharam por trás da prefeitura até a praça central, no Centro Histórico, lotado de turistas. Na entrada, discursaram contra a taxa e o governo, diante dos visitantes, que olhavam curiosos. “Vamos entrar na feira de artesanato para falar para vocês que o prefeito Ney Santos decretou na calada da noite a taxa de lixo que é mais cara que o IPTU, para mostrar os desmandos deste prefeito”, falou Ivo, quem convocou a manifestação, pelas redes sociais.
O presidente da Acise (associação empresarial) de Embu, Hillman Albrecht, se solidarizou com “clamor popular”. “Vendo que nas redes sociais 90% das reclamações são contra a taxa e empresários têm cobrado uma posição da entidade, estamos analisando junto com a OAB entrar com uma ação”, disse. A organização orientou moradores a passar cópia do carnê para ingresso na Justiça e falou em queimar os carnês em protesto na Câmara, nesta quarta-feira (2), 18h.
> Compartilhe pela fanpage do VERBO ONLINE