ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, no Pirajuçara, em Taboão da Serra
A 16ª Paixão de Cristo no Pirajuçara teve narrativa em formato de musical e encantou o público que, com olhar vidrado, acompanhou a épica dramatização dos ensinamentos, sofrimento e morte de Jesus, nesta Sexta-feira Santa (14). Em rua ao lado do Poupatempo, com a atuação de cerca de 100 atores e em exatas duas horas de duração, a encenação dos últimos passos do fundador do cristianismo se desenrolou em 13 grandes cenas e comoveu cerca de mil espectadores.
A 16ª Paixão começou já ao som de música, com uma jovem cantando em introdução da história da “presença de Deus” entre a humanidade, para em seguida mostrar a entrada de Cristo, que – acompanhado pelos apóstolos – surgiu atrás do público, em representação da chegada triunfal a Jerusalém em meio ao povo com ramos nas mãos. Depois, Jesus expulsou os mercadores que fizeram do templo local de comércio, cena impactante nova na edição neste ano.
A encenação seguiu com a entrada de Cristo no templo para ensinar, reunião de Caifás com os sacerdotes para tramar contra Jesus, a última ceia com os doze apóstolos – instituição da eucaristia (presença do corpo de Cristo na hóstia consagrada). O ato continuou com a traição de Judas, que teve cena destacada com canto de arrependimento. Outra parte marcante foi a da tentação a Cristo, com aparição do diabo, e agonia de Jesus na iminência da “hora capital”.
Após ser levado a Herodes e de novo a Pilatos, que o condenou à morte, Cristo carregou a cruz sob açoites pela estreita rua Carlos Fernandes, em subida – um motorista manobrou o carro ante o cortejo de flagelação. No trajeto, o público se impressionou com Judas enforcado em uma árvore. Jesus foi levado até a entrada da Igreja São Lucas, em ponto alto, e foi crucificado. Maria cantou em dueto com o discípulo João e limpou o sangue do filho, em alta carga dramática.
A 16ª Paixão foi encenada – com a “missão” de evangelizar – por um elenco amador, formado por fiéis da paróquia na região (São João Batista), e recebeu elogios. “Toda a apresentação foi bonita, de todos, até do Judas pendurado ali”, disse João Batista Rodrigues. “A parte que mais me emocionou foi quando eles bateram em Jesus. Aí que a gente vê o sofrimento dele, pensar que ele passou por tudo isso por nós, e somos tão falhos com ele”, refletiu Jucilene Reis.
A cantora litúrgica Cátia Costa, que estreou na Paixão e viveu Maria, estava em êxtase. “É difícil até de falar, apesar de ser uma interpretação, é como se tivesse sentindo um pouco as dores que ela sentiu, o sofrimento do filho na cruz. E com aquela obediência que ela tinha, em momento algum ela questionou a vontade de Deus, esteve ao lado do filho até o fim. É uma história de muito amor que inspira a gente todos os dias. Fico muito feliz de ter feito parte”, disse.
Também estreante, o cantor litúrgico Ricardo Santos interpretou Jesus, mas de início relutou por achar “que não tinha perfil”. “Achava que precisava ter maturidade, espiritual até. Depois, veio o medo, afinal de contas é a figura mais importante, que é Jesus. Foi uma mistura de sentimentos, de não querer, depois entender que dava para representar, mesmo bem pouco, aquilo que ele fez, transmitir serenidade, bondade através dos gestos. Foi espetacular”, disse.
Com dificuldades como compor elenco e produzir o próprio palco, a direção atribuiu a realização a “providência divina”. “A gente sempre teve muitas ideias, todos os planos, mas depois de tudo que vivemos agora, foi só por Deus mesmo, ele quis que acontecesse, a gente só agarrou a missão, só obedeceu. A gente quis passar de outra jeito o ensinamento do evangelho para atingir as pessoas e pôde ver alguns rostos muito felizes”, disse a diretora de elenco Josy Matos.
A diretora-geral Claudilene Santos disse que a equipe “sonhou” no ano passado com o musical e realizou. “Batalhamos desde agosto para que acontecesse, e hoje foi lindo, passamos o evangelho, como a gente fala, quem canta reza duas vezes. Foi muito emocionante, cumprimos a nossa missão hoje”, disse, ao destacar que nenhum dos 22 atores que atuaram cantando tinha participado da Paixão antes e mais da metade do elenco representou pela primeira vez.
Fiel a bíblia, a Paixão no Pirajuçara tem o ato da ressurreição – “ao terceiro dia” – só neste domingo, no mesmo local e horário. Terá duração de cerca de uma hora, em vez dos 15 minutos das edições anteriores. “Vai ser uma ressurreição maior, com mais cenas, e muito emocionante também”, disse Claudilene. “No domingo a gente vem com espírito diferente, de alegria, de esperança. Podem aguardar que vai ter muita música, muita alegria”, prometeu Cátia, a Maria.
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